Revista

A Petrobras das Arábias

Crédito: Ricardo Moraes

Jean Paul Prates, presidente da Petrobras (Crédito: Ricardo Moraes )

Por Carlos José Marques

E vem aí a Petrobras em nova roupagem e fôlego movido pelos petrodólares árabes? Esse parece ser o plano. Ao menos na mente do presidente da companhia, Jean Paul Prates, que disse estudar a possibilidade de abrir uma sucursal no Oriente Médio. O mandatário Lula tergiversou sobre o assunto. Chegou a tripudiar do auxiliar, dizendo que Prates tem uma cabeça muito fértil. Mas, sim, todo o governo vê com os olhos de cobiça a montanha de investimentos e lucros potenciais que parcerias do tipo naquela região podem gerar. As expectativas nesse sentido estavam claras durante a última rodada da conferência internacional do clima, a COP28, que teve lugar em Dubai dias atrás. A tal ponto que um convite dos sheiks para que o Brasil passasse a integrar a Opep — o grande clube do petróleo que mobiliza as cotações do combustível mundo afora — foi capaz de animar toda a delegação verde-amarela. Novamente, no caso, Lula emitiu sinais trocados. Disse ali que seria fantástico o Brasil participar de uma organização dessa envergadura. Logo após, indagado sobre a contradição de pregar e defender menos emissão de gás carbônico, maior proteção ao meio ambiente e, ao mesmo tempo, topar ser membro de um conglomerado de produtores de combustíveis fósseis, minimizou o movimento, alegando que o País buscará introduzir lá o debate sobre a ampliação do uso de energias renováveis, mudando a natureza e plataforma de prioridades da Opep. Pura pretensão que, sabe, irrealizável. Nenhum dos participantes ali está minimamente interessado em perder dinheiro e o grande motor de alavancagem dos seus negócios. Nem Lula, na realidade, quer. O que idealiza é arrecadar mais recursos sim com o petróleo enquanto procura manter e fortalecer a sua imagem de líder global em defesa da sustentabilidade. O contrassenso está explícito. Ele fala que irá pegar os recursos do chamado “ouro negro” para ajudar no financiamento de outras matrizes, como etanol, biodiesel, hidrogênio verde, energia solar e eólica. Conversa para inglês ver. De concreto mesmo e muito próximo de acontecer está o surgimento da Petrobras das Arábias, como idealiza Prates. Na realidade, a estatal do petróleo já vem há algum tempo buscando outras fronteiras de desenvolvimento e faz sentido apostar nessa alternativa. Tem tentado potenciais investimentos na Amazônia, mas esbarra em aspectos legais. Precisa crescer e sabe que no Oriente Médio ainda existem grandes alternativas nesse sentido. O estudo de uma subsidiária entrou em andamento e a filial a ser montada pretende fortalecer, fundamentalmente, laços comerciais no Golfo Pérsico. Será um movimento quase simultâneo ao de aderir ao acordo de cooperação da Opep. Como já há um sinal verde e o “de acordo” nesse sentido, uma coisa corrobora a outra. Nas palavras de Prates, a Petrobras das Arábias vai explorar “empreendimentos mutuamente complementares”. No atual estágio ela passa por uma mudança de estatuto que visa facilitar a indicação política nos seus quadros. Medida que não foi bem encarada pelo mercado. A Petrobras também enterrou, ao menos temporariamente, o plano de privatizações de refinarias. São guinadas consideráveis que transformam a empresa para uma futura etapa — caso Lula deixe mesmo que Prates siga adiante nos projetos que desenhou.

Carlos José Marques é Diretor Editorial