Estilo

Colecionador cria um apaixonado negócio de relíquias de futebol

Alambrado FC, marketplace de venda de camisetas e outros itens do futebol, resgata a história e vira negócio pelas mãos de Cássio Brandão

Crédito: Claudio Gatti

Cássio Brandão mostra as camisas históricas de sua coleção. São cerca de 5 mil itens, a maioria usadas em jogos oficiais (Crédito: Claudio Gatti)

Por Beto Silva

Cássio Brandão carrega em seu carro três camisetas pretas básicas. É uma precaução para qualquer eventualidade. E não é excesso de cautela de alguém desconfiado de que algo vai dar errado a qualquer momento. É uma preparação típica de um colecionador. Caso encontre alguém na rua com uma camisa de futebol que considere especial, ele para ali mesmo e faz a oferta para comprá-la. Para não deixar a pessoa desnuda em público, já entrega aquela básica que estava guardada.

É com esse espírito que Brandão toca o projeto Alambrado Futebol e Cultura. Funcionário do Google, corintiano fanático, apaixonado por Sócrates e Pelé, ele dedica seu tempo livre ao garimpo, catalogação e venda de peças históricas ligadas ao futebol. É amor ao que faz e também é um negócio.

Os produtos so vendidos pelo site alambradofc.com.br e na loja física na Sportheca, hub de inovação do esporte no bairro de Pinheiros, em São Paulo (Rua Cristiano Viana, 517). “Eu me conecto pela paixão. E pela vontade de preservar a história do esporte”, disse Brandão.

As peças são compradas de familiares, roupeiros, massagistas e outros integrantes da comissão técnica dos clubes, além de pessoas físicas e outros colecionadores.

No portal e no comércio estão alguns itens da coleção de Brandão. Os preços variam de R$ 400 (camisas consideradas mais simples, sem tanto valor histórico) a R$ 40 mil, caso de uma camisa do Barcelona usada pelo argentino Maradona em um jogo oficial. Mas a magia das camisas que contam a história do futebol está mesmo guardada em uma grande sala de um imóvel comercial no bairro paulistano da Barra Funda. Ali só entram convidados do colecionador.

O acervo impressiona.

• São 1,7 mil camisas do Corinthians, 90% delas usadas por jogadores em partidas oficiais. É a maior coleção do gênero no mundo.
• A mais antiga delas é de 1955, que o jogador Goiano vestiu em jogo.
• Outra relíquia é a que Basílio usou no primeiro tempo da partida de 13 de outubro de 1977, em que fez o gol do título (no segundo tempo) do Paulistão, que tirou o clube da fila de 23 anos sem conquistas.
• Também tem a do goleiro Ronaldo Giovanelli utilizada na final do Campeonato Brasileiro de 1990, a primeira taça nacional da equipe do Parque São Jorge.
• Nas araras também estão camisas dos números 1 ao 11 do time de 1993.
• Possui as 24 versões utilizadas pelo time em 2009, ano em que mais fardamentos diferentes foram produzidos, seja por conta da mudança de patrocinadores ou patchs.

Brandão também é fã do goleiro Cássio, não por ser seu homônimo, mas pela performance do atleta, campeão Mundial e da Libertadores pelo Corinthians. Das 65 camisas usadas pelo jogador desde 2012 quando chegou ao clube, o colecionador possui 63.

“Não sou feliz por ter 63 camisas do Cássio. Sou infeliz por não ter as duas”, disse Brandão, em uma declaração que mostra a emoção acima da razão. Uma informação importante aos interessados em adquirir alguma vestimenta do Corinthians: quase nada está à venda. “Evito vender porque não sei se as pessoas vão cuidar bem dessa história”, disse.

Entre os projetos especiais em que o colecionador esteve envolvido estão o agasalho do Brasil da Copa de 1994 usado por Lewis Hamilton e o Cristo Redentor vestido em homenagem a Pelé (Crédito:Stringer / Anadolu )
(Mauro Pimentel)

Do ídolo Sócrates, ele possui a Bola de Prata que o Doutor recebeu no Campeonato Brasileiro de 1980, uma chuteira Topper número 39 usada por ele, além de camisas de quando atuou pela Fiorentina, da Itália, e de quando participou do time de estudantes da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e da equipe que ele montou depois de abrir uma clínica de saúde.

Há ainda discos lançados por Sócrates. Levando à risca o sobrenome do projeto, Futebol e Cultura, Brandão trabalha para preservar a memória de sua coleção e de seus ídolos. Com seu portfólio, já tem praticamente pronta uma exposição sobre o meia, que faria 70 anos no próximo dia 19 de fevereiro. A busca agora é por patrocinadores.

PELÉ

Apesar de o Corinthians dominar a coleção, há mais de 3 mil itens de outros times pelo mundo. De Aberdeen (Escócia) a Werder Bremen (Alemanha), de Ananindeua a Vasco da Gama, todas organizadas em ordem alfabética. Mas também chama a atenção o espaço para artigos de Pelé.
• São 15 camisas, entre Santos, Cosmos e Seleção Brasileira.
• Brandão mapeou no País 165 camisas originais utilizadas pelo maior jogador de todos os tempos.
• Ano passado, 65 foram vendidas. A maioria para os árabes, que estão sedentos por futebol.

Para evitar que esses itens se percam mundo afora, o colecionador vislumbra um fundo com participação de investidores em que os ativos sejam as camisas do Rei. “Seria uma forma de preservar a história”, disse Brandão, que participou da ação que vestiu o Cristo Redentor com a camisa de Pelé no dia 29 de dezembro, em alusão a um ano da morte do Atleta do Século 20.

Entre outras iniciativas que o fanático empreendedor encabeçou está o uso do agasalho da delegação brasileira da Copa do Mundo de 1994 pelo piloto Lewis Hamilton no GP Brasil do ano passado. A foto do inglês bombou nas redes sociais. Hamilton quis comprar. Brandão não vendeu. O piloto acabou levando duas camisas do Brasil usadas no mesmo mundial que garantiu o tetra. Preço: US$ 400 cada. Mas com valor histórico incalculável.