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“Inovação chega mais rápido a outros países da AL do que ao Brasil”, diz Bárbara Toledo, da Intel América Latina

País depende muito da fabricação local por causa da taxação, justifica a executiva

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Bárbara Toledo, a nova diretora da Estratégia de Consumo & Varejo para a Intel América Latina: "Nossa receita ainda é majoritariamente focada em notebooks para o usuário final, seja ele corporativo, seja ele o consumidor final" (Crédito: Divulgação)

Por Victória Ribeiro

Com currículo diverso, que vai do processamento de dados ao marketing, Bárbara Toledo acaba de se tornar a nova diretora da Estratégia de Consumo & Varejo para a Intel América Latina. A executiva tem 20 anos na multinacional de tecnologia, cuja receita no terceiro trimestre foi de US$ 14,2 bilhões — analistas esperavam US$ 13,5 bilhões. Assumidamente apaixonada pela área de tech, em entrevista à DINHEIRO Bárbara falou sobre os principais motivos por trás da importância estratégica da região e, principalmente, sobre inteligência artificial (IA). De acordo com ela, a expansão de mercado é um de seus principais desafios no novo cargo. “Espero fazer com que a Intel tenha um olhar especial para a América Latina”.

Na sua avaliação, qual a importância estratégica do Brasil e da América Latina quando se trata de consumo?
É um mercado muito relevante. Se nós observarmos o volume de vendas de PCs, temos o Brasil ocupando a quarta posição [global]. Internamente, eu brinco com o pessoal e digo que há um certo conservadorismo. Há uma perspectiva de crescimento de um dígito para o ano que vem, mas acredito que vamos além. Ao mesmo tempo, um segmento que tem crescido bastante, que a Intel também tem investido na América Latina, trazendo inclusive campeonatos globais, é o mercado gamer. É um mercado em evolução e no qual acreditamos muito.

E quando o assunto é varejo?
A gente tem grandes varejistas. Lembro de uma conversa com o time global em que questionei se conheciam a maior influenciadora digital do mundo. Eles responderam ‘como assim?’. Mostrei a eles a Lu, do Magalu, em uma foto na Times Square. É uma superinovação em termos de comunicação, posicionamento do varejo local. Quando falamos do modelo de vendas, a gente tem o marketplace superdesenvolvido no Brasil. Falamos de grandes varejistas globais, como é o caso da Amazon, mas temos uma multinacional latino-americana que está transformando o modelo de vendas e revolucionando a questão logística em diferentes países, que é o Mercado Livre. Esses dois são ótimos exemplos sobre o potencial brasileiro e sobre a importância que damos para a construção de parcerias.

Atualmente, a Intel está focada em quais soluções? A IA é uma delas?
Quando se trata de soluções de software, inteligência artificial é um dos grandes assuntos. E o lema da Intel é que nós estamos democratizando a IA, disponibilizando nossas arquiteturas com antecedência para os desenvolvedores, para que eles possam tirar o melhor dos produtos que vão chegar ao mercado brasileiro no final de 2024, 2025, para que o sistema esteja pronto e possa entregar uma melhor experiência para o usuário.

Por falar em IA… o que está por vir?
Nós sempre falamos de CPU, que é a unidade central de processamento. Agora, em um único chip, você passa a ter três unidades diferentes. CPU, que todo mundo já conhece, a GPU, que é a unidade de processamento gráfica, e também a NPU, que é a unidade de processamento que vai garantir o que nós chamamos de TOPS, ou seja, o número de transações necessárias para garantir uma boa experiência em IA. Essa evolução tecnológica e essa capacidade oferecida pela Intel de embarcar com um único chip em diferentes sistemas vão garantir outro nível de experiência. Estamos falando de notebooks mais compactos, que vão usar menos energia e ter uma capacidade muito maior. É justamente nesse processo que estamos focados agora e é isso que vocês vão ouvir falar cada vez mais.

O brasileiro está pronto para o uso dessa tecnologia?
Eu acho que está caminhando. Dentro da lógica de varejo, eu posso mencionar dados de vendas de notebooks no Brasil. Mais de 80% são on-line. É um número bem maior que nos EUA. No marketing, nós trabalhamos com a intenção de melhorar a experiência do usuário.

A regulamentação da IA é uma das pautas no Congresso. Como o Marco Legal para IA pode impactar a Intel?
A Intel tem políticas muito importantes com relação à diversidade, sustentabilidade e quando nós dizemos que estamos democratizando a IA é no ponto de vista de disponibilizar a tecnologia para todos os desenvolvedores de software, facilitando a inovação. Nós sempre trabalhamos com plataforma aberta justamente para isso. Nosso pilar de diversidade, inclusão e responsabilidade social tem um papel muito forte para garantirmos que pessoas que estão escrevendo essas linhas de código sejam pessoas que representem a sociedade. A IA precisa ser treinada. E ela precisa ser treinada em cima da realidade. Então nós estamos participando dessas discussões e sempre trazemos o ponto da importância de ter uma visão aberta, democrática e diversa para que a IA seja ética e para que ela não tenha vieses que possam, de repente, nos direcionar a caminhos não desejáveis.

Quais os impactos da América Latina nas receitas da Intel? Quais os produtos mais consumidos?
Quando a gente fala do consumo na América Latina, a gente trabalha com sazonalidades que vão depender muito de governo, educação, saúde. Hoje eu diria que nossa receita ainda é majoritariamente focada em notebooks para o usuário final, seja ele corporativo, seja ele o consumidor final. Então é uma unidade de negócio relevante. Há muito tempo eu escuto aquela história de que o “PC morreu”, mas ninguém consegue matar o PC. Você sempre vai ter dispositivos complementares e provavelmente estaremos cada vez mais conectados. É o smartwatch, é o smartphone, é a smart TV. E o PC acaba sendo o centro de tudo isso.

Considerando o fato de que mulheres representam menos de 20% dos cargos de tecnologia, como você avalia a importância da diversidade, e não apenas de gênero, para a área?
A diversidade é essencial. Um dos exemplos disso é que um dos líderes de vendas de celulares na África tem como grande diferencial ter desenvolvido localmente um recurso próprio para selfies de pessoas de pele negra. Esse simples detalhe trouxe uma explosão de oportunidades no continente inteiro. É um exemplo que, por si só, explica a importância da diversidade. Nós somos diversos, possuímos características diferentes. E muitas vezes, a diversidade é uma oportunidade de negócio. Além disso, quando você exclui parte da população é essa parte que deixa de gerar PIB.

Quais seus objetivos no novo cargo?
Falando de forma até pessoal, um dos meus principais objetivos é fazer com que a Intel tenha um olhar especial para a América Latina. É uma região de muitas oportunidades. Então, um dos meus grandes objetivos é fazer com que o time global enxergue essa oportunidade para a gente cada vez mais viabilizar investimentos. Acho que esse é o crucial. Em segundo lugar, a gente não faz nada sozinho. Então, aumentar as parcerias, seja com os varejistas ou com o ecossistema dos fabricantes de computador, com os desenvolvedores de software, para que a gente possa ter inovação acontecendo aqui no Brasil.

E quando se trata de desafio?
O principal é expansão de mercado. Eu tenho dedicado muito tempo para entender os outros mercados e traçar paralelos. O Brasil, por exemplo, depende muito da fabricação local por causa da taxação. Isso não acontece no restante da América Latina. Então, esse gap diminuiu, mas a gente ainda vê a inovação chegar mais rápido nos outros países do contexto Latam do que aqui.