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Simpar aposta em novo foco: mais eficiência, menos dívida

Simpar, holding das bandeiras Movida e JSL, define estratégias até 2026 após, em três anos, a receita saltar de R$ 10 bi para R$ 34 bi e o Ebitda, de R$ 2,3 bi para R$ 8,2 bi

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Fernando Simões, CEO da Simpar: hora de postura mais comedida (Crédito: Divulgação)

Por Angelo Verotti

RESUMO
• Grupo que controla JSL, Movida e Vamos planeja triênio com menor crescimento
• 34 bilhões de reais foi a receita do Grupo Simpar no último trimestre
A ideia agora é focar em ganhos de eficiência e redução da dívida
• Endividamento veio de investimentos em busca de crescimento

Depois de um ciclo de expansão que mais do que triplicou a receita e o Ebitda nos últimos três anos, a Simpar está com novo foco para o próximo triênio. Uma fase que deve ser marcada por menor crescimento e, simultaneamente, por ganhos de eficiência e desalavancagem.

Essa foi a principal mensagem passada pelo grupo que controla JSL, Movida e Vamos, além de outras quatro empresas, em seu Simpar Day, evento voltado a investidores, na quarta-feira (22), em São Paulo. “Uma das missões neste período será reduzir a dívida da holding”, afirmou Fernando Simões, CEO da Simpar. “Vamos ter um foco muito grande na eficiência, com a máxima captura de valor dos ativos e melhoria contínua do resultado, tendo possível crescimento como consequência.”

Apesar da postura mais comedida, a organização tem muito a celebrar. Desde 2020, o faturamento bruto saltou de R$ 10 bilhões para R$ 34 bilhões e o Ebitda, de R$ 2,3 bilhões para R$ 8,2 bilhões, números referentes até o terceiro trimestre deste ano.

Ao mesmo tempo, a alavancagem financeira atingiu 3,7 vezes. A dívida líquida somou R$ 3,8 bilhões entre julho e setembro, sendo que o endividamento consolidado alcançou R$ 31 bilhões.

De acordo com o executivo, o endividamento foi decorrente dos investimentos realizados pelas companhias em busca de crescimento. “A dívida foi feita de forma planejada, em ativos de alta liquidez, para robustecer as marcas do grupo”, disse.

Locadora Movida busca melhora em condições de compras nas montadoras, taxa de ocupação dos carros e ciclo de vida dos ativos (Crédito:Divulgação)

Parte da estratégia para a redução da dívida inclui movimentos estratégicos na holding, como associação ou fusão com ativos não-listados, ou até a abertura de capital das empresas do grupo. Simões destacou que as companhias da holding vivem momentos distintos e, por isso, terão estratégias diferentes.

Na Movida (bandeira de aluguel de carros) e na Vamos (de caminhões) “o momento é de extrair valor do que já foi construído”, disse o CEO. “Já na JSL [logística] e na Automob [rede de concessionárias de veículos leves] há oportunidades de consolidação de mercado, seja organicamente ou por aquisição.”

Em seu discurso, o CEO da JSL, Ramon Alcaraz, afirmou que a empresa está aberta a aquisições, mas desde que as companhias em vista tenham atividades complementares. “E precisa ter um alinhamento de cultura, uma gestão experiente e com cultura de alta performance”, disse.

A empresa de logística alcançou nos últimos 12 meses uma receita de R$ 8,4 bilhões. Numa rápida projeção, ele afirmou que o resultado subiria para R$ 9,6 bilhões se acrescidas as duas últimas aquisições — a IC Transportes e a FSJ. Mais ainda, apontou que se a JSL pegasse o mesmo crescimento orgânico dos últimos três anos e jogasse para os próximos três, teria R$ 16 bilhões de receita em 2026. “Se incluirmos também a mesma média de aquisições realizadas, seríamos uma companhia com R$ 21 bilhões de receita.”

