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Um novo olhar sobre Campos do Jordão

Reconhecido pela excelência em hospitalidade e gastronomia, Grupo Toriba inaugura Parque Bambuí, seu novo complexo de lazer, e cria suíte de luxo em um vagão de trem restaurado

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Sócio-diretor do Hotel Toriba, o empresário Aref Farkouh está à frente das grandes atrações da Serra da Mantiqueira (Crédito: Divulgação)

Por Celso Masson

Construído na década de 1940 para proporcionar uma experiência de turismo de luxo à elite paulistana que não podia viajar à Europa devido à Segunda Guerra, o hotel Toriba, em Campos do Jordão, consolidou ao longo de sucessivas décadas uma reputação de excelência em hospitalidade e gastronomia. Seus fundadores, o alemão Ernesto Diederichsen, que no Brasil se tornou um destacado empresário do setor têxtil, e o industrial Luiz Dumont Villares, que produzia aço e elevadores, possuíam vastas áreas de florestas ainda intocadas na região, onde a altitude chega a 1.780 metros.

Criaram um refúgio alpino cercado de natureza. Por gerações, o Toriba manteve sua aura de requinte e bom gosto, com amplas suítes, um restaurante cujas paredes preservam afrescos do pintor italiano Fulvio Pennacchi (1905-1992) e um tradicional chá da tarde em que récitas de música clássica atraíam famílias da alta sociedade.

Apesar de sua história de charme e sofisticação, o Toriba andou meio decadente até encontrar um novo sócio investidor. Nos últimos anos, depois de comprar partes que pertenciam a cinco dos herdeiros (apenas um deles, Alberto Lenz, se manteve na sociedade), o empresário Aref Farkouh tem feito do lugar bem mais que um hotel de alto padrão.

Além de ampliar as instalações com novos chalés e até um anfiteatro ao ar livre, ele adquiriu terras no entorno que formam uma área contígua de 100 alqueires.

Uma parte é ocupada pelo Sítio Siriúba, com 18 quilômetros de trilhas pontuadas por esculturas ao ar livre e uma charmosa capela de vidro.

Agora, um novo complexo de lazer se soma ao conjunto mantido por Farkouh: o Parque Bambuí. “Aqui a proposta é proporcionar aos visitantes uma imersão única na natureza e uma volta ao passado”, afirmou o proprietário durante um almoço à sombra de uma das árvores centenárias no jardim da Casa Bambuí.

O restaurante ocupa um casarão totalmente reformado para acomodar até 100 pessoas e tem no comando a chef Anouk Migoto, também proprietária do Donna Pinha, na vizinha Santo Antônio do Pinhal (leia mais no quadro em destaque).

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O casarão restaurado para abrigar o novo restaurante Casa Bambuí, que ganhou um salão com piano, a cozinha da chef Anouk Migotto, com um cardápio baseado em ingredientes regionais e sazonais, incluindo panelinhas que vão à mesa para resgatar memórias afetivas, e um bar onde são preparados drinques autorais (Crédito:Divulgação)

O novo empreendimento se soma às outras unidades de negócio do Grupo Toriba e abriu as portas há cerca de três meses. Ainda não está 100% completo. Faltam, por exemplo, os barquinhos a remo que serão disponibilizados a quem quiser se aventurar pelos lagos, a exemplo do que ocorre no Bois de Vincennes, em Paris.

Mas já funciona — a todo vapor, literalmente —, a Maria Fumaça de 1920 que transporta os visitantes do estacionamento de carros na entrada até o acesso à Casa Bambuí. Um trilho foi construído especialmente para essa finalidade. Quando estiver totalmente concluída, a ferrovia particular do parque terá 800 metros, circundando o lago principal.

Se parece um exagero o fato de o empresário ter comprado, restaurado e colocado em operação um trem particular em sua nova propriedade, é bom saber que vagões e locomotivas são uma das paixões de Farkouh.

