Negócios

Como a Volvo quer chegar à liderança do mercado premium

Marca sueca tem novidades no comando e na estratégia no Brasil para superar aumento da alíquota de importação e dobrar as vendas no País

Crédito: Rogério Cassimiro

Marcelo Godoy, presidente da Volvo Brasil: confiança no time para um desafio gigante (Crédito: Rogério Cassimiro )

Por Angelo Verotti

Os desafios estão na mesa: dobrar as vendas da Volvo no Brasil em meio ao aumento gradual da taxa de importação de veículos. Nada, porém, que pareça abalar a confiança de Marcelo Godoy, apresentado na terça-feira (5) como presidente da Volvo Car Brasil, a partir de janeiro de 2024. Aos 43 anos, o economista terá a missão de substituir a Luiz Rezende, que irá assumir a posição de head de Global Importers e comandar mais de 60 operações pelo mundo. O projeto defendido por Godoy visa, também, levar a Volvo à liderança do mercado premium no País. “Um dos principais fatores para eu aceitar este novo desafio é o time que temos”, afirmou o executivo durante a conversa com os jornalistas. “Com a marca que construímos aqui nos últimos anos, a cultura organizacional que é muito forte, sei que meu trabalho será muito facilitado e atingiremos todos os objetivos que precisarmos.”

Com 25 anos de experiência profissional, o novo presidente tem pleno conhecimento dos negócios da marca sueca no País. Já são oito anos de casa, período no qual ocupou, entre outros, o cargo de diretor financeiro.

Godoy vê no carro EX30 a alavanca para incrementar as vendas no Brasil. A expectativa é que o modelo de entrada, com preço a partir de R$ 220 mil, tenha 8 mil unidades comercializadas durante 2024 — até agora, 2 mil já foram negociadas na pré-venda e serão entregues em meados do ano.

“Este ano tende a ser o melhor da Volvo no Brasil. E 2024 vai ser, muito por causa do EX30.”
Marcelo Godoy, presidente da Volvo Brasil

Godoy prossegue: “A previsão é que o modelo atinja um público que hoje não está na marca e nem na eletrificação.”

A bandeira pretende fechar a próxima temporada com 17 mil vendas em geral no mercado nacional. Isso inclui crescimento de 15% a 20% nos negócios envolvendo os outros modelos. O plano é ousado, mas não impossível. A Volvo vive um ano de recuperação no Brasil. Após atingir recorde de 8,2 mil unidades em 2021, a montadora viu o número despencar para 5,2 mil no ano passado, afetada pela falta de componentes.

Até o mês passado, foram comercializados 7,5 mil exemplares em 2023, volume que, segundo o presidente, deve chegar a 8 mil até o fim de dezembro. Um incremento de quase 40% na comparação anual, mas um montante ainda distante ao da BMW, líder do segmento premium, com 13,3 mil vendas no intervalo entre janeiro e novembro. A estratégia da Volvo passa ainda pelo aumento do número de concessionárias, de 46 para 53.

TRIBUTAÇÃO

Nem mesmo a volta do imposto de importação para veículos elétricos parece preocupar a Volvo. O executivo revelou que a marca vai absorver a maior parte do aumento para manter o plano de crescimento no País.

Com isso, a empresa optou, neste momento, pelo repasse médio de 7,7% aos preços dos seus produtos. Assim, o EX30 terá um ajuste de 5%; o XC40 e o C40, de 10%, a exemplo dos modelos XC60 e XC90, com motorização híbrida, valendo para todo o ano de 2024. “Sabíamos que a majoração viria. Aumentar o preço teria impacto em volume e perderíamos relevância, depois dos investimentos que fizemos lá atrás. O que vamos repassar mantém esse patamar para o futuro, preservando volume e os concessionários”, disse o executivo.

“Um dos principais fatores para eu aceitar este novo desafio é o time que temos na Volvo.”
Marcelo Godoy, presidente da Volvo Brasil

O governo federal — por meio da Câmara do Comércio Exterior (Camex) — anunciou, em novembro, a retomada do imposto de importação para carros elétricos, híbridos e híbridos plug-in. A taxação volta a partir de janeiro de 2024 e chegará a 35% em julho de 2026. A resolução estabelece uma retomada gradual das alíquotas.

