A Arte como alimento para a alma
Por César Souza
Ela desperta nossas emoções, nos traz bem-estar e muitas vezes oxigena nosso cérebro e nos liberta de equívocos. Precisamos aproveitar o tempo livre, já que a gestão do tempo, ou melhor, da sua escassez, é um desafio que aflige todos nós. O que nem sempre sabemos é como aproveitar bem as poucas janelas que temos de oportunidade sem compromissos urgentes. Muitos desperdiçam esses raros momentos com atividades duvidosas e até mesmo inúteis e acabam, por exemplo, vivendo mais as supostas boas experiencias postadas por terceiros nas redes sociais do que usufruindo dos preciosos intervalos livres de que dispõem. Uma boa fonte de inspiração é o conceito do “ócio criativo”, formulado pelo saudoso sociólogo italiano Domênico De Masi, com quem tive a feliz oportunidade de fazer uma live durante a pandemia, em 2021, para um evento da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH).
Procuro aproveitar os raros tempos livres da minha agenda diária para fazer atividades prazerosas, mas que tenham convergências com minhas necessidades de cuidar da saúde, ampliação de conhecimento, relacionamento com familiares e amigos e a prática da minha cidadania. Assim:
— pratico atividade física diariamente, andando pelo menos três quilômetros e fazendo musculação;
— procuro, antes de dormir, ler algo interessante e lúdico (poemas, contos, romances etc.);
— tomo ‘pílulas’ musicais diárias ao participar do grupo Elegância e Música, no WhatsApp, formado por queridos amigos baianos;
— assisto a pelo menos um bom filme nos fins de semana, além de ir a estádios para alguns jogos de futebol, mesmo de times adversários aos meus favoritos.
Também sempre me inspirei em uma sugestão que ouvi do inesquecível Peter Drucker. Ele revelou que a cada três anos procurava aprender algo completamente novo para enriquecer seu repertório. Assim comecei a me interessar por mitologia, depois por vinhos (visitando vinícolas), por filosofia e por lugares fora do roteiro turístico convencional, como o Arquipélago de Galápagos, Machu Picchu, a Turquia, etc.
Mas uma atividade me encanta de forma diferenciada: visitar ateliês de artistas. Procuro ir muito além dos museus e exposições de arte e conhecer a fonte, o local aonde os artistas produziram suas obras. Na França, Itália, Espanha, Holanda, Suécia, Rússia, nos EUA visitei, com a Cris, as residências e ateliês de artistas como Van Gogh, Cezanne, Renoir, Degas, Picasso, Rembrandt, Dali, Da Vinci, Michelangelo, Matisse, Monet, Delacroix e vários outros. O último foi a casa-ateliê de El Greco em Toledo. São momentos de intenso lazer, prazer, divertimento e bem-estar e, ao mesmo tempo, tenho aprendido, nessas visitas, muito sobre inovação, liderança, tecnologia e cidadania.
Alias, sobre inovação tive incríveis insights na recente ida à Espanha, ao visitar inúmeras obras de Gaudí, Picasso, Miró e Dali, a quem passei a chamar de “Os 4 Cavaleiros do Apocalipse da Arte Tradicional”. Esses artistas foram criativos, geniais e disruptivos: Gaudí criou uma nova linguagem na arquitetura ao projetar obras em Barcelona como a extraordinária Catedral da Sagrada Família, o Park Guell e a Casa Millá, conhecida como La Pedrera; já Picasso, Miró e Dali, além de inspirados por Gaudí e também influenciados pelo teórico do surrealismo, o francês André Breton, produziram um ponto de inflexão na história da pintura, escultura, das instalações artísticas e nas artes plásticas de modo geral. A Catalunha foi um ventre fértil para esses quatro artistas, assim como, permitam-me a ousada digressão e guardadas as devidas proporções, Salvador foi o berço do Tropicalismo disruptivo na década de 1960 no Brasil com Caetano, Gil, Gal, Tom Zé e depois os Novos Baianos!
A arte nos liberta de certas convenções, aguça nossas percepções e nos propicia um olhar diferente que pode nos permitir às vezes juntar o aparentemente injuntável.
César Souza é fundador e presidente do Grupo Empreenda