Uma universidade para chamar de sua
Por Luís Guedes
Ainda na idade média, a universidade nasce para ser um ambiente para a troca livre de ideias, concebido para facilitar a concentração e o esforço que a produção de novos conhecimentos demandam. Ao longo do tempo, consolidou-se como a instituição mais importante de promoção do conhecimento científico, afastando-se do domínio eclesiástico. Pode-se aprender em qualquer lugar, claro, e devemos nos esforçar para isso mesmo. O caminho da descoberta é infinito e curiosamente parece que quanto mais aprendemos, maior é a sensação de ignorância (em tempo: sinta-se à vontade com sua ignorância, ela é a companheira de viagem do aprendizado).
Nesse mundo acelerado em que estamos, aprender a aprender é uma competência que, adquirida, potencializa outras tantas. Assim também é a comunicação interpessoal, inteligência emocional e, em termos gerais, a habilidade com tecnologia. Pensando nisso e para otimizar o aprendizado no ambiente das organizações surgem os centros de treinamento, muitos deles hoje convertidos a universidades corporativas. Em que pese sua gênese comum, as duas estruturas têm missões muito diferentes: o centro de treinamento visa desenvolver habilidades e a universidade corporativa tem a missão de desenvolver competências. Novas e melhores habilidades nos instrumentalizam a fazer melhor, enquanto novas competências facilitam transcender os padrões e ascender a um novo nível de atuação.
O interesse nas universidades corporativas está aumentando, mas nem sempre a gestão desses centros de aprendizado é elaborada em torno da concepção teórica, dos cuidados operacionais e avaliada por métricas adequadas. Depois de centenas de anos aprendendo a ensinar, há estoque de conhecimento e material de sobra para adaptar uma universidade ao contexto de uma organização.
Se esperamos fazer mais com menos, investir na satisfação dos clientes, diminuir nossa pegada de carbono, pensar em novos processos, a universidade corporativa pode ser o locus do aprendizado, um espaço protegido para ouvir, falar, testar e errar, sem consequências graves
Dentre as missões das melhores universidades corporativas do mundo (e há várias brasileiras na lista) está impulsionar a mudança, reforçar os traços culturais distintivos, fundamentar o crescimento individual e testar novas soluções.
O envolvimento da liderança com essa tese é essencial, o que pode ser avaliado indiretamente pela disposição (entenda-se tempo) da liderança sênior em prol dessa bandeira. Estive em uma grande empresa recentemente e soube que o CEO atual nunca visitou a universidade corporativa. Nunca. Como contraponto, em 100 edições do Curso de Desenvolvimento de Gestores ministrado pela GE, o CEO participou de 99.
Se esperamos fazer mais com menos, investir na satisfação dos clientes, diminuir nossa pegada de carbono, pensar em novos processos, a universidade corporativa pode ser o locus do aprendizado, um espaço protegido para ouvir, falar, testar e errar, sem consequências graves.
E a experiência importa tanto quanto o conteúdo! Embora um ótimo conteúdo seja fundamental, a experiência de aprendizagem é igualmente importante. Cada segundo de um colaborador no campus deve ser focado em tornar a jornada de ensino e aprendizagem gratificante. A cultura de aprendizado deve também estimular o ensinar, sempre que possível. Somo todos únicos em nossos saberes e iguais naquilo que nos une: a criação do futuro de uma empresa que vai tornar o mundo melhor.