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Acer diversifica atuação e avança nos games

Para enfrentar mercado em queda, fabricante de computadores taiwanesa lança produtos e serviços focados nos jogos

Crédito: Hugo Carneiro

Germano Couy, general manager da Acer na América Latina (Crédito: Hugo Carneiro)

Por Beto Silva

Depois do boom nas vendas de 2020, 2021 e 2022, o mercado de computadores entrou em um estado de normalização neste ano. Ocorreu aquilo que todo mundo já sabe, mas é importante lembrar para contextualizar: com o isolamento social imposto pela pandemia de Covid-19, as pessoas ficaram mais em casa e viram que seus equipamentos estavam defasados ou em quantidade inadequada para a família e foram às compras. As empresas fizeram o mesmo. Os resultados globais da fabricante taiwanesa Acer refletem a situação.

As receitas foram de US$ 7,43 bilhões em 2019, ano anterior à pandemia, para US$ 8,79 bilhões em 2020. Em 2021, US$ 10,19 bilhões. E em 2022, com o mercado já dando sinais de estabilidade diante da conjuntura atípica dos anos anteriores, o faturamento foi de US$ 8,73 bilhões.

Em 2023, de janeiro a setembro, as vendas registraram US$ 5,65 bilhões, queda de 16% em relação ao mesmo período anterior. Na América Latina, principalmente no Brasil que puxa o desempenho da região para a companhia e é responsável por 15% dos resultados globais, a estratégia é focar no que está dando certo.

No caso, a linha gamer de máquinas e acessórios, inclusive com o lançamento de uma linha de roupas. “As máquinas de entrada definitivamente diminuíram demais na participação de mercado, pois o consumidor está querendo um produto um pouco melhor. A categoria gamer apresenta crescimento de dois dígitos em relação a 2019”, disse Germano Couy, general manager da Acer na América Latina.

“Máquinas de entrada diminuíram demais na participação de mercado, pois o consumidor está querendo um produto um pouco melhor” 

Os dados do mercado brasileiro neste ano mostram os desafios que a Acer tem pela frente. Segundo estudo da IDC Brasil, ao qual a DINHEIRO teve acesso com exclusividade, as vendas de PCs tiveram queda de 10% no terceiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. Foram 1,975 milhão de unidades comercializadas neste ano, entre desktops, notebooks e workstations.

No total, o mercado movimentou R$ 6,828 bilhões, tombo de 20% ano contra ano. Na avaliação de Renato Meireles, analista sênior de Pesquisa e Consultoria de Consumer Devices da IDC Brasil, essa retração ocorre em função da relação B2B, em que as vendas de desktops caíram 38% no trimestre e as de notebook, 11%.

“Com os novos governos, estaduais e federal, assumindo a partir de janeiro deste ano, as licitações para compra de computadores estão sendo planejadas, o que vai refletir em entregas a partir do quarto trimestre de 2023 até o primeiro semestre de 2024”, afirmou.

O especialista apontou ainda que a linha gamer, de desktops e notebooks, assim como os periféricos dessa categoria, apresentaram alta em torno de 20%. “Ainda existe um consumidor gamer bastante ativo, que substitui suas máquinas por mais potentes, devices mais robustos, com uma taxa de atualização mais rápida, tela maior e outros acessórios para melhorar a performance de jogo”, disse Meireles, ao prever ainda crescimento de 2% no mercado geral de computadores em 2024.

Lançado em setembro, o notebook de entrada para jogos, o Acer Nitro V 15, atrai o consumidor pelo custo-benefício (Crédito:Divulgação)

PRODUTOS E SERVIÇOS

É nesse nicho que a Acer tem apostado suas principais fichas. Em setembro, a fabricante lançou o seu novo notebook de entrada para jogos, o Acer Nitro V 15. A tática é fisgar o público pelo custo-benefício. O dispositivo tem boas especificações, com processadores Intel Core i7 ou i5 de 13ª geração: promessa de alta performance em jogos, criação, edição de vídeo e multitarefa.

Mas não é apenas em novos produtos que a Acer trabalha para manter a relevância no setor. A fabricante começa a atuar em uma nova linha de negócio: software as a service (SaaS). Nada mais é do que aluguel de equipamentos.

Segundo Couy, tem tudo a ver com o momento do mercado e da companhia. No primeiro momento, o foco está no corporativo. Posteriormente vai avançar para o consumidor pessoa física. “Muitas vezes o investimento em computadores é alto para algumas empresas. Então vamos oferecer a alternativa de aluguel. Mapeamos as necessidades de soluções e disponibilizamos. Transformamos o produto em serviço”, afirmou o executivo, ao ressaltar que, para isso, estão sendo reestruturados setores e equipes da empresa, como no serviço 24×7 e no atendimento remoto.

Para o consumidor final também pode ser vantajoso, acredita Couy. “Por exemplo: ao invés de pagar R$ 4 mil em um equipamento, vai pagar R$ 200 por mês e em três anos faz o upgrade para uma máquina melhor”, disse. “É uma tendência de consumo”, afirmou o executivo da Acer, que tem parte da sua produção em uma fábrica em Manaus (AM) e em duas plantas em Jundiaí (SP), além de um centro de distribuição também na cidade do interior paulista.

Outro incremento no portfólio da Acer na vertente gamer é uma linha de roupas, que inclui moletons e demais peças com a marca Predator, que juntam-se a mouses, cadeiras e outros periféricos. “Interessante é a identificação com o life style”, afirmou Couy.

Outra novidade é a entrada da companhia no segmento de roteadores gamer a partir do ano que vem. “Será um equipamento de alta performance.” E a bebida energética da Acer anunciada dois anos atrás? Importada da fábrica da Polônia, está à venda no varejo brasileiro, mesmo com a concorrência de grandes players como Red Bull e Monster Energy, que dominam o mercado.

Vendas de computadores registrou queda de 10% no terceiro trimestre deste ano. Expectativa é de crescimento de 2% para 2024 (Crédito: Zanone Fraissat)

8,73 bilhões de dólares
foi o faturamento global da Acer no ano passado, mesmo patamar da receita de 2020

TENDÊNCIAS

Para 2024, o general manager antecipa algumas características de produtos que serão lançados ao longo do ano. Para Couy, o consumidor estará mais atento a novidades que envolvem inteligência artificial.

A chegada de chip com IA deve gerar ainda mais alvoroço. “Hoje nenhum computador possui chip nativo com inteligência artificial. Seremos uma das primeiras empresas a lançar globalmente”, afirmou. “Mesmo sem internet, a máquina terá em funcionamento 75% das funções de IA.”

Nessa esteira, as funções de áudio ganham atenção especial, pois a previsão é de que os usuários se adaptem ao movimento just ask. “A próxima geração de computadores estará com microfones direcionais. Ao invés de dois, serão quatro nos notebooks. Supersensíveis para o reconhecimento de voz e qualidade de câmera”, disse o executivo da Acer.