Mais obras com sotaque francês
Associação da Família Mulliez prevê investir até R$ 4 bilhões em 26 unidades da Obramax no Brasil. Outras 20 lojas da Leroy Merlin também estão no plano
Por Beto Silva
Do lado da indústria da construção civil, a expectativa é de estabilidade do setor em curto prazo. A estimativa da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat) a estimativa aponta uma contração de 1% no faturamento. Pelo lado do varejo de materiais de construção, depois de um crescimento de 2,5% em 2022, os resultados deste ano estão em queda. Neste ano, a variação acumulada do volume de vendas é de -2,8% e nos 12 meses encerrados em agosto chega a -5,3%, de acordo com a Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco).
Mas tem um player desse segmento que está otimista. Muito otimista. E não é qualquer player. É um gigante. Trata-se da Associação da Família Mulliez (AFM), que detém nada menos do que 130 marcas, emprega mais de 700 mil pessoas no mundo e fatura 100 bilhões de euros por ano.
O clã francês tem projetos ousados e bilionários para o Brasil. Com a marca Leroy Merlin, vai abrir de 15 a 20 lojas nos próximos cinco anos — atualmente são 48 unidades — e dobrar o faturamento de R$ 9 bilhões previsto para este ano. Com a Obramax, serão inauguradas 26 lojas em três anos, e encerrará 2026 com 30 pontos de venda no País. O investimento será de R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões.
Leroy Merlin e Obramax são do grupo Adeo, controlado pela AFM. São marcas complementares. Enquanto a Leroy atua como home center especializado em produtos e serviços de bricolagem para o público das classes A e B, a Obramax foca seu trabalho nas classes C, D e E e no profissional da construção que realiza obras de pequeno e médio portes.
E por que tanto otimismo, com investimentos vultuosos, diante de um cenário não tão animador do setor?
São dois principais fatores.
• O primeiro é o tamanho do mercado de materiais de construção: o segmento movimentou R$ 207,4 bilhões em 2022, segundo a Anamaco.
• O segundo, de acordo com Michael Reins, presidente da Obramax, em entrevista à Folha de S.Paulo, é a possibilidade de ganho de share em um setor bastante fragmentado, em que as lojas de bairro que dominavam o mercado até os anos 1990 ainda estão presentes com relevância, principalmente fora dos grandes centros.
O projeto de Reins com a Obramax é democratizar o acesso aos materiais de construção por meio de uma grande rede ao oferecer produtos “entre 30% e 40% mais baratos que a média de mercado”, disse.
Das 26 unidades previstas em três anos, 24 já estão com projetos em andamento, em três fases diferentes: contrato fechado, em fase de aprovação e em negociação. A marca, que tinha três unidades — bairro paulistano da Mooca, Praia Grande (SP) e Rio de Janeiro (RJ) —, abriu as portas de sua quarta loja em Piracicaba (SP), no dia 8 de outubro. Mais um tijolo colocado no império da Família Mulliez.