Facchini deve faturar R$ 4,3 bi, na carona de investimentos e da safra recorde de grãos
Líder em implementos rodoviários no Brasil, companhia lança produtos, investe em inovação e constrói uma fábrica e duas filiais para continuar crescendo a receita que fechará 2023 em patamar histórico
Por Beto Silva
Marcelo Facchini comemora aniversário duas vezes por ano. No dia 5 de março, seu nascimento em 1974. No dia 6 de março, um dia depois, seu renascimento em 2009, data em que sofreu um acidente de carro na Rodovia Washington Luís, entre São José do Rio Preto e Votuporanga, no interior de São Paulo. Sobreviveu após 23 dias em coma, 15 deles em estado crítico. No total, foram 58 dias no hospital até receber alta médica. Múltiplas fraturas pelo corpo e traumatismo craniano lhe causaram limitações. O abalo foi físico e psicológico. Teve de reaprender a fazer movimentos simples, como comer e escovar os dentes — ainda hoje faz fisioterapia. “Cada fase de dor que enfrentei ao longo desses últimos catorze anos testou os meus limites físicos, mentais e emocionais em uma escala que mal consigo mensurar”, disse Marcelo em relato do livro Força, Fortaleza (Citadel Grupo Editorial), lançado semana passada na Drummond Livraria, no famoso conjunto Nacional, na Avenida Paulista, em São Paulo. O título da obra — que revela detalhes da sua recuperação e sua superação — é uma referência à frase repetida por sua mãe durante a internação.
Apesar da gravidade e das sequelas, três meses após a trágica colisão que quase lhe tirou a vida, Marcelo voltou a trabalhar na Facchini, empresa de implementos rodoviários fundada em 1950 por seu avô Euclides, ex-carpinteiro da Estrada de Ferro Araraquara (EFA).
O representante da terceira geração da família começou a trabalhar na companhia aos 17 anos contando porcas e parafusos no almoxarifado. Hoje é CEO da organização que prevê faturamento histórico de R$ 4,3 bilhões neste ano, R$ 200 milhões a mais do que a receita de 2022.
O crescimento ocorre principalmente por dois fatores, segundo o executivo.
• Primeiro por causa da safra recorde de grãos no ciclo 2022/23. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção está estimada em 322,8 milhões de toneladas, aumento de 50,1 milhões de toneladas (+18,4%) sobre a temporada anterior.
• O segundo fator é o investimento feito pela Facchini. “Investimos R$ 250 milhões anualmente em modernização, ampliação, maquinário e inovação”, disse Marcelo à DINHEIRO, ao citar entre os avanços mais recentes as linhas robotizadas de última geração, equipamentos automatizados e de injeção plástica com tecnologias para reutilização de material reciclado.
Ele indica, porém, dificuldades na contratação de mão de obra qualificada para as linhas modernizadas. “Temos uma universidade corporativa, para preparar nossos profissionais.” Marcelo coloca ainda a taxa Selic, no patamar de 12,25% ao ano, e a inflação, de 4,82% no acumulado de 12 meses segundo o IPCA, como obstáculos para o crescimento do setor.
“Investimos R$ 250 milhões anualmente em modernização, ampliação, maquinário e inovação (…) Nossa capacidade e a previsão de ampliação são para atender ao mercado interno.”
Marcelo Facchini , CEO da Facchini
Diante de um cenário desafiador, a Facchini tem crescido em um mercado instável. Dados da Associação Nacional Fabricantes de Implementos Rodoviários (Anfir) apontam que de janeiro a setembro deste ano as vendas de semirreboque cresceram 4,9%, para 42.094 unidades, ante 40.120 do mesmo período do ano passado.
Já os sobrechassis tiveram queda de 11,1%, de 34.687 unidades nos nove primeiros meses de 2022 para 30.840 no mesmo intervalo de tempo de 2023.
A companhia comandada por Marcelo lidera o setor com 21,6% de market share, segundo dados da Anfir. A produção média neste ano está em 3.350 produtos, que incluem outros itens além de semirreboques e sobrechassis.
Exportações poderiam garantir mais vendas à empresa. Mas os 7% de receita oriundos de produtos comercializados a outros países estão em patamar suficiente para o atual momento da Facchini. “Nossa capacidade e a previsão de ampliação são para atender ao mercado interno”, disse o CEO.
Para Melodivo Teixeira, gestor de cadeia de suprimentos e logística e CEO da QueroTruck, o mercado brasileiro de implementos é muito diversificado em questão de produtos, restrições e condições de acesso. Isso requer das indústrias uma capacidade de adaptabilidade e, nesse cenário, a Facchini se destaca.
“A malha de fabricação, distribuição e suporte técnico é muito grande e de alta qualidade. Isso faz com que o consumidor dos implementos busque a empresa como referência”, disse o especialista, ao acrescentar que a companhia tem acompanhado esse processo de modernização, “na busca de novos materiais, tecnologias, metodologias de construção de implementos para ser cada vez mais adaptativa e qualitativa”.
INOVAÇÃO
O plano de expansão da Fachhini para este final de 2023 e entrada de 2024 prevê a 11ª fábrica do grupo, em Votuporanga, no mesmo terreno onde já funciona uma planta da empresa.
Com investimento de R$ 100 milhões e previsão de ser inaugurada em janeiro, será a maior da América Latina para fundição de aço, segundo a empresa — além dos implementos, a companhia também fabrica peças como eixos e rodas. “Esse é nosso outro diferencial do mercado. Produzimos tudo, das três linhas: leve, médio e pesado”, afirmou Marcelo.
Outras 26 filiais próprias espalhadas por todo o Brasil — exceto no Amazonas — dão capilaridade para os negócios avançarem. E vem mais. Duas estão em construção, em Cascavel (PR) e Parnamirim (RN). No total, a Facchini possui 4,9 milhões de m2 de área, sendo 1 milhão de m2 de área construída.
Há ainda aporte em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos. Dois deles lançados recentemente. O rodotrem basculante ganhou versão em inox, para atender demandas de grãos com mais resistência à corrosão. E o semirreboque graneleiro, também em inox, com quarto eixo e capacidade de carga 15% maior.
Em fase final de desenvolvimento está um implemento que integra um eixo elétrico capaz de gerar sua própria energia para componentes do veículo e também para o furgão frigorífico.
E um software que vai avaliar os detalhes do funcionamento da tecnologia elétrica, do caminhão e da performance do motorista. A intenção da Facchini é vender como produto e serviço. “É nosso projeto de conectividade”, afirmou o CEO.
São projetos que vão ampliar o portfólio da Facchini e gerar crescimento nos negócios. Assim, Marcelo comemora aniversários e resultados.