Educação

QI nacional regride. E o Ensino também

Mundo avança em temas estratégicos e Brasil revela seus desafios estruturais — que travam a produtividade e a economia

Crédito: Istockphoto

Entre os países do Mercosul, o Brasil só tem o quociente superior ao da Venezuela (que está atualmente suspensa do bloco). Entre os Brics, somente a África do Sul, que não é um dos membros originais, fica atrás do Brasil (Crédito: Istockphoto)

Por VanDyck Silveira

Empresa privada e independente focada na análise e produção de dados demográficos de última geração, a World Population Review traz uma péssima notícia para o Brasil. Em sua publicação anual, em especial a parte dedicada a analisar o QI (quociente intelectual) médio dos países, mostra que ao longo das últimas quatro décadas estamos caindo a passos largos — e hoje atingimos 83.38 pontos, o pior nível desde o início da medição, enquanto a média global é 85.33 pontos. Subentende-se que o QI médio de uma pessoa normal intelectualmente seja 100. Isso representa um desastre social e econômico de difícil conserto no curto prazo e que causa (e causará) grandes impactos negativos por muitos anos, pois essa métrica tem forte poder preditivo sobre o crescimento do PIB e do bem-estar de uma sociedade.

Igualmente não é com espanto que vemos os números catastróficos obtidos pelo Brasil no campo da educação, a partir do último teste Pisa-2022, com dados recém-divulgados. Os resultados mostram que ao longo do tempo os jovens brasileiros não vêm apenas obtendo um dos piores scores nas três dimensões medidas pelo exame (matemática, leitura & compreensão de texto e ciências), mas que estão piorando.

O governo rapidamente culpou a pandemia de Covid-19 por esses resultados estarrecedores, mas optou por ignorar que o desastre de 2022 se repete desde a primeira participação do Brasil no exame, em 2000, no lançamento do Pisa. Portanto, fica claro que o desastre não se trata de situação conjuntural da educação brasileira, e sim de problemas estruturais que exigem um freio de arrumação. Isento de vieses ideológicos e que seja pautado no pragmatismo. Solução que refaça todo o modelo. Um ‘orçamento base zero’ do sistema educacional.

No Ensino Fundamental há 27 milhões de brasileiros, segundo o Censo Escolar 2022, mas apenas 8 milhões chegam ao Ensino Médio e, destes, apenas 2 milhões vão concluí-lo (Crédito:Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Durante as últimas quatro décadas, o crescimento do PIB brasileiro se estagnou, junto da produtividade real do trabalho. E isso tem muito a ver com a qualidade do capital humano nacional. É uma constatação objetiva.

O Brasil cresce muito abaixo da média de 6% ao ano de seu peer group (países emergentes). Cresce muito abaixo até mesmo da média global, de 3% ao ano. O nosso crescimento, nesse período de 40 anos, ficou estagnado ao redor de 1,5% anualmente.

Obviamente, podemos notar aqui uma clara relação entre a evolução do QI nacional médio, qualidade do capital humano, aumento do estoque de capital humano de baixa qualificação e performance econômica anêmica. Entre os países do Mercosul, o Brasil só tem o quociente superior ao da Venezuela (que está atualmente suspensa do bloco). Entre os Brics, somente a África do Sul, que não é um dos membros originais, fica atrás do Brasil.

BÔNUS PERDIDO

O País não tem ganhos reais de produtividade do trabalho há mais de 50 anos, e nesse período, em razão do bônus demográfico que acabou, bastava adicionar mais pessoas, mesmo sem qualificação, à força de trabalho que a produtividade total de fatores traria ganhos. No entanto, esse bônus acabou. A população brasileira envelheceu e está envelhecendo rapidamente, e agora temos um paradoxo. Nossos jovens têm baixíssima qualificação, sofrem uma piora em QI e não teremos mais grandes quantidades deles como nos últimos 30 anos.

Simultaneamente, nosso estoque de capital humano, aquele que foi formado nos últimos 30 anos, também tem baixa qualificação e não podemos esperar aumentos expressivos de produtividade desse grupo. No Brasil de hoje, com 203 milhões de habitantes, 53% da população adulta (18 anos em diante) não têm o Ensino Médio completo.

Equivale a quase 90 milhões de pessoas, ou uma Alemanha inteira sem qualificação mínima — entre os 38 países da OCDE, a média de formação no Ensino Médio é de 86%. Como isso impacta nossa competitividade global, nossas indústrias, nosso mercado de trabalho, e salários e renda? Negativamente é a resposta.

Um problema facilmente identificável. O Brasil tem umas das piores e menos qualificadas forças de trabalho do mundo, e isso piora a cada ano, porque grande parte dessa problemática tem sua origem no sistema educacional básico, um dos piores do planeta porque custa muito e piora a matéria-prima humana que o frequenta.

De 27 milhões de crianças no Ensino Fundamental, temos apenas 8 milhões de adolescentes matriculados no Ensino Médio, e apenas 2 milhões se formarão.

Enquanto isso, em Brasília, conseguiram destruir a reforma do Ensino Médio em vez de testá-la e aprimorá-la, como em um país civilizado. Sabendo-se que os componentes QI nacional e qualidade da educação podem ser controlados e aprimorados através de políticas públicas adequadas e apartidárias, a resposta está dada.

Portanto, na ausência de um programa nacional de requalificação, formulado em parceria com o mercado — entendendo muito bem o que é necessário em termos de qualificações para cada setor industrial dinâmico (não as forças do atraso) —, e uma reformulação do zero do sistema educacional, o Brasil se tornará um desastre geriátrico. E econômico.

*VanDyck Silveira, doutor em economia, é CEO da Humaitá Digital