Tecnologia

Startup do ABC paulista cria tokens de carbono para gestão de resíduos

Com valuation de R$ 7,1 milhões, Recicla.se une inteligência artificial a blockchain para transformar coleta de resíduos em moeda digital

Crédito: Trash2money

Recicla.se: clientes recebem tokens de carbono que funcionam como criptoativos (Crédito: Trash2money)

Por Victória Ribeiro

De acordo com levantamento da Associação Brasileira de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), o Brasil reciclou apenas 4% dos quase 82 milhões de toneladas de resíduos gerados em 2022. O número é inferior a nações com mesma faixa de renda, como Chile e Turquia, que representam média de 16% de reciclagem, segundo a International Solid Waste Association (ISWA). Remando contra a maré, a Recicla.se, startup fundada em 2019 em São Caetano do Sul, no ABC Paulista, emerge como uma solução inovadora para facilitar a gestão de resíduos e o descarte ambiental.

Com modelo de assinatura personalizado através da inteligência artificial (IA), a empresa, avaliada em R$ 7,1 milhões, atende clientes de diversos tamanhos e perfis, lidando com diferentes volumes de materiais. A grande sacada é que aqueles que se comprometem com a prática recebem tokens de carbono que funcionam como criptoativos. Só em 2023, a startup foi responsável pela gestão de mais de 6 mil toneladas de resíduos. “Muitas empresas ainda não perceberam que a má gestão de resíduos pode causar impactos negativos não apenas para o meio ambiente, como para a própria marca”, afirmou Matheus Vitor, CEO da Recicla.se.

A partir de uma visão clara e centralizada sobre volume de resíduos gerados, a startup permite melhor planejamento com relação a objetivos ambientais, como:
• a redução de consumo e descarte,
• o aumento de índices de reuso,
• reciclagem,
• compostagem,
• e a mitigação de pegada de carbono.

Além disso, segundo Matheus Vitor, a plataforma ajuda as empresas a cumprirem com obrigações da Política Nacional de Resíduos Sólidos, que desde 2020 estabelece a necessidade de reciclar 22% de todas as embalagens colocadas no mercado.

BLOCKCHAIN

Para que tudo isso aconteça, a IA é peça-chave. “Ela fica responsável pelos cálculos de impacto positivo para cada coleta, geração de insights e métricas”, disse o CEO da Recicla.se. Mas não para por aí. A tecnologia também se une ao blockchain para habilitar empresas para o recebimento dos tokens.

A cada saída de material, é gerado um novo registro na blockchain com todas as informações necessárias para garantir a imutabilidade, a transparência e o rastreamento de todo o processo de descarte de resíduos. “Após a finalização do processo de descarte, o impacto positivo é calculado e do registro da blockchain são minerados tokens equivalentes ao impacto positivo”, disse Matheus.

Apesar dos avanços dos últimos anos, há barreiras evidentes que impedem que o país avance nas suas métricas. Além da falta de fiscalização efetiva, a burocracia e os valores ligados à gestão de resíduos também são dificultadores.

Mesmo existindo uma política nacional, cada estado fica responsável pelas operações relativas ao seu território. “Se uma empresa tem cinco filiais em cinco estados diferentes, isso significa que ela vai precisar lidar com cinco sistemas diferentes. Além de burocrático, isso torna o processo mais caro”, disse.

(Divulgação)

“A má gestão de resíduos pode causar impactos negativos não apenas ao meio ambiente, como para a própria marca.”
Matheus Vitor, Ceo da Startup Recicla.Se

Para driblar o problema, a Recicla.se também busca se destacar por ser uma opção acessível, com planos a partir de R$ 260 e sem taxa de setup. “É uma forma de possibilitar que empresas de todos os portes, principalmente as pequenas e médias, possam fazer gestão adequada e evitar multas”, afirmou o executivo.

As recompensas por meio de tokens também são forte diferencial. “Eles ajudam a tangibilizar o processo de gestão, o que diminui a dificuldade para aprovação de verbas e investimentos em plataformas com essa finalidade.”

NOVA RODADA

Com investimento inicial de R$ 500 mil no desenvolvimento do projeto, a Recicla.se está aberta para investimentos externos e planeja captar R$ 700 mil com a colaboração da Leonara Ventures, oferecendo participação de 10% na empresa.

Com 57 clientes, a startup espera alcançar uma significativa ascensão, atingindo mais de 200 empresas recorrentes e mais de R$ 1,5 milhão de faturamento em 2024.

Além disso, segundo Matheus, a ambição a longo prazo é se tornar a maior plataforma ESG do Brasil. “Queremos nos consolidar como solução conhecida no mercado nacional, buscando abordar outros aspectos da agenda ESG em nossa plataforma.”