O plano de reestruturação da Goodyear
Por Norberto Zaiet
Escrevi aqui sobre a Goodyear (NASDAQ:GT) em junho, quando a Elliott Investment Management anunciou que adquirira 10% das ações da companhia, tornando-se um de seus maiores acionistas. À época, a Elliott havia recomendado um choque de gestão significativo: queria indicar cinco novos diretores independentes e influenciar uma série de questões estratégicas que, caso implementadas, triplicariam o valor da empresa.
Cinco meses depois, o ativista conseguiu que a empresa desenvolvesse um plano de reestruturação bastante crível e, acima de tudo, exequível. Não elegeu cinco membros do conselho, como gostaria, mas emplacou dois. E conseguiu que o CEO da empresa, na posição havia 15 anos, anunciasse sua aposentadoria para 2024.
O Comitê de Revisão Estratégica e Operacional, formado pelo Conselho por indicação da Elliott, é independente e possui todos os recursos para desenvolver um trabalho amplo de revisão estratégica dos negócios da companhia. O grupo de trabalho anunciou no último dia 15 que três linhas de negócios seriam colocadas à venda: a divisão de químicos, a marca Dunlop e a divisão Off-the-Road, que produz pneus específicos para setores relacionados à mineração. A expectativa é que a alienação desses negócios levante mais de US$ 2 bilhões em caixa. Acredito que essa estimativa seja conservadora.
O JPMorgan Chase, que já era otimista com o papel, reiterou recomendação de compra com preço-alvo em US$ 18. O Deutsche Bank foi o mais agressivo: mudou sua recomendação de neutra para compra, com preço-alvo de US$ 21 por ação
Além disso, anunciou que a companhia otimizará seu portfólio de produtos, focando esforços nos SKUs que podem comandar preços mais altos e reduzindo a oferta de produtos com margem mais baixa. A ideia é aumentar o percentual da receita obtido com a venda de pneus de alta tecnologia, especialmente voltados para veículos elétricos. Anunciou ainda mais de US$ 1 bilhão em redução de custos, na sua maioria relacionados à simplificação de componentes e aumento da padronização de produtos na linha de produção.
A venda de ativos não estratégicos e as iniciativas de otimização de produtos e redução de custos permitirão que a empresa reduza seu endividamento para o intervalo de alavancagem de 2 a 2,5 vezes EBITDA (dos atuais 4), chegando a um balanço consistente com o grau de investimento.
Por que, diferentemente de todos os planos anteriores, esse é crível e exequível? A principal razão é que a sua execução depende somente da Goodyear, ou seja, a empresa tem o controle sobre todas as variáveis. Os planos anteriores precisavam ter a boa vontade dos compradores de pneus e dos fornecedores de matéria-prima, ou seja, precisavam ‘combinar com os russos’. O plano atual, batizado de Goodyear Forward, só não será executado se a própria companhia não quiser. E, com a Elliott como investidor, essa opção simplesmente não existe.
Após o anúncio, várias casas de análise revisaram os modelos e aumentaram o preço objetivo para as ações da companhia. O JPMorgan Chase, que já era otimista com o papel, reiterou recomendação de compra com preço-alvo em US$ 18. O Deutsche Bank foi o mais agressivo: mudou sua recomendação de neutra para compra, com preço-alvo de US$ 21 por ação. A GT negocia, atualmente, ao redor de US$ 14.
Na minha opinião, mesmo que o plano não seja cumprido na sua totalidade, o valor da companhia pode ser substancialmente maior do que US$ 18 ou US$ 21 por ação. E, especialmente sob o comando de um novo CEO, é muito provável que o plano possa ir além do que está atualmente no papel. Vale a pena conferir as cenas dos próximos capítulos.
Norberto Zaiet é economista, ex-CEO do Banco Pine e fundador da Picea Value Investors, em Nova York