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Amil é vendida a fundador da Qualicorp

Com quase 40 anos de atuação no setor, José Seripieri Filho compra a quarta maior operadora de planos de saúde do País em negócio de R$ 11 bilhões

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Júnior Seripieri tem 38 anos de atuação em saúde suplementar. Retorna ao segmento após deixar a Qualicorp em 2019 e vender a QSaúde para a plataforma Alice no primeiro semestre de 2023 (Crédito: Divulgação)

Por Beto Silva

São duas trajetórias de sucesso: do empresário José Seripieri Filho, conhecido como Júnior, e da Amil, uma das principais operadoras de planos de saúde do Brasil, com 5,4 milhões de beneficiários de assistência de saúde e dentária, 31 hospitais e 28 clínicas médicas. Também são duas jornadas que passam por desafios atuais. Agora, os caminhos do ex-representante da Golden Cross que se tornou bilionário com seus negócios bem-sucedidos e da companhia se cruzam.

Seripieri ofertou R$ 2 bilhões pela Amil e assume R$ 9 bilhões de passivo. O conselho da UnitedHealth Group (UHG), maior seguradora de saúde dos Estados Unidos e dona da Amil, aprovou a compra no dia 22 de dezembro. Foi a maior transação entre uma companhia e uma pessoa física no Brasil. Agora, a operação precisa passar pelo crivo do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

O acordo inclui os planos de saúde e odontológicos da Amil, Santa Helena, Ana Costa e Sobam, além da rede de Hospitais Americas.

Com a compra da empresa, Seripieri volta ao setor de saúde suplementar após vender a QSaúde para a plataforma Alice. Antes, havia fundado a Qualicorp, que se tornou líder do segmento de adesão coletiva. Após fazer o IPO da empresa, ele deixou o comando do negócio, agora nas mãos da Rede D’Or.

Alguns contextos devem ser observados para projetar o que pode ser futuro da Amil. Depois de três anos (2018, 2019 e 2020) com lucros somados de R$ 657,5 milhões, os períodos de 2021 e 2022 foram negativos em R$ 2,63 bilhões. O balanço do ano passado ainda não foi divulgado.

O faturamento de 2022 foi de R$ 21,9 bilhões, o pior dos últimos cinco anos. O quadro financeiro não é animador. Porém, fontes do mercado afirmam que há caixa para saldar as dívidas. Em 31 de dezembro de 2022 havia R$ 7,2 bilhões da Amil em aplicações financeiras.

Cerca de dez anos atrás a Amil era a segunda maior operadora do País, com 3,43 milhões de usuários de seus planos, atrás apenas da Bradesco Saúde. A participação de mercado era então de 7%. Em setembro 2018, com 3,45 milhões de beneficiários e 7,4% de share, ela liderava o setor.

Nos números mais recentes da ANS, a companhia detém 2,75 milhões de contratantes, ou 5,4% do mercado. Uma queda de dois pontos percentuais, na quarta posição do segmento, encabeçado por Hapvida (4,18 milhões de beneficiários), NotreDame Intermédica (3,34 milhões) e Bradesco (3,31 milhões). Todos parelhos.

Amil é uma das principais operadoras de planos de saúde do Brasil, com 5,4 milhões de beneficiários de assistência de saúde e dentária, 31 hospitais e 28 clínicas médicas (Crédito:Divulgação)

Além de estar mais competitivo, o setor vem perdendo dinheiro. O prejuízo operacional em 2022 foi de R$ 12 bilhões. No acumulado de 12 meses até setembro do ano passado, era de R$ 6 bilhões. Isso, apesar de haver mais clientes.

De 47,1 milhões de usuários em setembro de 2018, o sistema chegou a 50,9 milhões em setembro de 2023. O que pesa nos resultados é a elevação no valor dos insumos diante dos desdobramentos da pandemia e a inclusão de 31 itens no Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde pela ANS.

RETORNO

Ainda assim, Seripieri teve de enfrentar concorrência para comprar a Amil. Também estavam na disputa Nelson Tanure, controlador da Alliança, a família Godoy Bueno (dona da Dasa e herdeira do fundador da Amil) e o fundo americano Bain Capital, que foi acionista relevante da NotreDame Intermédica até 2021.

Pesou o fato de o empresário assumir a operadora com todas as contingências passadas e futuras. Pelo lado da UHG, também foi melhor porque Seripieri não está atuante no ramo e os despachos dos órgãos de controle tendem a ser sumários. Nos bastidores do negócio, comenta-se que os americanos não atenderam como funciona o mercado brasileiro.

Pudera. O número de regulamentações e tributos — e suas constantes mudanças — torna a gestão da saúde suplementar desafiadora. Por nota, a UnitedHealth Group disse que o acordo “visa garantir o sucesso contínuo da operação no País, por meio de um comprador com conhecimento e experiência local para dar continuidade ao negócio de forma sustentável”.

Seripieri sabe que terá de melhorar a operação do negócio. E nesse aspecto entram em jogo de forma decisiva seus 38 anos de experiência no setor, conforme análise de Éber Feltrim, especialista em gestão de negócios para a área da saúde e fundador da SIS Consultoria.

“É um empresário extremamente conhecedor do sistema. A Amil pode retomar a lucratividade com uma estratégia focada em planos corporativos, justamente o que fez dele um nome reconhecido no segmento”, disse Feltrim. Segundo o consultor, os planos individuais têm gerado prejuízo por causa dos reguladores que limitam reajustes e impedem recisões de contrato. “E a sinistralidade acima de 100%, pois custos são maiores que as receitas.”

Para Felipe Argemi, especialista em finanças corporativas e fundador da Santis, a grande exposição aos planos individuais e a tática recente da Amil de crescer vendendo planos baratos prejudicaram a operação. “O desafio é enorme para Seripieri. Porém, tem experiência e capacidade de distribuição, o que pode favorecer a Amil a alavancar vendas mais saudáveis e no longo prazo.” Dada a concorrência no setor, a tarefa não será fácil.