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Invasão da Ucrânia faz Rússia perder quase metade de suas reservas; entenda

Dois anos depois do início do conflito, que desidratou o Fundo Soberano da Rússia, o presidente Vladimir Putin observa a deterioração da economia e de seus planos bélicos. Mas nada disso sinaliza o fim da guerra

Crédito: Sergei Savostyanov

Fundo Soberano russo, que deu fôlego a Putin até aqui, já caiu de US$ 100 bilhões para os atuais US$ 56 bilhões (Crédito: Sergei Savostyanov)

Por Jaqueline Mendes

Prestes a completar dois anos, a invasão da Ucrânia pela Rússia ainda não revelou no campo de batalha superioridade militar para nenhum dos lados (apesar do imenso poderio bélico de Moscou), mas causou estragos visíveis e sem precedentes à economia russa, algo que chama a atenção por se tratar do país invasor, não invadido. O próprio Ministério das Finanças do presidente Vladimir Putin admite que os ativos do Fundo Soberano ­— chamado de Fundo Nacional de Bem-Estar (NWF) — despencaram de US$ 100 bilhões antes da guerra para os atuais US$ 56,5 bilhões.

As razões principais para a desidratação das reservas foram:
• os saques do governo para financiar a guerra,
• a demanda por recursos para obras de infraestrutura das áreas contra-atacadas pelos ucranianos,
• e a desvalorização dos títulos russos em empresas mundo afora.

Muitas companhias, especialmente americanas e europeias, reduziram ou acabaram com as fatias de participação do fundo russo. Esses investimentos estavam no caixa de empresas petroquímicas, companhias aéreas e operadoras de transporte marítimo.

Soma-se a esse cenário a deterioração da economia russa por incertezas sobre a perenidade do conflito, segundo a economista Fabiana Orlova. Ela avalia que a imensa maioria das empresas russas perderam a capacidade de negociar com parceiros estrangeiros pela impossibilidade de oferecer garantias de pagamento. “Como não é possível calcular até quando a Rússia poderá bancar a guerra, os negócios no exterior ficam ameaçados em curto prazo”, disse.

FÔLEGO

Mesmo desfalcado, o fundo soberano ainda tem muita lenha para queimar e poderá sustentar o esforço de guerra de Putin por muitos meses.

A Rússia continua a ser alvo de fortes sanções ocidentais, mas a resiliência da máquina do governo comprova que o país se preparou muito bem financeiramente para a invasão. Na semana passada, o Ministério das Finanças retirou 3 bilhões de rublos (US$ 33 milhões) do fundo para cobrir o déficit orçamentário do país no ano passado, à medida que aumentava os gastos militares e ações para proteger a economia.

Toda essa gastança da Rússia não é por mérito da Ucrânia, mas do empenho da Organização Tratado do Atlântico Norte (Otan) em financiar a resistência das forças do presidente Volodymyr Zelensky. As promessas de ajuda militar feitas pela União Europeia e pelos países da aliança militar já ultrapassaram os US$ 112 bilhões (R$ 560 bilhões).

Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, segura as pontas econômicas do país com a ajuda das nações que integram a Otan e querem fechar o cerco a Putin (Crédito:Denis Balibouse )

• Os Estados Unidos lideram com envio, até agora, de US$ 47 bilhões (R$ 235 bilhões) em ajuda, segundo os últimos dados do Instituto Kiel, que registra as armas prometidas e entregues à Ucrânia desde a invasão.

• Depois vêm a Alemanha, que já enviou US$ 8,25 bilhões (R$ 41,25 bilhões).

• E o Reino Unido, com US$ 7,15 bilhões (R$ 35,75 bilhões).

• O Ministério de Defesa da Alemanha anunciou o envio de nova ajuda militar no valor de R$ 3,75 bilhões. Com isso, o total de ajuda de Berlim chega a R$ 45 bilhões.

A maioria dos países que fazem fronteira com a Ucrânia e a Rússia também fizeram um grande esforço orçamentário. Como a Polônia (US$ 3,3 bilhões), a Finlândia (US$ 1,21 bilhão) e a Eslováquia (US$ 660 milhões). Um esforço conjunto para ver se a fonte financeira de Putin seca com o tempo.