Bolsa deve continuar atrativa este ano, dizem analistas
O final de 2023 foi um período histórico para a B3, com o Ibovespa sustentando máximas acima de 133 mil pontos. A tendência de alta nas ações deverá se manter este ano. Mas é preciso avaliar as empresas e os setores certos para evitar uma ressaca nesse mar de oportunidades
Especial Onde investir em 2024
Por Jaqueline Mendes
Quem tem algum dinheiro na bolsa provavelmente não pode reclamar de suas aplicações em 2023. Com alta de 22% e recorde de 134 mil pontos, o Ibovespa (principal indicador do mercado de ações no País) se mostrou generoso com a grande maioria dos investidores — exceto com os que apostaram demais em alguns papeis de empresas que derreteram, como as redes varejistas Americanas (-90%) e Casas Bahia (-81%).
No geral, o mercado acionário trouxe mais alegrias do que tristezas no ano passado aos 18,1 milhões de investidores na bolsa, alta de 8% sobre 2022, segundo estudo divulgado pela B3 em setembro.
E 2024 não deve ser diferente para os investidores, apesar das incertezas e flutuações naturais do segmento de renda variável. Especialistas ouvidos pela DINHEIRO apontam que a perspectiva segue positiva para a bolsa brasileira.
O cenário de corte de juros nos Estados Unidos, de queda na Selic (que deve cair dos atuais 11,75% para 9% até o final do ano) e a avaliação de que há muitas ações ainda baratas no Brasil traçam uma perspectiva promissora para quem busca rentabilidade mais alta em troca de algum risco.
Entre as ações mais citadas por algumas das grandes corretoras — entre elas Ágora, Ativa, Guide, Terra Investimentos e XP Investimentos — estão Petrobras (PETR4), BB Seguridade (BBSE3), Engie (EGIE3), Telefônica Brasil (VIVT3), Banco do Brasil (BBAS3), Taesa Unit (TAEE11), TIM (TIMS3) e Vale (VALE3). Em seguida aparecem Sabesp (SBSP3), Copel (CPLE6), Localiza (RENT3), Vale (VALE3), Mercado Livre (MELI34) e Prio (PRIO3).
Entre os grandes bancos brasileiros, o Santander é o que demonstra mais otimismo com a alta geral da bolsa. Em relatório, o banco projeta que o Ibovespa deve chegar a 160 mil pontos até o final de dezembro, uma alta de quase 20% sobre o atual patamar.
A razão para essa performance, segundo o Santander, é a grande possibilidade de “pouso suave” na economia dos Estados Unidos, que levará o Federal Reserve (Fed) a fazer cortes nos juros e deve trazer dólares para o Brasil no segundo semestre.
Mesmo entre os bancos mais conservadores nas projeções, o horizonte é de alta. O BB Investimentos prevê o Ibovespa a 141 mil pontos. “Não apenas pelo nível elevado de desconto frente a bolsas de economias centrais e de países emergentes, mas pelo impulso que o ambiente de política monetária no Brasil e no exterior podem proporcionar”, afirma um relatório da instituição.
A única ressalva apontada pelo banco é a possibilidade de um agravamento da conjuntura externa, como conflitos em importantes regiões produtoras de petróleo e alimentos, que podem gerar mais volatilidade de papeis de empresas expostas a commodities. “Continua vigente nossa abordagem que privilegia qualidade dos resultados entre as indicações, mas alertamos os investidores para que acompanhem as teses mais cíclicas”.
Já o Itaú BBA calcula que a bolsa brasileira deve atingir 145 mil pontos, alta de 9,2% em relação ao patamar atual. O banco aponta que a recuperação do lucro de empresas brasileiras deve puxar para cima o desempenho de seus papeis.
Na avaliação do economista Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos, o ano será agitado na bolsa porque os investidores terão mais apetite ao risco diante, principalmente, de um cenário de juros em queda. “Importante que os investidores façam uma boa seleção dos ativos e definam o percentual de perda que estão dispostos a aceitar”, disse. “A bolsa tem se mostrado um bom lugar para investir, mas nem todos estão preparados para encarar as oscilações do mercado de ações”.
Seja com ou sem emoção, o cenário para a bolsa em 2024 será determinado no Brasil por questões estruturais importantes, segundo a corretora Planner.
Por um lado, campanhas eleitorais para as prefeituras, com expectativa de grande polarização, com partidos preparando terreno para pleitos maiores, pode influenciar o ânimo dos investidores, na avaliação da corretora.
Por outro, a expectativa de um amplo programa de privatizações, atraindo capital de grandes investidores, tende a valorizar os papeis de empresas ligadas à infraestrutura. “Com base no fechamento de 2023 e no cenário desenhado para este ano, enxergamos a probabilidade de momento de volatilidade nas bolsas”, disse a Planner, em relatório.
Apesar do cenário de sobe-e-desce, a corretora sugere a compra de ações de empresas com algumas características: papéis de empresas com boa gestão e compromisso com ESG, que tenham investimentos na expansão e qualidade de produtos, que possuam baixa exposição financeira e boa política de remuneração a seus acionistas.
“Nossa projeção é de um Ibovespa em 142 mil pontos, o que implica uma valorização de 5,82% no ano”, projetou a corretora. “Com menor crescimento em 2024 vis a vis um cenário mais favorável de inflação em nível global, a sinalização é de alterações na política monetária, com grande parte dos bancos centrais do mundo reduzindo as taxas de juros”.
PARA FICAR DE OLHO
• Entre os setores com maiores potenciais de alta em 2024, o mercado imobiliário é o que apresenta as melhores perspectivas. Com a queda nos juros, há um cenário de alta nas vendas de imóveis e dos financiamentos. Bom para papéis de empresas como Cyrela, Ezetec, JHSF e MRV.
Além disso, o setor deve ser favorecido por uma redução no custo do material de construção, que disparou nos últimos três anos, principalmente em razão da pandemia, e agora tende a se assentar em um patamar mais baixo.
• Outro setor que o investidor precisa ficar atendo é o de varejo. Como grandes redes viram suas ações despencarem no ano passado, há uma tendência de recuperação.
Superado o episódio de fraude contábil na Americanas e um susto envolvendo as contas do Magazine Luiza, outras varejistas estão obtendo bons resultados. Arezzo&Co, Lojas Renner e Vivara têm sido bem vistas pelos bancos e corretoras. Assim como no caso do setor imobiliário, o crédito barato pode estimular novamente o consumo, gerando um aumento de vendas no comércio e melhoria no resultado dessas empresas.
• Por fim, a lista de recomendações inclui o segmento bancário. Ações de instituições como Itaú e Bradesco tendem a se beneficiar de uma expansão da sua carteira de empréstimos, financiamentos, e uma queda nas taxas de inadimplência.