Além da Maria Fumaça, ele recentemente inaugurou no Toriba um chalé em uma composição ferroviária. Com sala de estar, bar, dois dormitórios e dois banheiros finamente decorados, o Expresso Toriba foi inspirado no trem histórico Orient Express. Medindo 19 metros de comprimento por 3 metros de largura, o vagão-suíte repousa sobre os trilhos e dormentes de madeira centenários.

“Foi um grande presente do Rubinho Ometto para o Toriba”, disse Farkouh, referindo-se ao proprietário do grupo Cosan e da Rumo Logística, empresa que mantinha o carro ferroviário em Paranapanema, no extremo oeste de São Paulo.

“Um vagão histórico como esse merecia ser restaurado e não ficar parado num pátio”. Antes de receber e restaurar o vagão, outro trem havia sido adaptado por Farkouh para abrigar uma hamburgueria, a Estação Toriba, em frente ao hotel.

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Inspirado no Orient Express, o vagão de primeira classe foi reformado para abrigar um luxuoso chalé, com bar, sala de estar e duas suítes (Crédito:Divulgação)

Comer e beber bem

Ainda que a Maria Fumaça se destaque como uma atração peculiar do Parque Bambuí, a principal razão para visitá-lo é sem dúvida a gastronomia.

Com raízes francesas e italianas, Anouk Migotto é uma profunda conhecedora dos ingredientes da Mantiqueira e dos produtores locais. Seu menu degustação, de seis etapas (R$ 600 por pessoa) foi concebido com a clara intenção de evocar memórias afetivas, mas com algumas invenções inusitadas.

É o caso de Para andar nos trilhos, entrada composta de duas croquetas de cogumelos, duas coxinhas de truta defumada e dois bolinhos recheados com o regional Queijo Jordão. Tudo sobre uma miniatura de trilho de trem.

O prato principal (que pode ser truta, carne bovina ou uma opção vegana à escolha do freguês) é servido em pequenas panelas de cobre. “Quando chega à mesa, muitos clientes pedem uma colher e dispensam o garfo e a faca”, disse Migotto. “A sensação é de comer direto da panela no fogão da mãe ou da avó”. Pura nostalgia.

A sobremesa incluída no menu degustação é formada por cinco preparações e montada em uma gaiola de pássaro. A escolha da chef para apresentar seus doces faz referência à obra “Voo dos Pássaros”, de Eduardo Srur. Construída com mais de 1 mil gaiolas apreendidas em operações de combate ao tráfico de animais silvestres, ela estava instalada no Parque do Povo, na capital paulista, e foi transferida para o Parque Bambuí. “A obra de Srur também representa a nossa preocupação com questões ambientais e a valorização da arte no espaço público”, afirmou Farkouh.

A adega da Casa Bambuí, climatizada, apresenta uma seleção de vinhos e espumantes da região da Mantiqueira, além de rótulos clássicos que harmonizam perfeitamente com o cardápio.

A carta de drinques também merece destaque. Mas quem prefere cerveja, não tem do que reclamar. A poucos metros do restaurante, há uma filial da microcervejaria Gård (fazenda em dinamarquês), originalmente montada no Horto Florestal de Campos do Jordão.

A carta oferece quatro rótulos sazonais acompanhados de queijos da região e de uma seleção dos melhores petiscos de boteco. A currywurst é uma salsicha artesanal com molho à base de tomate e curry.

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Parte da terceira onda de expansão do Toriba, as unidades Castanheira são equipadas com lareira, sala de jantar, living externo e piso aquecido (Crédito:Divulgação)

A relação de Aref Farkouh com a cervejaria Gård não é nova. O empresário é também dono do Aventoriba Lodges. Criado em 2021, durante a pandemia, o empreendimento traz a oportunidade única para quem quer um contato intenso com a natureza: permite dormir e acordar no Horto, uma reserva no Parque Estadual Campos do Jordão.

“Os lodges são casas históricas construídas há décadas para abrigar os primeiros funcionários do Parque”, disse Farkouh. Depois de reformadas e redecoradas, foram abertas para hóspedes em um modelo semelhante ao que ocorre em reservas naturais como o Yosemite Park, nos Estados Unidos.

