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Inflação na meta

Crédito: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Carlos José Marques: "Campos Neto, que termina o seu mandato e estabilidade no posto ao final deste ano, com uma plêiade de vitórias extraordinárias à frente do comando da instituição, é o queridinho da banca e muitos temem que a sua saída possa significar um abalo e risco para o projeto monetário em curso" (Crédito: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil)

Por Carlos José Marques

Não pode ser considerado um fato corriqueiro. O Brasil conseguiu cravar uma taxa inflacionária de 4,62% em 2023, dentro do intervalo estabelecido pelo Banco Central de 1,75% a 4,75%, conquista que não se verificava havia três anos. É uma vitória magnânima contra o dragão, feito que sinaliza uma acomodação de preços vital para a retomada econômica. Os dados são do IPCA e contaram com um trabalho ativo não apenas do BC, como também dos ministérios da Fazenda e do Planejamento nas negociações com diversos setores. A política monetária vem dando sinais indiscutíveis de eficiência. Além da carestia, a taxa de juros finalmente começa a retroceder e analistas de mercado garantem que ela ficará abaixo dos dois dígitos em 2024.

Completando o trio de indicadores, o câmbio segue em patamares estáveis e nos últimos tempos não sofreu qualquer intervenção ou interferência do BC. Em resumo: o histórico das cartas financeiras do País não poderia estar melhor. O que esse cenário traz de efeitos colaterais benéficos é imensurável. Não apenas para a qualidade de vida do cidadão — efeito fundamental! —, agora está se falando em estabilidade do mercado, o que cria condições para a retomada dos empregos, dos investimentos, dos projetos empresariais, fazendo girar a roda do PIB na direção certa. Nos bastidores do resultado tem contado muito a sinergia dos ministros Fernando Haddad e Simone Tebet, além, é claro, do completo comprometimento e esforço de Roberto Campos Neto, do BC. Campos Neto, que termina o seu mandato e estabilidade no posto ao final deste ano, com uma plêiade de vitórias extraordinárias à frente do comando da instituição, é o queridinho da banca e muitos temem que a sua saída possa significar um abalo e risco para o projeto monetário em curso. O presidente Lula não dá sinais de que irá prorrogar a estada do técnico no Banco. No início do governo, as rusgas entre os dois ficaram à mostra, com críticas abertas do mandatário. Depois ocorreu uma aproximação e o presidente chegou a convidá-lo para um churrasco no Palácio. Segue, no entanto, como incógnita o futuro dessa relação. A torcida para que eles cheguem a um acordo é grande. Economistas estimam uma menor volatilidade da moeda, da carestia e da Selic, mas acham que tudo depende da trajetória fiscal e nisso uma equipe unida e afinada conta muito. O comportamento dos indicadores, no entender da maioria, estará diretamente vinculado às boas negociações do governo com o Congresso nesse sentido. Existe um certo ceticismo sobre a promessa do déficit zero e a frustração do objetivo poderá levar a uma revisão das expectativas otimistas. O cenário externo, por enquanto, é favorável ao Brasil em vários aspectos e ajuda no controle dos indicadores monetários. É bom que se diga: quase ninguém realmente acreditava que Lula e sua entourage conseguiriam driblar as ameaças que estavam no ar e controlar a inflação da forma como aconteceu. É mérito absoluto de uma boa gestão que ainda está no seu início, mas com promissores avanços. O humor da banca, aos poucos, vai concordando.