A conta final
Por Carlos José Marques
Desde que o presidente Lula falou da dificuldade de se atingir a meta de déficit zero parece que uma hecatombe econômica tomou conta do País, o que, de fato – como qualquer um pode racionalmente perceber, não aconteceu. O peso da meta fiscal no futuro da gestão Lula e de seu ministro Haddad é importante, sem dúvida, mas o objetivo de zerar a conta nunca foi de fato realista. O presidente, recentemente, falou de mais gastos públicos, apontando que investimentos são vitais. Não deixa de ter razão nesse aspecto. As contas públicas estão, em boa medida, dentro do arcabouço traçado. O time da Fazenda tem feito esforços para ampliar a arrecadação. As delimitações de estimativas de resultados primários requerem maiores aportes. Em outras palavras: dinheiro em caixa. Nessa direção, o presidente Lula tem feito articulações para barrar pagamentos obrigatórios de outros tipos de emendas parlamentares, recentemente aventadas. Reside nesse campo de negociação com senadores e deputados o maior rombo gerado no orçamento. As eternas demandas de verba pelos congressistas – um problema gerado ainda na era Bolsonaro que se estende agora como mal maior a minar qualquer esforço. Uma medida no sentido de barrar a sanha por verba destinada às bancadas partidárias vem sendo costurada. Ainda não há maiores detalhes, porém Lula está transbordando de raiva com tantos pedidos. Controlar o ritmo dos desembolsos, retardando as liberações, será um dos caminhos buscados, explicam os técnicos responsáveis pelo cofre. A demanda dos políticos por uma nova modalidade de recursos surgiu após o fim das emendas de relator, aquela prática abominável que se montou de distribuição de dinheiro em troca de votos para a reeleição presidencial do ano passado. O desfecho das conversas em torno dessas linhas, digamos “especiais”, será vital e poderá demandar uma emenda adicional à Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). As possibilidades estão à mesa para avaliação. O ministro Haddad, de sua parte, vai insistir, junto com o time, no patamar do déficit zero. O mercado acredita que esse objetivo somente será alcançado em 2027. É uma aposta. A descrença quanto a conquista do índice ainda em 2024 contamina até mesmo a base aliada. Ninguém, nem mesmo do PT, acredita ser possível e até reclamam das chances dessa insistência manchar o prestígio do governo com uma mácula de descrença. A busca por um déficit mínimo virou obsessão do czar da economia desde que ele assumiu a pasta. Inicialmente, quando tomou posse, falou em chegar a 1%. Subiu a régua para 0,5% e colocou, afinal, o desafio em zero, como uma espécie de recorde a ser tentado e quebrado para o triunfo geral. O problema da promessa, alardeada aos quatro cantos, é que a banca comprou a ideia como um fato consumado. Vieram as críticas pelo risco alto do Tesouro não chegar lá. Convenhamos, nunca deixou de ser difícil e agora o comportamento dos números mostra que apenas por um milagre aconteceria tão estupendo resultado. O próprio governo acaba de projetar um rombo que já supera os R$ 140 bilhões neste ano Muito embora deva arrefecer em 2024, tamanho buraco será difícil de cobrir totalmente em um breve período. Na prática, o time da economia armou a arapuca e caiu na própria armadilha.