“Todo turista deveria, ao menos uma vez na vida, dormir num parque como esse, sob o céu estrelado e acordando com os passarinhos”, afirmou o empresário.

Preservação

Segundo ele, o Parque Bambuí é também resultado do compromisso do Grupo Toriba em preservar e compartilhar a riqueza natural e cultural de Campos do Jordão. Essa preocupação se estende por outro novo empreendimento de Farkouh, o Felícia Café e Livraria, montado no espaço onde funcionam Museu Felícia Leirner e Auditório Claudio Santoro, no Alto da Boa Vista. Assim com o auditório, o Hotel Toriba é um dos palcos oficiais do Festival de Inverno de Campos do Jordão. “Tive a oportunidade de comprar um piano Steinway para o salão de chá. Ele é muito apreciado pelos concertistas”, afirmou Farkouh.

Ainda que tenha criado outros negócios de hospitalidade e gastronomia paralelamente ao Toriba, o empresário de 71 anos segue investindo na ampliação e modernização do hotel. A partir do núcleo original, inaugurado em 1943, foram criadas sucessivas extensões, com novos chalés desenhados para melhor atender às necessidades dos hóspedes e proporcionar a melhor relação com o ambiente.

“Eu não tenho nenhum prazer em olhar o meu extrato bancário e ver um monte de zeros. Tudo que entra eu ponho em algum negócio”, afirmou. Por isso as obras no Toriba nunca param. “Estamos construindo a terceira geração de chalés, que são como ninhos nas copas das árvores, totalmente de vidro. Você abre as cortinas e está no meio da floresta”, disse.

Embora sejam chamadas de chalés, algumas das opções de hospedagem no Toriba são verdadeiras casas.
Os da categoria Castanheira, por exemplo, formam um conjunto de três unidades que podem ser reservadas separadamente. Com 52 m2 cada, são equipadas com:
• lareira,
• piso aquecido (inclusive nos banheiros),
• mesa e cadeiras para jantar,
• sofás,
• living externo,
• além de roupões e pantufas.

Amenities de banho são L’Occitane — a grife de cosméticos que também assina o spa do Toriba.

Com sua visão que concilia empreendedorismo e sustentabilidade, Aref Farkouh tem ajudado Campos do Jordão a oferecer aos visitantes mais opções de luxo sem perder o que a cidade tem de melhor, que é a sua natureza privilegiada a quase 2 mil metros de altitude.

Chef Anouk, a Donna Mantiqueira

Com uma história de 21 anos na gastronomia de Santo Antônio do Pinhal, cidade a poucos quilômetros de Campos do Jordão, a chef Anouk Migotto aceitou o convite de Aref Farkouh para montar e comandar o restaurante Casa Bambuí sob uma condição: manter o seu endereço original, o Donna Pinha.

Em ambos ela aposta na cozinha afetiva para encantar pessoas que buscam conforto na comida e momentos especiais. “Minha preocupação era manter essa mesma essência sem repetir no restaurante Casa Bambuí o que já ficou consagrado como minha marca pessoal no Donna Pinha”, disse a chef.

Os dois endereços valorizam os ingredientes locais e da estação. Desde azeites, verduras, legumes e proteínas, passando por flores comestíveis e temperos, todos os pratos são criados com o que de melhor os produtores da região podem oferecer.

Chef Anouk Migotto: cozinha afetiva (Crédito:Divulgação)

É o caso do Festival da Alcachofra, que ela apresenta todos os anos nos meses de outubro e novembro no Donna Pinha. Este ano, a iguaria é apresentada em uma receita gratinada com queijo gorgonzola e parmesão, além de opções veganas (com vinagrete de frutas vermelhas ou mix de cogumelos).

Além de uma carta de vinhos premiada pela revista Prazeres da Mesa, recentemente a casa ganhou um rótulo próprio, produzido na Casa Geraldo, em Andradas (MG).

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