Tecnologia

O edge computing além do urbano

Startup norte-americana Armada tem como propósito destravar potencial da IA levando conectividade para lugares remotos

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Armada: startup quer levar conectividade para “excluídos digitais” e escolheu o Brasil para expansão (Crédito: Istockphoto)

Por Victória Ribeiro

Com apenas um ano de história, um total de zero clientes e nada além de provas de conceito, a startup norte-americana Armada acaba de iniciar suas operações mundiais com uma injeção de capital de US$ 55 milhões, liderada por Founders Fund, Lux Capital, Shield Capital e 8090 Industries. A empresa criada por Dan Wright, ex-CEO da DataRobot, está por trás de uma plataforma de edge computing (computação na borda) cujo objetivo é levar conectividade para “excluídos digitais”, como aqueles que trabalham em locais remotos como minas, plataformas de petróleo e bases militares. “Há uma enorme quantidade de dados sendo gerados no edge e nada sendo feito com eles”, disse Wright à DINHEIRO. “Acredito que nossas soluções são essenciais. Elas são capazes de mudar o jogo.” De forma resumida, o edge computing junta os dados e a computação, fazendo com que esses dados sejam processados na borda da rede, o que reduz o tempo (latência) e a capacidade de banda.

De acordo com o Gartner, empresa americana de pesquisa e consultoria tecnológica, a projeção é que, até 2025, 75% dos dados corporativos serão originados no edge.

Segundo Wright, cofundador e CEO da Armada, muitas empresas de computação em borda estão focadas em borda urbana, o que, muitas vezes, envolve um data center estático e físico. “O que elas não fazem é ir além dessas áreas, atingindo a borda remota. Ou como costumamos chamar, a ‘borda da borda’. É isso que nos diferencia”, disse ele.

Considerando as recentes revoluções em internet das coisas (IoT) e o boom da inteligência artificial (IA), a startup acredita que há uma clara demanda por uma abordagem descentralizada que possibilite a quarta revolução industrial. “Hoje, a IA está revolucionando todos os aspectos de nossas vidas e trabalho, mas nem todos têm a mesma oportunidade”, afirmou Wright. “O que realmente surpreende é que muitas regiões do planeta não têm acesso básico à internet, muito menos a capacidade de obter valor tangível de seus dados.”

(Divulgação)

“Vemos uma grande oportunidade de inovar no Brasil e depois mostrar essa inovação mundo afora.”
Dan Wright, CEO da Armada

Pensando na revolução 4.0, a empresa oferece capacidades de computação de nível de IA para dispositivos industriais e uma loja de aplicativos própria e de terceiros para trabalhar com dados gerados no local, o que permite, por exemplo, a automação de preenchimento de formulários e a utilização de sensores para alertar sobre necessidade de manutenção.

Outra coisa interessante são os Galleons, Data Centers móveis e modulares à prova de intempéries, que podem ser transportados em caminhões, aviões, trens ou navios, com capacidade de abrigar racks de GPUs (unidades de processamento gráfico) essenciais para executar modelos de IA. “Acreditamos que a IA vai se tornar onipresente. E a Armada pode desempenhar um papel fundamental trazendo essa tecnologia para a borda”, disse Wright.

OPERAÇÃO BRASILEIRA

Tendo na mira a forte atuação de setores como petrolíferas e mineradoras, a Armada escolheu o Brasil para ser um dos primeiros países fora dos Estados Unidos para sua expansão. Isso porque, na opinião de Wright, o país possui uma extensa área geográfica sem acesso à internet. O Brasil é tanto mercado quanto laboratório. “Vemos uma grande oportunidade de inovar aqui e depois mostrar essa inovação mundo afora”, disse ele.

Como primeiro passo dessa expansão, a Armada está mirando na conectividade 5G. Ou na falta dela, por melhor dizer. A ideia é resolver a dificuldade de implementação em fábricas remotas. Para compreender a participação da startup nesse contexto, Wright sugeriu imaginar a sua empresa como uma peça de lego.

“As redes 5G privativas estão fornecendo conexão a grandes números de dispositivos de IoT no agronegócio, por exemplo, mas ainda não têm o poder de processamento local para utilizar todo o potencial da rede”, afirmou. Segundo ele, a Armada prevê parcerias com o setor de telecomunicações, fornecendo essa ‘peça de Lego’, que é o poder de processamento.

Após atravessar sem muita dificuldade o principal desafio das empresas nascentes, que é o levante de capital, a maior ambição da Armada, segundo o executivo, é perseguir o fim da exclusão digital e levar a conectividade, com software, hardware, inteligência artificial, e tudo o que é necessário para resolução de grandes problemas.

Seu otimismo é indisfarçável. “Estamos começando com as áreas em terra que foram negligenciadas, mas também achamos que há grandes possibilidades de fazermos isso até mesmo nos oceanos. E, talvez um dia, no espaço”, disse Wright. A ideia, de acordo com ele, é estar em uma posição boa o suficiente para se tornar uma empresa geracional, que resiste e atravessa os limites do tempo.

“Esse é apenas o começo. Fique de olho nas fronteiras que iremos superar e estamos ansiosos para fazer isso aqui mesmo no Brasil”, disse o executivo.