A arte também nos ensina a liderar
Por César Souza
A arte pode ser um bom veículo para melhor compreendermos o mundo a nossa volta e refletirmos como nele nos inserimos. Dessa fonte também podemos tirar importantes lições para o exercício da liderança, a partir da história, literatura e filosofia. Devemos incluir nesse rol o esporte, uma possível forma de expressão artística. Todas essas alternativas, além, obviamente, da análise dos casos práticos do cotidiano da trajetória de líderes, complementam e ilustram o aprendizado advindo de conceitos acadêmicos sobre liderança.
Afinal, as lições sobre lideranças podem ser apreendidas muito além da sala de aula e da leitura de livros técnicos. Várias metáforas advindas da arte podem estimular reflexões extraídas de filmes, peças teatrais, exposições, músicas, textos literários e eventos esportivos.
Na pintura, por exemplo, as obras vanguardistas de Leonardo da Vinci, Michelangelo, Claude Monet, Pablo Picasso e Tarsila do Amaral são fontes inesgotáveis de aprendizagem, com análises sobre a representatividade de vários de seus trabalhos. Considere ainda que a própria trajetória e comportamento desses artistas se tornaram exemplos marcantes do exercício da liderança.
A tela Impression, Soleil Levant, de Monet, pintada em 1872, foi um marco decisivo que inaugurou o movimento Impressionista, um momento disruptivo na história da arte. Já a personalidade e as obras de Leonardo da Vinci como pintor, escultor, arquiteto, matemático e inventor o consagrou como um precursor da liderança inovadora, transformadora e multifuncional tão requisitada pelo mercado nos tempos atuais.
A icônica escultura de Michelangelo, o David de 5,17 metros que está exposta na Academia de Firenze, pode servir como um convite à reflexão sobre o legado e o compromisso dos líderes em esculpir novos talentos e sucessores em uma empresa. Aliás, todo o período do Renascimento é uma fonte notável de inspiração sobre projetos de change management, que se utilizaram de novas tecnologias e se inspiraram na determinação de recolocar o Ser Humano no centro das atenções das obras de arte no entorno dos séculos XV e XVI.
Já no teatro, peças como 12 Homens e uma Sentença nos colocam de frente ao complexo processo decisório, incluindo a capacidade de influenciar e negociar, quando um júri popular está decidindo se condena ou não um jovem acusado de assassinato. Esta peça é baseada no famoso filme homônimo produzido em 1957.
Outro destaque é o monólogo A Sombra do Invisível, cujo roteiro é baseado em cartas trocadas entre Van Gogh e seu irmão Theo. A peça permite um belo mergulho em aspectos da autogestão, que persiste como uma espécie de calcanhar de Aquiles para líderes geniais na execução de tarefas e projetos, mas vulneráveis na capacidade de liderar a si próprio.
Outras obras teatrais muito marcantes em aprendizagens sobre valores, liderança e propósito são Galileu Galilei, A Morte do Caixeiro Viajante e Hamlet, de William Shakespeare. O monólogo Gandhi, um Líder Servidor, encenado pelo ator João Signorelli, permite uma emocionante jornada sobre estilos de liderança.
Obviamente, o cinema não fica atrás e pode provocar debates extraordinários no que tange a temas vinculados à liderança. Os filmes Invictus, O Diabo Veste Prada, Judy, sobre uma estrela brilhante no palco, Judy Garland, enquanto vivenciava uma lua minguante na sua vida pessoal, e Ford vs Ferrari, que enumera várias questões sobre competição das marcas, colaboração entre equipes, coragem, traição e dinâmica das relações familiares e sociais no campo do trabalho.
Sobre o tema sucessão em empresas familiares, muitos insights podem ser depreendidos ao assistirmos algumas séries como Succession, na Netflix, que pode ser magistralmente complementada com a leitura ou um vídeo da peça Rei Lear, de Shakespeare.
Essa forma de aprendizado, permeada pelo lazer e enriquecimento cultural, surge em várias outras manifestações da arte como dança, música e literatura. Todas, assim como diversas modalidades do esporte, são pródigas em lições para a liderança. Porém, esse já seria tema para um próximo texto.
César Souza é fundador e presidente do Grupo Empreenda