As porcentagens vão variar com os níveis de eletrificação e com os processos de produção de cada modelo, além da produção nacional. Assim, no caso dos carros híbridos, a alíquota do imposto começa com 12% em janeiro de 2024; passa para 25% em julho de 2024; 30% em julho de 2025; e alcança os 35% em julho de 2026. Para híbridos plug-in, será de 12% em janeiro, 20% em julho, 28% em 2025 e 35% em 2026. Para os elétricos, a sequência é 10%, 18%, 25% e 35%.

Pioneira no segmento de eletrificação, a Volvo tem como meta global comercializar somente carros 100% elétricos até 2030. A bandeira possui oito modelos em seu portfólio no Brasil e confirmou a chegada do EX90 no segundo semestre de 2024.

A operação brasileira é a segunda da empresa a avançar nesse objetivo, eliminando os carros a combustão de seu portfólio desde 2021.

Godoy disse não duvidar que a meta possa ser alcançada já em 2026. “Temos destaque global pela nossa estratégia avançada em eletrificação. Esse é um caminho longo, que estamos percorrendo desde 2020, quando instalamos as nossas primeiras estações de recarga.” Um mercado em plena ascensão que a Volvo e o seu novo presidente conhecem em todos os detalhes.

Ricardo Gondo, presidente da Renault Brasil: compromisso com o País (Crédito: Yomiuri Shimbun via AFP )

Renault faz festa e investe R$ 2 bilhões

A Renault celebrou na segunda-feira (4) os 25 anos do início da produção no Brasil. E como parte da comemoração a montadora francesa anunciou investimento de R$ 2 bilhões no País para a fabricação de um novo SUV no Complexo Ayrton Senna, em São José dos Pinhais, no Paraná. O novo ciclo, somado aos realizados pela empresa no País desde 2021, envolve o total de R$ 5,1 bilhões.

O anúncio ocorreu durante a visita à planta de Geraldo Alckmin, presidente em exercício da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, além de Luiz Fernando Pedrucci, presidente da Renault América Latina, e do presidente da Renault Brasil, Ricardo Gondo, que destacou: “Esse novo investimento é uma clara demonstração do nosso compromisso no Brasil.”

O novo modelo da categoria C SUV (médio) não teve a data de lançamento revelada, mas será um produto global e com exportação confirmada para toda a América Latina, a exemplo do SUV Kardian, que chegará ao mercado brasileiro em março de 2024.

A meta da Renault é posicionar o veículo em categorias de maior valor agregado, além de ampliar o portfólio da marca, mas sem canibalizar os modelos já existentes. “Estamos entrando em um segmento em que não atuamos [tanto o Duster como o Kardian são SUVs compactos]. A intenção é aumentar o volume de carros comercializados no Brasil”, afirmou Gondo.

Foram 126,7 mil vendas entre automóveis e comerciais leves no ano passado, 127,5 mil em 2021, além de 111,1 mil até o final de novembro deste ano.

O modelo EX30 já teve 2 mil unidades negociadas na pré-venda. Expectativa da montadora é que ao menos outras 8 mil sejam comercializadas durante 2024 (Crédito:Azusa Nakanishi)

O Brasil é o segundo mercado da marca, depois da França. A Renault está presente em mais de 150 países e, segundo Pedrucci, compete para ser um destino da confiança e dos investimentos do grupo. “O anúncio desse novo modelo significa que vencemos mais uma disputa”, disse.

O novo veículo faz parte do plano da montadora de investir 3 bilhões de euros para lançar oito modelos fora da Europa até 2027. O carro será fabricado na nova plataforma modular do Renault Group (CMF-B), também usada no Kardian.

O motor será um flex fabricado pela Horse, empresa do grupo dedicada ao desenvolvimento, produção e fornecimento da próxima geração de propulsores híbridos de baixa emissão.

O complexo da Renault no Paraná é responsável pela produção do Kwid, Stepway, Duster, Master e Oroch. São 5,3 mil colaboradores envolvidos em todo o processo.