Banco Mundial alerta para década de oportunidades perdidas
O relatório Perspectivas Econômicas Globais, do Banco Mundial, traça um cenário de dificuldade para o planeta, ainda sob os efeitos dos conflitos comerciais, guerras, inflação e juros altos
Por Jaqueline Mendes
Se os economistas do Banco Mundial estiverem certos, o ano que começa agora não será moleza. Além de cravar que o período de 2020 a 2024 será o de mais baixo crescimento em três décadas, o relatório Perspectivas Econômicas Globais, em suas mais de 200 páginas, traça um horizonte desafiador após um longo período de alta dos juros, desequilíbrios na cadeia internacional de suprimento e início das guerras Rússia-Ucrânia e Israel-Hamas. “O mundo precisará se unir para enfrentar os obstáculos que terá pela frente, como controle do aquecimento e expansão do fornecimento de alimentos, em vez de guerras e retrocessos”, disse o presidente do banco, o indiano Ajay Banga, ao assumir a instituição em outubro. A seguir, os principais destaques:
Comércio e juros
Espera-se que o crescimento do comércio global seja a metade da média da década anterior à pandemia. Os custos de empréstimos para economias em desenvolvimento, especialmente aquelas cujo Risco País é precário, devem seguir elevados, com as taxas de juros globais travadas em máximas de quatro décadas.
Investimentos
Economias em desenvolvimento, quando aceleram seu crescimento em investimento per capita em pelo menos 4%, por seis anos ou mais, aceleram o crescimento, reduzem a pobreza diminui e a produtividade quadruplica. Outros benefícios também se materializam durante esses booms: a inflação cai e as posições fiscal e externa melhoram. “Os booms de investimentos têm o potencial de transformar economias em desenvolvimento e de ajudá-las a acelerar sua transição energética,” afirmou Ayhan Kose, economista-chefe adjunto do Banco Mundial.
4%
é o mínimo do PIB que uma economia emergente deve investir ao longo de seis anos para obter crescimento produtivo
Crescimento
Projeta-se que o crescimento global desacelere pelo terceiro ano consecutivo e fique em 2,4%. As economias em desenvolvimento devem crescer 3,9%, mais de um ponto percentual abaixo da média da década anterior. Até o fim de 2024, as pessoas de um entre cada quatro países em desenvolvimento, e cerca de 40% da população dos países de baixa renda, serão mais pobres do que eram antes da pandemia. Nas economias avançadas, o avanço deve cair para 1,2% este ano (ante 1,5% em 2023). “Se não houver uma grande correção de rumo, a década de 2020 será conhecida como a das oportunidades perdidas”, disse Indermit Gill, economista-chefe e vice-presidente sênior do Banco Mundial.
3,9% é a previsão de avanço das economias emergentes em 2024. no ano passado, o incremento médio foi de 4,9%
Mudanças climáticas
Para combater as mudanças climáticas e estimular a transformação energética até 2030, os países em desenvolvimento precisarão de um aumento extraordinário em investimentos, de cerca de US$ 2,4 trilhões ao ano. Entre 2023 e 2024, espera-se que o crescimento do investimento per capita nas economias em desenvolvimento alcance uma média 3,7%, pouco mais da metade do registrado nas duas décadas anteriores.
Commodities
O relatório também cita que os governos dos países emergentes muitas vezes adotam políticas fiscais que incentivam oscilação de preços. Quando os aumentos dos preços das commodities estimulam o crescimento em um ponto percentual, por exemplo, os governos elevam seus gastos para esticar a alta para 0,2 ponto percentual. Nas épocas de vacas gordas, a política fiscal superaquece a economia. Nas magras, agrava a crise. Essa “prociclicidade” é 30% mais intensa nas economias em desenvolvimento exportadoras de commodities que em outras economias em desenvolvimento. As políticas fiscais tendem a ser 40% mais voláteis nessas economias que em outras economias em desenvolvimento.
Políticas fiscais
Nos países em desenvolvimento, a dica do Banco Mundial é focar nos gastos públicos para obter um crescimento sustentável. Eles sugerem a construção de um marco fiscal para disciplinar os gastos governamentais e regimes cambiais flexíveis sem restrições à circulação de capital internacional. Em média, essas medidas podem ajudar economias em desenvolvimento a alavancar o crescimento de PIB per capita em até um ponto percentual a cada quatro ou cinco anos. Os países também podem se beneficiar criando fundos soberanos e outros fundos de reserva.
Brasil
Para que o Brasil consiga evoluir, na visão do Banco Mundial, uma melhor educação, especialmente para os pobres, promoverá o crescimento econômico e, ao mesmo tempo, o acesso a melhores empregos. A abertura dos mercados proporcionará novas oportunidades para as empresas menores e preços mais baixos para todos. É sempre bom lembrar: uma economia mais produtiva usa menos recursos. No caso do Brasil, isso significa reduzir o desmatamento, que atualmente é a principal contribuição do país para as mudanças climáticas. Menos desmatamento, por sua vez, é uma base crítica para o Brasil salvaguardar a economia, que depende muito dos serviços ecossistêmicos fornecidos pelas florestas do país, em especial a Floresta Amazônica.