Tecnologia

Novos desafios no universo das supermáquinas de IA

Data driven e discussões sobre ética estão entre os trends do mercado

Crédito: Pavel Danilyuk-pexels  |  Divulgação

Por Victoria Ribeiro

À medida que o próximo ano se aproxima ­— a contar da data de capa desta edição, faltam somente dez semanas —, as novas tendências vão sendo desenhadas. E a expectativa é que a inovação tecnológica no setor de dados ganhe amplitude. Vice-presidente da Cloudera para a América Latina, Rubia Coimbra poderia dar declarações desprovidas de conteúdo como “o mercado está em constante evolução e as empresas precisam estar atentas para se manter competitivas”. Mas ela prefere ir ao DNA da sua corporação, criada nos Estados Unidos em 2008, e cuja missão prega “facilitar a análise e o acesso de dados para todos”. E quando se trata da mistura entre dados e inovação, é comum pensar em inteligência artificial (IA). Afinal, ela está para os dados assim como X está para Y. Para ela, é preciso ir além. “IA tem sido tópico em alta, mas pouco se discute sobre o data driven, que passa por várias fases antes de chegar, de fato, na IA.”

Coimbra acredita que a “inteligência será de fato inteligente quando houver um olhar para a qualidade dos dados”. De acordo com ela, isso ressalta a necessidade de estabelecer bases sólidas e confiáveis para a IA. Afinal, a inovação não se limita apenas aos produtos finais. É preciso incluir a parte estruturante, os alicerces, como a engenharia dos dados, responsável pela curadoria das informações antes de disponibilizá-las para serem consumidas por aplicações. “O dado é a principal matéria-prima”, disse. “Seja para resolução de problemas, ganho de produtividade ou até expansão de receita.”

Para a executiva, as empresas já estão buscando um entendimento mais pragmático de quais serão os próximos passos ou até mesmo alguns cuidados que precisam ser tomados quando se trata da adoção de IA. Com base nisso, e pensando na relevância dos dados, a Cloudera elencou cinco tendências para o mercado de dados e, consequentemente, para o mundo da tecnologia e da inovação. “Hoje, é seguro dizer que a estratégia da empresa é sua estratégia de dados.” Coimbra diz que essa máxima vai seguir se fortalecendo de maneira exponencial com a popularização da inteligência artificial generativa. A seguir, as cinco tendências apontadas por ela. Algumas não são novidades, mas são (re)confirmações de seu papel cada vez mais decisivo.

Nuvem híbrida e multicloud

De acordo com pesquisa realizada pela Cloudera em agosto deste ano, 73% das organizações relataram utilizar um ambiente híbrido, combinando armazenamento em nuvem pública e privada. De forma mais simplificada, conforme explica Rubia Coimbra, a nuvem híbrida permite a integração de ambientes locais e em nuvem, adaptando-se às necessidades específicas de cada aplicação, enquanto a multicloud oferece a diversificação de provedores de nuvem, reduzindo o risco de dependência de uma única plataforma. “É uma boa tendência porque demonstra maturidade de mercado”, afirmou a executiva da Cloudera.

Governança de dados

Considerada a ‘bola da vez’, a governança de dados envolve a definição de políticas, procedimentos e responsabilidades para garantir qualidade, integridade e segurança dos dados. E na equação é preciso trazer os parâmetros estabelecidos com a chegada da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Um bom exemplo é a tal governança de dados. “É a governança que vai estabelecer as regras para coletar dados de consumidores, armazená-los, acessá-los, tratá-los e compartilhá-los somente para as áreas corretas da maneira adequada e sempre tendo em vista as legislações”, afirmou Coimbra. Segundo informações do Google, nos últimos três anos, as consultas sobre o tema na plataforma de busca dobraram, atingindo o maior patamar em abril deste ano. Para ela, em um mundo onde a IA generativa deve permear praticamente todos os negócios e no qual os dados se movimentam em tempo real entre diversos ambientes, “é inevitável e necessário que exista ou ao menos se discuta sobre a governança.”

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“Inteligência só será de fato inteligente quando houver um olhar para a qualidade dos dados” Rubia Coimbra VP da Cloudera

Influência do consumidor

“Os consumidores contemporâneos não se limitam a simplesmente adquirir produtos”, disse Rubia Coimbra. Além disso, existe o anseio por experiências customizadas, conveniência e valores alinhados com as necessidades. Essa busca engloba diversos aspectos, incluindo design, rapidez e sofisticação. “Compreender profundamente o que os consumidores realmente buscam tornou-se uma necessidade imperativa”, afirmou a executiva. Nesse contexto, a análise de dados desempenha papel crucial. Permite que as empresas capturem informações essenciais sobre o comportamento do consumidor e respondam com ofertas feitas sob medida. Ela enfatiza isso ao mencionar análise de sentimentos em mídias sociais, jornada do cliente e capacidade de personalização em tempo real. “Essas estratégias capacitam as empresas a se conectarem de maneira mais profunda e significativa com os clientes, construindo relações duradouras e impulsionando o sucesso no mercado.”

Colaboração geradora de valor

Para Coimbra, a colaboração é força motriz fundamental para o sucesso. “Quando ouvimos atentamente as necessidades das pessoas e as transformamos em produtos ou serviços escaláveis, podemos criar soluções que realmente atendam às demandas do mercado”, afirmou. Nesse campo ela cita a comunidade Open Source. Alguns dos benefícios, de acordo com a vice-presidente da Cloudera, é a liberdade que as empresas têm para contribuir com melhorias em algum tipo de tecnologia sem a necessidade de estarem aprisionadas a uma propriedade intelectual. “A inovação do Open Source é algo vibrante”, afirmou.

Capacitação ética em IA

Por fim, na visão da executiva, a capacitação dos recursos humanos é essencial para promover a ética na inteligência artificial. A cultura de aprendizado contínuo e a criação de programas de capacitação são necessárias para acompanhar a rápida evolução tecnológica. E isso ajuda a garantir que a IA seja desenvolvida e utilizada de maneira adequada, considerando aspectos como viés algorítmico, privacidade, transparência e as exigências da governança de dados. “A ética não é apenas uma responsabilidade, mas também uma vantagem competitiva.”