Quantum computing: mais perto, mais necessária
NTT Data aposta nas respostas da computação quântica para os problemas complexos de nosso cotidiano
Por Victoria Ribeiro
Já se passaram mais de 40 anos desde que o físico Richard Feynman apontou que a criação de dispositivos de computação baseados em princípios quânticos poderia liberar poderes superiores aos dos computadores ‘clássicos’. Desde então, empresas batalham para driblar as margens de erro e fazer com que essa tecnologia ganhe espaço. Segundo a consultoria global IDC, os gastos com o quantum computing vão passar dos US$ 1,1 bilhão (2022) para US$ 7,6 bilhões (2027), representando uma taxa de crescimento anual na casa de 48% em cinco anos.
Na visão da NTT Data, a tecnologia pode ser uma grande aliada da inteligência artificial. “Estamos diante de uma mudança radical: nem a programação quântica nem o stack de tecnologia quântica se assemelham às suas versões clássicas”, afirmou Evandro Armelin, diretor de Data & Analytics na NTT Data Americas. “Adquirir conhecimentos e experiência desde já pode fazer a diferença para liderar no futuro.”
A NTT, provedora global de serviços de TI com valor de mercado de US$ 20 bilhões, tem 190 mil funcionários (mais de 5,4 mil no Brasil), e investe anualmente US$ 3,6 bilhões em P&D.
Na corrida quântica, a empresa tem pela frente players ainda mais robustos. Nessa batalha, houve um momento decisivo em 2019, quando o Google anunciou que seu Sycamore (então com 54 qubits) atingiu a chamada Supremacia Quântica – ao realizar uma operação matemática que nenhum computador clássico seria capaz de responder num prazo razoável.
O Sycamore solucionou em 3 minutos e 20 segundos uma conta que demoraria 10 mil anos em uma máquina tradicional. Mais recentemente, em dezembro de 2023, a IBM anunciou novo patamar inédito: o processador Condor, com 1.121 qubits funcionais, primeiro do mundo que ultrapassa a barreira dos 1.000 qubits.
Apesar dos avanços, a computação quântica enfrenta dificuldades de toda ordem. A estabilidade local, segundo Lluis Quiles Ardila, diretor de Inteligência Artificial da NTT DATA, é a principal delas. “Mesmo com os supercondutores do Google e IBM, é necessário que o computador esteja completamente isolado”, afirmou Quiles. A fragilidade do bit quântico, de acordo com ele, exige controles absolutos de temperatura, distância de luz difusa, sons e quaisquer outros tipos de interferência. “A gente consegue representar os qubits, colocá-los para trabalhar, mas superar a barreira da estabilidade segue sendo um desafio.”
MÚLTIPLAS FRENTES
No caso da NTT, um marco recente foi a conclusão do projeto de otimização da sequenciação genética através de tecnologia quântica. Desenvolvido a partir de uma parceria entre NTT Data Brasil, NTT Data Centro de Inovação Quântica e NTT Data Espanha, ele representa um marco na utilização da tecnologia na saúde.
O projeto, segundo Evandro Armelin, demonstrou a capacidade de projeção do quantum computing para melhorar a capacidade de compreender como o corpo humano reage a doenças genéticas ou externas.
Além dessas áreas, ele projeta que esse campo multidisciplinar tem potencial de contribuir com o fim da crise alimentar e demográfica. Além disso, ele afirma que iremos avançar na previsão de eventos extremos e mudanças climáticas. “Estamos falando de uma tecnologia com potencial de disrupção da forma como existimos e exploramos os recursos do planeta”, disse Armelin. “Através da simulação de cenários, os governos terão capacidade de reagir de uma forma muito melhor a cenários complexos.”
As vantagens podem ser ainda mais transformadoras em regiões como a América Latina, reconhecida pela abundância de recursos naturais em contraste com a desigualdade (também) no consumo de alimentos.
Apesar dos avanços, na NTT não acredita que a tecnologia vá substituir a computação clássica. Segundo Lluis Quiles, diretor de IA da empresa, o que vamos ver, na verdade, é um complemento de capacidades. A computação quântica trabalhando em paralelo com a computação clássica e a IA. “A soma dessas três grandes capacidades é que, de fato, vai transformar a forma como nós usamos a tecnologia e como ela gera valor para a sociedade”, disse Quiles.
Ainda acessível apenas para poucos, a adoção do quantum computing deve se massificar em um prazo de cinco a dez anos. No entanto, para os especialistas da NTT Data, o segredo é começar a explorá-la desde já, especialmente as organizações com uso intensivo de dados. “Não se trata de um tema trivial”, afirmou Quiles. “Sendo uma tecnologia radical que está sendo testada e desenvolvida por diversos atores, a qualquer momento ela pode ter um salto de potencialidades, assim como foi com a IA. Aqueles que saírem à frente, se destacam.”
Universo potencial
Entrevista com Evandro Armelin, diretor de Data & Analytics na NTT Data Americas
Como a computação quântica impacta na segurança digital?
Da mesma forma que ela rompe por terra o que a gente compreende hoje como ‘segurança digital’, porque ela possui o potencial de quebrar criptografias, ela também vai criar novas camadas de segurança. Inclusive, muitos governos já investem em computação quântica visando maior segurança de comunicações e maior segurança no tratamento de dados sensíveis.
Quando se trata especificamente do contexto latino-americano, quais as vantagens que essa tecnologia proporciona?
Pode revolucionar temas que estão muito envolvidos com a América Latina, como gestão de recursos naturais, energia renovável e produção de alimentos. O que a NTT Data defende é que, ao adotar o quântico, essa região pode dar um salto e atingir um ponto de inflexão da sua história, da sua presença no mundo e seu nível de desenvolvimento.
A computação quântica é um tema para agora?
Ainda não. Pelo menos não para todos. Neste momento, é um tema a ser explorado por empresas que são intensivas em tecnologia e no processamento de dados. Entretanto, a gente defende que sair na frente é uma vantagem. É uma tecnologia que representa mudanças radicais para toda a área de tecnologia, para tudo que a gente faz.