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O clima e os juros

Crédito: Giuseppe Cacace

Por Celso Masson, Diretor de núcleo

À primeira vista, os dois assuntos que dominaram o noticiário da semana parecem não ter uma relação direta. Pois têm. De um lado, havia grande expectativa quanto ao teor do relatório final da COP28, a Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas, divulgado com atraso na madrugada da quarta-feira (13), em Dubai, depois de pressões dos países produtores de petróleo para suavizar os termos relativos à transição dos combustíveis fósseis. De outro, eram aguardadas as decisões de autoridades monetárias de diversos países, entre eles Brasil, Estados Unidos, China e União Europeia, sobre a manutenção ou cortes nas atuais taxas de juros. Em nenhum dos temas houve grandes surpresas.

Na questão do clima, por mais urgente que seja a adoção de medidas capazes de mitigar os efeitos nocivos da quantidade de emissões de gás carbônico na atmosfera, era pouco provável uma decisão unânime para “eliminar gradualmente” o uso de petróleo, gás e carvão, como pretendiam mais de 100 países que se posicionaram pelo uso de uma linguagem forte na nova redação do Acordo de Paris, o principal documento da COP28. Na visão das economias representadas pela Opep, que lucram fortunas com a exploração de suas reservas naturais de petróleo, o compromisso com a eliminação dessa fonte de renda, ainda que de forma gradual, era inaceitável. Para chegar a um consenso, o texto foi alterado para algo mais suave. No lugar de phase out (eliminar) entrou transitioning away from (fazer a transição).

A questão é mais séria que puramente semântica. Embora especialistas reconheçam que o teor do novo acordo seja histórico e possa trazer resultados positivos para a sustentabilidade do planeta, ficou a impressão de que o avanço nessa direção será lento.

A temperatura na Terra está subindo mais depressa do que supunham os cientistas quando delinearam o Acordo de Paris, em 2015. O ano de 2023 entrará para a história como o mais quente dos últimos 125 mil. É alarmante. Os efeitos do aquecimento global são observados sob diversos ângulos, mas atingem de forma mais aguda a agricultura. Secas prolongadas e chuvas muito acima do esperado destroem lavouras e encarecem os alimentos. O resultado imediato é a pressão inflacionária — e aí, clima e juros se encontram. Um dos remédios mais conhecidos e receitados em todo o mundo para conter e inflação é elevar as taxas de juros. Elas subiram nos últimos anos de forma generalizada em decorrência dos efeitos da pandemia. É bom lembrar que antes da crise sanitária, a taxa básica de juros no Brasil estava em 2% ao ano. Chegou a 13,75% em agosto de 2022 e se manteve assim até julho deste ano, quase um ano. Na quarta-feira (13), data da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central em 2023, a decisão foi baixar a taxa para 11,75%, queda de 0,5 ponto percentual, índice que o mercado já havia previsto.

A queda na taxa de juros tende a estimular o consumo, uma vez que há redução no custo do crédito. Isso é bom para a atividade econômica, porém, pode ser ruim para o futuro do planeta. Mais consumo impacta no aumento da produção, do frete, dos estoques. Tudo isso demanda mais energia. E se ela não for limpa e renovável, as emissões de CO2 aumentam — elevando a temperatura do planeta e levando a novos eventos extremos no clima. Um ciclo que se retroalimenta e que pode custar caro para as próximas gerações.