ESG

Mercopar, feira de inovação sustentável, gera meio bilhão de reais em negócios

Com temática ESG, maior feira de inovação da América Latina reúne, em Caxias do Sul, mais de 600 expositores. Desafio é trazer o conceito para micro e pequenas empresas

Crédito: @zecarlosdeandrade

Projetos inovadores foram apresentados nos quatro dias do evento, que também contou com palestras nos eixos ambiental, social e de governança (Crédito: @zecarlosdeandrade)

Por Sérgio Vieira

É possível aliar ideias inovadoras, disruptivas, com ações sustentáveis, respeito ao meio ambiente, práticas de inclusão e olhar social. Aliás, atualmente é mais do que possível, é necessário. Foi com essa perspectiva que a edição deste ano da Mercopar, maior feira de inovação da América Latina, realizada no mês passado em Caxias do Sul (RS), fez história. Com a política de carbono neutro e a temática ESG como principais pilares, o evento alcançou a marca de R$ 563 milhões em negócios gerados, alta de 31% em relação ao ano anterior.

A pauta sustentável permeou toda a Mercopar, organizada pela seção gaúcha do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae RS) e Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), que recebeu, no Centro de Feiras e Eventos Festa da Uva, 625 expositores (113 a mais do que em 2022) de todo o Brasil, incluindo 86 startups, em uma área de 38 mil metros quadrados, e público de 39,5 mil pessoas.

A programação contou com 285 horas de conteúdo técnico, 85 a mais do que em 2022, e muitas das palestras proferidas por especialistas em ações ligadas aos eixos ambiental, social e de governança.

Para Kelly Valadares, especialista de ESG no Sebrae RS, é importante que empresários entendam a necessidade de adotar medidas associadas às práticas de sustentabilidade. “O front da Mercopar é negócio inovador e quando a gente começa a mostrar o que o mercado está fazendo, não dá para fugir do conceito ESG. Para médias e grandes empresas, isso já é uma exigência e não mais um diferencial. E trazer isso na feira é para justamente mostrar essa transversalidade do tema”, disse.

Para a executiva, esse novo momento passa também pela mudança de perfil do consumidor, que já observa esses conceitos adotados pelas empresas. “Hoje o cliente quer saber qual impacto que o produto ou serviço gera e como isso é feito. Por isso, decidimos trazer conteúdos sobre ESG.”

(Eduardo Rocha)

Segundo o diretor-superintendente do Sebrae RS, André Godoy, as práticas ESG não devem ser um conceito adotado apenas pelas grandes empresas, principalmente as que têm negócios no exterior. Deve também ser uma política empresarial das micro e pequenas, que hoje formam mais de 90% do conjunto de CNPJs no País.

“Se elas fazem parte de uma rede que fornece para médias e grandes companhias, são obrigadas a adotar essas práticas, sob risco de sair do circuito e até quebrar. E também pela via do consumidor, que já exige isso”, afirmou à DINHEIRO. Ele reconhece, no entanto, que isso é um processo de amadurecimento, ainda no início da jornada.

E, para poder falar de ações sustentáveis, seria necessário dar o exemplo. Nesse sentido, a Mercopar desenvolveu projeto inédito com a startup AKVO para transformar a feira em carbono neutro.

Para isso, foi elaborado um inventário de emissões de gases de efeito estufa para posterior compra de créditos de carbono. Cada tonelada de CO2 emitida na feira será compensada com créditos de carbono de projetos certificados nacional e internacionalmente.

Ainda não há um número fechado, mas a expectativa é de que a edição 2023 da feira gaúcha tenha gerado o suficiente para a compra de pelo menos 200 créditos para neutralização. O dinheiro gasto na aquisição será usado como incentivo financeiro para:
• projetos de conservação ambiental,
• combate ao aquecimento global,
• desenvolvimento sustentável
• agricultura regenerativa.

“Nosso papel será fazer um relatório completo de todas as emissões. Buscamos informações dos deslocamentos de todos que vieram ao evento, o consumo de energia elétrica e a geração de resíduos. Contabilizamos esses três índices para saber o total de CO2 gerado”, disse Francine Cenzi De Ré, coordenadora de sustentabilidade da AKVO, que também explicou que os outros eixos estão sendo analisados, como acessibilidade, diversidade, questão trabalhista, gestão de resíduos, entre outros itens.

André Godoy, diretor-superintendente do Sebrae-RS (Crédito:Eduardo Rocha)

“Se micro e pequenas empresas fornecem para as médias e grandes companhias, são obrigadas a adotar práticas ESG, sob risco de sair do circuito e até quebrar.”
André Godoy, diretor-superintendente do Sebrae-RS

Negócios

A forma de realizar negócios na Mercopar foi aprovada justamente por quem esteve lá. Segundo a coordenação, o evento atendeu ou superou as expectativas para 96,4% das empresas expositoras, que sinalizaram a intenção de retornar na próxima edição, em outubro de 2024.

O Projeto Comprador, uma das ferramentas da geração de negócios, garantiu, em quatro dias, 4.300 agendas entre 950 empresas, dos quais compradores e fornecedores nacionais e de oito países da América Latina, além de Portugal e Espanha.

“A gente prospecta a grande empresa e atrai para cá, e do outro lado traz a pequena empresa, que olha a demanda. A partir daí, a gente gera reuniões entre os executivos”, afirmou Jakson da Luz, analista de competitividade setorial do Sebrae RS. “Isso é bom para ambos. Para o pequeno, é a chance de ter acesso à companhia que dificilmente conseguiria olhar seus produtos e serviços.”

André Godoy também falou do desafio de organizar a feira no período da pandemia, que chegou à 32ª edição, de forma ininterrupta. “A Mercopar foi a única feira no Brasil realizada em 2020, com todos os protocolos necessários, e isso nos deu credibilidade grande em termos de mercado, já que o evento daquele ano foi a única oportunidade de fazer negócios para muitas empresas, especialmente as pequenas”, afirmou.

Sobre as práticas ESG, o superintendente do Sebrae gaúcho garante que o tema passa a fazer parte definitivamente da Mercopar, na linha de raciocínio que deve ser seguida pelos pequenos e médios empreendedores. “É como qualidade. Hoje não se discute mais oferecer um produto de qualidade, isso é o mínimo. Os conceitos sustentáveis e as práticas inovadoras vão neste mesmo caminho. Os princípios ESG vão seguir ditando o ritmo da feira.”