Internacional

Entenda o novo Brics, com a adesão de mais ditaduras ao bloco

Grupo de nações criado em 2009 para fortalecer economias emergentes oficializa a adesão de novos membros, mais de olho no comércio do que no modelo de gestão de seus governos

Crédito:  Ricardo Stuckert/PR

Desafio maior do Brics 10 será conciliar de forma coletiva os interesses individuais dos países. A política do bloco não deve caminhar junto com a economia (Crédito: Ricardo Stuckert/PR)

Por Jaqueline Mendes

Pela primeira vez desde 2009, quando Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul se uniram para criar o bloco econômico Brics, a sigla deixou de fazer sentido. Ou, pelo menos, ficou defasado. Na segunda-feira (1º), foi oficializada a inclusão de novos membros: Egito, Etiópia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Irã. A Argentina, que também entraria para o grupo, ficou de fora por vontade do novo presidente, Javier Milei, que tentará acordos comerciais com países mais alinhados à sua visão ideológica.

A ampliação dos Brics, agora chamado de Brics 10, já havia sido decidida na cúpula de Joanesburgo, em agosto de 2023, mas o prazo para o clube aceitar novos países dependia da aprovação dos parlamentos e governos das nações convidadas.

O problema é que Brics 10 se torna, com a nova composição, um grupo de maioria de ditaduras e autocracias. É o caso de Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Irã e Etiópia. Mas nem o Brasil passa incólume sob essa análise. Dos dez países do Brics 10, nenhum se encaixa na categoria de democracias liberais em que, além de eleições, há ampla liberdade de expressão e liberalismo econômico, segundo critério do V-Dem, o instituto sueco que mede as democracias no mundo.

“Não há dúvidas de que a predominância de governos ditatoriais vai prejudicar a expansão dos negócios para fora da troca comercial entre os próprios membros”, disse o economista Renato Sampaio, da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Se no campo político o Brics 10 preocupa, na área econômica não gera muita desconfiança. O fortalecimento do grupo, que agora representa pouco menos da metade da população mundial e quase um terço do PIB do planeta, deve permitir que ele continue a exigir um mundo multipolar e menos dependente do dólar ou dos Estados Unidos.

Um dos pilares do Brics 10 é “desdolarizar” suas economias, um bom negócio para Rússia e o Irã, que estão sob fortes sanções dos EUA.

O futuro do Brics 10 dependerá também da sua capacidade de se entender na política internacional.

“Será complexo chegar a um acordo com países de governos tão heterogêneos, especialmente sob a influência da China.”
Paulo Couto, cientista político 

“Um exemplo recente foi a divergência de interesses sobre a guerra em Gaza”, afirmou Couto. Em outubro deste ano, a primeira grande reunião desse novo grupo com os dez integrantes do Brics será na cidade russa de Kazan. O clima do encontro, em um país em guerra, dará uma amostra de qual será a nova postura do Brics. Ou melhor, do Brics 10.