O faturamento líquido da JSL no terceiro trimestre chegou a R$ 2 bilhões, contra R$ 1,62 bilhão do mesmo período do ano passado, incremento de 9,3%. O Ebitda foi de R$ 393 milhões, alta de 31,5% frente aos R$ 299 milhões de igual época de 2022. O lucro líquido alcançou R$ 46,8 milhões, um aumento de 25,2% frente aos R$ 37,4 milhões na comparação anual.

na Vamos, empresa com foco principalmente no aluguel e na venda de caminhões, a receita líquida chegou a R$ 1,48 bilhão, aumento de 7,5% em relação ao mesmo trimestre do ano passado, e o Ebitda atingiu R$ 682,7 milhões, crescimento anual de 23,2% (R$ 554,3 milhões). Já o lucro líquido apresentou queda de 22,8%, de R$ 150 milhões para R$ 115,8 milhões. Segundo a companhia, o resultado foi afetado, principalmente, pelo efeito de maior despesa financeira decorrente do aumento de estoque temporário (não recorrente).

34 bilhões de reais foi a receita do Grupo Simpar no último trimestre. Ebitda chegou a R$8,2bi

A empresa alcançou o ponto mais alto de alavancagem em meados deste ano em decorrência da compra de modelos Euro 5, segundo o CEO Gustavo Couto. Os investimentos na aquisição de novos caminhões para aluguel imediato ou para locação de caminhões em estoque para os clientes variam de R$ 400 milhões a R$ 500 milhões por mês. “Se a Vamos repetir esse número em 2024 e tiver um pequeno crescimento no ano seguinte, conseguirá mais do que dobrar o Ebitda de locação em dois anos”, disse o executivo.

PREJUÍZO

Na locadora de veículos Movida a receita anual cresceu 5,1% na comparação entre o terceiro trimestre deste ano e o do ano passado — de R$ 2,47 bilhões para R$ 2,66 bilhões. Já o Ebitda teve redução de 6,2%, de R$ 925,3 milhões para R$ 867,9 milhões. E a companhia teve prejuízo de R$ 65,2 milhões, revertendo lucro de R$ 93,7 milhões de igual período do ano anterior. O resultado foi impactado, de acordo com a companhia, pelo aumento das despesas financeiras em decorrência também da elevação das taxas de juros.

O CEO Gustavo Moscatelli tem buscado melhorar o retorno sobre capital investido (Roic).

Para isso, anunciou três iniciativas:
• melhores condições de compra das montadoras, já em níveis pré-pandemia,
• melhor taxa de ocupação dos carros — de 77% para 82% no período —,
• melhora no ciclo de vida dos ativos.

O executivo também pretende melhorar o Roic com um ajuste no mix de produtos, o que vai significar diminuição do preço médio da frota de R$ 85 mil para R$ 77 mil nos próximos trimestres. “Isso vai nos permitir cobrar a mesma tarifa em um carro de menor valor”, afirmou Moscatelli.

Para Fernando Simões, CEO da Simpar, o mix da frota não melhora o resultado, mas reduz o custo da manutenção. “E também contribui para daqui a 12 ou 24 meses com a venda do seminovo, porque é o carro que você vende melhor.” A companhia tem atualmente 215 mil carros à disposição dos consumidores.

(Divulgação)

Na Automob, braço de concessionárias de veículos da Simpar e não-listada, a expansão ocorreu principalmente nos últimos 18 meses, período em que comercializou 118 mil carros.

A empresa realizou sete aquisições no intervalo:
• UAB Motors e Sagamar, em 2021;
• Autostar e Grupo Green, no ano passado;
• e três aquisições nesta temporada — Nova Quality, Grupo Alta e Best Points.

As sete empresas somam mais de R$ 1,6 bilhão, considerando o valor dos ativos divulgado à época das transações. A Simpar fez um aporte de R$ 500 milhões para que a controlada deflagrasse seu processo de consolidação.

A empresa de logística JSL admite aquisições de companhias com atividades complementares. Na Vamos, alavancagem chegou ao topo com a compra de caminhões Euro5 (Crédito:Portal caminhões e carretas)

A Automob trabalha com 27 marcas e tem 108 lojas em cinco estados. E pelas projeções do CFO Antonio Cavalcanti pode alcançar uma receita de R$ 18,3 bilhões em 2026 – agora está em R$ 9,6 bilhões -, além de um Ebitda de R$ 1,3 bilhão. “As bases para alcançar esses objetivos já estão instaladas na Automob”, disse o executivo. “Ainda temos 21 estados e o Distrito Federal para explorar.” Os adversários da Automob e da Simpar que se cuidem.