ESG

O valor da Amazônia em pé

TEDx Amazônia reúne em Manaus lideranças e especialistas para tratar de mudanças climáticas e da preservação do bioma, afetado por queimadas. Fumaça é o efeito mais claro dessa destruição. Rio Negro enfrenta maior seca dos últimos 120 anos

Crédito: Robert Coelho

Fumaça das queimadas faz parte da paisagem de um seco Rio Negro, que enfrenta a maior estiagem em 120 anos. Tema foi abordado na palestra da ministra Marina Silva(abaixo); a ativista Angela Mendes filha de Chico Mendes, falou sobre a necessidade da preservação da floresta amazônica (Crédito: Robert Coelho)

Por Sérgio Vieira, de Manaus (AM)

Na semana em que foi realizada a edição do TEDx Amazônia, um importante fórum internacional para discutir as mudanças climáticas e os caminhos para o futuro da floresta, entre os dias 2 e 5 de novembro, a cidade de Manaus, sede do encontro, registrava uma das piores qualidades do ar do planeta, segundo dados da plataforma World Air Quality Index. Parte da fumaça que cobria a capital amazonense tinha como explicação o enorme número de queimadas ocorridas na região. Estima-se que existam pelo menos 20 mil focos destruindo parte da floresta e da saúde da população.

Foi nesse contexto que lideranças indígenas, ambientalistas, quilombolas, empreendedores, economistas, cientistas e tantos outros especialistas discutiram alternativas para sair dessa enorme crise ambiental. Ao todo, foram 46 vozes importantes que trouxeram seus testemunhos ao público que acompanhou o evento no Armazém XV, um antigo galpão na zona portuária de Manaus, muitos com máscara de proteção distribuídas pela organização para amenizar o impacto da poluição. Era a visão mais clara dos efeitos do aquecimento global.

A névoa que impedia de enxergar mais à frente o seco Rio Negro, que enfrenta a maior estiagem dos últimos 120 anos, aliás, foi um dos temas da palestra proferida pela ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva. Segundo ela, é necessário trabalhar de forma mais veemente no combate ao desmatamento. “Se não tivéssemos conseguido reduzir o desmatamento no Estado em 64%, teríamos uma situação apocalíptica. Por isso estamos avançando com o plano de prevenção e controle ao desmatamento”, afirmou. “O que precisa parar é a ação humana neste processo de destruição.”

@robert_coelhoo

Com apoio do governo do Amazonas e patrocínio do Mercado Livre, o TEDx Amazônia também abordou a insegurança de quem põe a vida em risco em defesa da preservação da Amazônia. Emocionada, a ativista socioambiental Angela Mendes, filha do seringueiro Chico Mendes, lembrou dos 35 anos do assassinato de seu pai. “Essa sensação de impunidade nunca deixou de existir e se aprofundou nos últimos anos. Há muitas lideranças sendo ameaçadas e isso precisa ser falado. É muito impactante a situação da Amazônia.” Ela não esconde que hoje tem medo. “Mas não existe a opção de desistir”, disse à DINHEIRO.

Uma forma objetiva de garantir a floresta em pé é justamente mexer no bolso, mostrar que a manutenção das árvores poderia garantir bons recursos para o País. E é nesse sentido que o economista Juliano Assunção, diretor-executivo do Climate Policy Initiative e professor de Economia da PUC-Rio, apresentou estudo mostrando a potencialidade do mercado de carbono. Segundo ele, se o Brasil aderir a este modelo, com valor mínimo de US$ 20 a tonelada de CO2, seria possível garantir US$ 320 bilhões em 30 anos. Esse seria um valor mínimo, já que na Europa as permissões de captura de carbono estão sendo negociadas a US$ 90 por tonelada. “Faria sentido para o Brasil aceitar esse mecanismo. Isso daria a opção para pecuaristas, que poderiam ter lucro mantendo a floresta preservada em vez de desmatar”, disse. “Seria necessária uma mobilização no País para garantir a criação de um fundo, para usar esse recurso a serviço da produção de carbono. Na prática, seria reforçar os instrumentos de combate e controle ao desmatamento, assegurando também o território indígena.”

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Para Rodrigo Cunha, organizador do TEDx Amazônia, a necessidade de um evento deste porte mostra que a humanidade ainda precisa se debruçar sobre os aprendizados na questão climática. Em 2010, a capital do Amazonas tinha sido sede de uma edição também histórica do TEDx, a exemplo do que foi em 2023. O alarmante é que, 13 anos depois, os assuntos se repetem. Ou se agravam. “Por uma terrível coincidência, enfrentamos agora uma crise hídrica ainda maior do que a seca registrada em 2010. Isso mostra que a gente precisa encontrar as soluções para manter esta floresta em pé e ao mesmo tempo gerar oportunidade de renda a 28 milhões de pessoas que estão na Amazônia”, disse. Há um caminho a ser traçado. Mas a fumaça é densa para percorrê-lo. Literalmente.