Economia

“O mercado de seguros vai crescer para o interior”, diz Ivan Gontijo, da Bradesco Seguros

Executivo afirma que a expansão da economia em regiões como Norte, Nordeste e Centro-Oeste, fora dos grandes centros, cria uma imensa oportunidade de negócio para o mercado segurador

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Ivan Gontijo, da Bradesco Seguros: "As pessoas viram que precisam ter um seguro de vida para deixar a seus beneficiários" (Crédito: Divulgação)

Por Hugo Cilo

O carioca Ivan Gontijo, presidente da Bradesco Seguros, comemorou em 2023 o melhor ano da história da empresa e o maior ritmo de crescimento desde 1985, quando ele entrou para a companhia. Depois de alcançar receita de R$ 79 bilhões no terceiro trimestre, a empresa calcula ter encerrado o ano com recorde de R$ 100 bilhões — feito que a coloca entre as dez maiores do País em faturamento. Mas os números do ano passado ficaram para trás. O plano agora, segundo ele, é ampliar a oferta de produtos e diversificar as áreas de atuação, com foco em regiões que ainda não enxergam o seguro como itens essenciais de consumo. Em entrevista exclusiva à DINHEIRO, Gontijo analisou o atual momento da companhia e do mercado, além de revelar os próximos passos para consolidar a Bradesco Seguros na liderança dos segmentos em que atua.

DINHEIRO — Nos últimos anos, a Bradesco Seguros cresce a um ritmo muito superior à média do PIB. Só no terceiro trimestre de 2023, o lucro disparou 57%. O que justifica esse descolamento entre a companhia e o ambiente macroeconômico?
IVAN GONTIJO — Os bons resultados de 2023 são resultado de um trabalho que vem sendo desenvolvido ao longo dos dois últimos anos, pelo menos. E planejamos alguns ajustes importantes em 2022, principalmente. A partir de 2 de janeiro de 2023, fizemos uma mudança muito profunda na nossa área comercial, que era uma área única dentro do Grupo Segurador, para todas as empresas de seus segmentos. Só para explicar melhor, o Grupo Segurador é formado pela Bradesco Vida e Previdência, a Bradesco Saúde, a Bradesco Capitalização e a Bradesco Auto e Residencial. Enfim, são todas as empresas, obviamente, que formam esse grande grupo, que é o grande charme da nossa existência. E nós segregamos. Promovemos, hoje, o bank insurance. As seguradoras estão, todas elas, todas as que podem, se juntando operacionalmente e societariamente. Se juntando a bancos, obviamente. Isso ajudou muito.

Segregou as áreas, mas se aproximou mais do banco Bradesco?
A força do Bradesco sempre foi e continuará sendo um elemento muito importante na comercialização de produtos. Então, segmentamos uma parte da área comercial para focar única e exclusivamente no cliente do banco. Outra parte da área comercial ficou voltada para o mercado, dentro da expertise e do ecossistema de cada uma das empresas, que são muito distintas entre si. Uma empresa de vida e previdência tem uma expertise, uma necessidade e um ecossistema totalmente diferente do segmento de capitalização, por exemplo. Então, isso fez com que tivéssemos uma evolução muito grande na parte de prêmios emitidos.

“As pessoas viram que precisam ter um seguro de vida para deixar para os seus beneficiários. Porque não é só para olhar na morte, é para olhar em vida’’

O que mudou para a companhia?
Veja os números que nós alcançamos. No terceiro trimestre, tivemos R$ 79 bilhões de faturamento. E estamos mirando, dentro de uma intenção, de alcançarmos um faturamento de R$ 100 bilhões em 2023 [o balanço do ano será divulgado em fevereiro]. Assim, ficaremos entre as dez maiores empresas em termos de faturamento no Brasil. Se formos olhar pelo lucro, vamos ver uma consistência muito grande. O lucro vem crescendo de uma maneira consistente trimestre após trimestre. Não há nenhum tipo de desequilíbrio ou de estagnação. Foram R$ 6,5 bilhões nos nove primeiros meses de 2023.

Com a Selic em dois dígitos, quanto desse resultado é lucro da operação e quanto é rentabilidade de aplicação financeira?
O financeiro foi importante, óbvio. Claro que as taxas dos juros nos ajudaram, mas operacionalmente nós crescemos mais do que financeiramente, o que mostra o acerto da operação de uma maneira geral. O lado operacional representou 56%. O lucro financeiro respondeu por 44%. Mas essas duas fontes de receita costumam se alternar entre si.

Quais os segmentos de maior potencial?
Difícil citar um. Em termos de eficiência, posso citar a parte de automóveis. Mas a divisão de vida e previdência vem crescendo muito também e dando sustentação a esses resultados. A nossa solidez vem dessa diversificação. Ter vários produtos e várias empresas dentro desse ecossistema nos garante um crescimento sólido e constante, mesmo que eventualmente alguma área cresça menos do que a outra.

A empresa está bem posicionada nos segmentos de automóveis, previdência e saúde, mas ainda não atua em todas áreas. Há planos de diversificar?
Com certeza vamos diversificar. A estratégia para os próximos meses é incrementar produtos novos. Iniciamos 2024 com todas as empresas tendo como alvo lançar um produto novo, no mínimo. A ideia é ter produtos que possam atender na plenitude aquilo que o consumidor deseja. Então, esse é outro ponto que, estrategicamente, a gente está trabalhando e pretendemos perseguir neste ano.

