As melhores da Dinheiro 2023

Na companhia de saneamento do Ceará, a estratégia passa pelas mulheres

Participação feminina no quadro de funcionários da Cagece salta 86% entre 2005 e 2023 e mostra que lugar de mulher também é cuidando das águas

Crédito: Divulgação

Preparar, qualificar e dar suporte. Esses são os pilares da Cagece para garantir que a média de tempo trabalhado na empresa esteja em 22 anos (Crédito: Divulgação)

Destaque da Gestão Recursos Humanos – Cagece

Por Paula Cristina

Há um entendimento quase inerente à cultura que vivemos de que as mulheres nascem e crescem para cuidar. Dos filhos, do marido, da casa. Mas e quando uma mulher ousa cuidar de milhões de pessoas ao mesmo tempo? Bom, é assim que as mulheres que trabalham na Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) entendem o trabalho que exercem. Com elas espalhadas em todas as funções e cargos, a presença feminina tem dado ao masculino universo do saneamento básico um olhar diferente para um serviço que, se ficasse limitado a furar poços e atravessar canos, perderia o sentido da própria existência: cuidar da população. E com isso em mente a Cagece tem promovido grandes quebras de paradigmas. Uma delas foi elevar, entre 2005 e 2023, em 86% o número de mulheres em cargos de supervisão, coordenação, gerência, ouvidoria, chefia de gabinete, superintendência e diretoria.

Uma dessas mulheres é Cláudia Caixeta Freire, diretora de Mercado, que está há mais de 20 anos na Cagece e é a quarta mulher a ocupar cargo de diretoria na empresa.

Segundo ela, ainda que o começo não tenha sido fácil, acompanhar a mudança da cultura e a melhora do ambiente de trabalho para mulheres a motiva todos os dias a continuar e incentivar que outras batalhem por seus espaços.

A executiva, que já havia passado pela:
• gerência de meio ambiente,
• gerência de desenvolvimento empresarial,
• comitê de assessoramento estratégico,
• gerência de responsabilidade e interação social

Agora, na diretoria de mercado, também possui um doutorado e uma filha. Uma jornada intensa e possivelmente mais dura que a de homens que tentassem reproduzi-la, mas talvez por isso tão digna de ser exaltada.

Sobre o olhar feminino em uma área majoritariamente masculina como o da infraestrutura, Cláudia destaca a forma como a mulher consegue entender a aplicar o paradoxo entre a dureza da construção civil de grandes obras e o olhar humano de levar água e esgoto às pessoas.

“Por mais duras e firmes que as mulheres precisem ser, de modo geral elas veem não só o lado técnico, mas o humano.”
Cláudia Caixeta Freire, diretora de Mercado

A história de Cláudia é um exemplo, mas não é o único. A Cagece tem mulheres em todas as áreas, inclusive as automaticamente remetidas a homens, como motorista de caminhão e operadores de máquinas.

Segundo Neuri Freitas, presidente da companhia, essa conduta faz parte de uma proposta da empresa de trabalhar com maestria questões que envolvam equidade. O resultado, explica, pode até ser incentivado pela empresa, mas o mérito é todo delas. “Ao longo do tempo a gente foi observando muitas mulheres se destacando e assumindo o protagonismo e a liderança em muitos processos e áreas”, disse Freitas.

Se as coisas caminham bem na Cagece, quando olhamos o mundo esse caminho não é assim tão óbvio e produtivo. Uma pesquisa de 2020 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) revelou que os setores que envolvem saneamento básico estão entre os com menor inserção de mulheres. Na média mundial, apenas 31% dos cargos eram ocupados por mulheres.

Quando o recorte é feito entre cargos de gestão e chefia, o número recua para 18%. Nas cadeiras de presidente ou diretoria, apenas 6% são mulheres.

Apesar de não ter um recorte específico do Brasil, a OIT alerta para os países emergentes e da América Latina que possuem um grande potencial de avanço do saneamento básico e têm a oportunidade de fazer o que os países mais desenvolvidos não fizeram.

“As mulheres são as que mais sofrem com a falta de água potável e esgoto. Elas sabem como economizar água. E o valor dela. Não tê-las neste mercado não é só misoginia, é falta de visão”, dizia o relatório da OIT.

Nessa toada de que uma mulher no poder tem a capacidade de puxar para cima tantas outras, a Cagece faz valer a máxima de que as mulheres, assim como as águas, crescem quando se juntam.

Contingente

Atualmente a Cagece tem 1.171 empregados próprios, 51 aprendizes e 303 estagiários. Além disso, são 4.687 colaboradores terceirizados. O tempo médio de anos trabalhados na empresa está em 22, um número expressivo e reflexo da política de benefícios e ascensão profissional bem estruturada.

Segundo a companhia, os funcionários da empresa possuem:
• assistência médica, odontológica e psicológica,
• reembolso de medicamentos,
• auxílio-creche,
• previdência complementar,
• complementação de auxílio doença,
• em alguns casos, auxílio moradia.

Também são oferecidos auxílio aos pais com filhos portadores de deficiência, liberação de até 15 dias para acompanhar familiares a tratamento hospitalar e auxílio para o tratamento de alcoolistas.

Amparados pelas empresas, os funcionários têm suporte para participação em cursos de capacitação e um plano de carreira que relaciona tempo de serviço, qualificação profissional e avaliação de desempenho. Um caminho tão promissor quanto o das águas que atravessam o Ceará.