Quais produtos serão lançados?
Ainda não posso abrir. O que posso adiantar é que estamos atentos às novas demandas do consumidor, principalmente depois da pandemia. O seguro residencial, por exemplo, passou a ter ainda mais importância com o home office. É uma necessidade. Deixou de ser um produto vendido, para ser adquirido. O seguro de vida idem. As pessoas viram que precisam ter um seguro de vida para deixar a seus beneficiários. Porque seguro de vida não é só para olhar na morte, é para olhar em vida. Há assistências e coberturas novas agregadas. Antigamente, não se podia nem pensar que um produto de seguro de vida tivesse agregado uma assistência de pet, por exemplo. Ou um próprio residencial que oferece chaveiro, limpeza de esgoto, vazamentos e coisas do tipo. Agora temos tudo isso em um único produto.

Nesse contexto, o plano é atacar nos grandes centros, onde há uma percepção maior de valor sobre a importância do seguro, ou o foco é o interior do País, onde milhões de pessoas nunca tiveram seguro algum?
Sem dúvida a nossa tendência é ir para o interior, sim. O mercado de seguros vai crescer para o interior. E para outros estados, fora dos grandes centros, onde o seguro não tinha um olhar diferenciado do consumidor. Cito para você as regiões do agro, o Nordeste e a própria região Norte. São três regiões que mudaram. Encontramos lá pessoas com sede de ter o seu seguro.

“Quando um empresário no Mato Grosso compra uma Lamborghini, esse veículo precisa ser segurado. Ao oferecer cobertura, estou criando acessibilidade’’

Essa demanda vem crescendo naturalmente ou há um trabalho específico de divulgação nessas regiões?
Constantemente fazemos um trabalho de divulgação dos benefícios que o seguro pode vir a trazer. Tanto o seguro quanto a previdência ou até a própria capitalização. Quando se pensa em capitalização, logo se lembra de sorteio. Mas é muito mais do que isso. É uma forma, inclusive, de garantia de operações, e hoje é uma das formas mais vendidas. E tudo isso está caminhando para o interior. Por isso digo que o Nordeste, a região do agro e a região Norte são esses lugares de crescimento. É o nosso foco. O número de corretores hoje no Nordeste já é maior do que o da região Sul, por exemplo. Está crescendo muito.

A estratégia nessas regiões é diferente?
Sim. Para nos desenvolver em determinada região, até a parte cultural conta. A comunicação é outra. Quando vamos para o interior de São Paulo, interior do Mato Grosso, interior de regiões do Nordeste, utilizamos muito a comunicação de rádio, por exemplo. Não vale só televisão de rede nacional, mas uma comunicação de rádio que atinge justamente a massa de pessoas daquela região. Procuramos, através do rádio, ser um meio de propagação nesse nosso mercado para dar conhecimento e visibilidade para o seguro, da previdência ou da capitalização.

Onde entra a parte cultural?
Estamos levando, não só no Rio de Janeiro e em São Paulo, várias peças teatrais, onde nós obviamente patrocinamos, promovendo a marca do Grupo Bradesco Seguros para essas localidades, para que ela se torne conhecida. Esse plano vale também para o interior. Somos hoje o maior patrocinador cultural do Brasil, ajudando a levar peças para o interior. Essa é uma forma de difundir o seguro, de fazer com que as cidades do interior conheçam e reconheçam o seguro.

Qual a estratégia na área de saúde?
Nos planos de saúde também estamos com uma estratégia de atacar e atuar regionalmente, de atuar na cadeia de valor. Recentemente promovemos a junção por meio de uma joint venture com a Beneficência Portuguesa e com o Fleury na área de oncologia. Estamos construindo um hospital de 350 leitos com o Albert Einstein em São Paulo e nós acabamos de adquirir 20% do Grupo Santa, que é um grupo hospitalar e de clínicas muito grande na região Centro-Oeste. Como disse sobre a região do agro, lá é uma área em que pretendemos crescer em todos os segmentos.

Fazer parte do Bradesco facilita para explorar essas novas fronteiras?
Com a maior tranquilidade, respondo que sim. Ajuda muito. O Bradesco acoplado aos nossos produtos dá a certeza ao cliente, onde quer que ele esteja, seja nos grandes centros ou no interior, de segurança. No mercado de seguros, o cliente precisa ter certeza que, quando precisar, vai receber. Um plano de previdência, por exemplo, o cliente paga por décadas para começar a receber a partir dos seus 50 ou 60 anos. Para se ter uma ideia, somos os maiores pagadores de benefícios de previdência privada do Brasil. Esse é um ponto importante e relevante para ser destacado. A solidez da marca Bradesco está associada aos nossos produtos. É fundamental.

Com resultados tão positivos e lucros recordes, é possível reduzir o preço dos produtos e ampliar o acesso aos seguros da companhia? Afinal, seguro costuma ser caro para quem paga…
Não tenho a menor dúvida quanto a isso. Temos um olhar atento à questão do acesso a nossos produtos, à popularização do seguro. A acessibilidade para nós é um ponto fundamental. Hoje já temos seguros bem acessíveis, como seguro de vida que oferece R$ 50 mil de cobertura por R$ 9,90. Com um valor desse, estou fazendo a acessibilidade. Mas acesso não significa apenas ser popular. Quando um empresário do agro no Mato Grosso compra uma Lamborghini, esse veículo precisa ser segurado. Ao oferecer cobertura, também estou criando uma acessibilidade. Estou permitindo que o dono do Lamborghini possa, obviamente, fazer o seguro conosco. Nós procuramos atingir a todos os níveis, a todas as camadas sociais, oferecendo, por exemplo, um produto mais adequado às necessidades do cliente. Então, primeiro, é fundamental conhecer o cliente. Segundo, é fundamental conhecer as necessidades do cliente. E terceiro, ser um meio para a acessibilidade, justamente, com todos esses produtos. Não queremos excluir ninguém, em nenhuma camada social. Ao contrário, queremos agregar e trazer cada vez mais consumidores para poder usufruir dos benefícios, da garantia e da solidez do grupo.