O resultado animal da Boehringer Ingelheim
Com receita global de 24,1 bilhões de euros, farmacêutica alemã avança no Brasil em saúde para aves, suínos e ruminantes, além de apostar nos pets
Por Beto Silva
Xavier Andivia ingressou na farmacêutica alemã Boehringer Ingelheim em agosto de 2019 como head de PetVet & Pet Health Care para a região chamada Alamea, que compreende Ásia, América Latina, Oriente Médio e África. Tornou-se gerente regional de negócios desses mercados, localizados principalmente no Hemisfério Sul. Em uma das suas viagens a trabalho, esteve no Japão, onde pegou na mão uma caixinha do medicamento NexGard Spectra, para o tratamento e prevenção de infestações por pulgas, carrapatos e tratamento da sarna de ouvido em cães. Com inscrições em japonês, sabia que o produto era fabricado no Brasil, mais especificamente na fábrica da companhia em Paulínia, no interior de São Paulo. Mas ele nunca imaginou que no ano seguinte pisaria na planta brasileira e veria in loco o remédio saindo da linha de produção com a embalagem descritiva em letras do país asiático.
Espanhol, Andivia foi alçado para presidente da divisão de Saúde Animal no Brasil em 2022, com a expectativa de alavancar as vendas da companhia, como fez na região Alamea. Globalmente, o faturamento foi de 24,1 bilhões de euros em 2022 — número mais recente divulgado pela empresa familiar de capital fechado —, sendo 11,4 bilhões de euros nas Américas.
Em 2021 foram 20,6 bilhões de euros em vendas e 19,6 bilhões em 2020. A maior fatia da receita é da divisão de saúde humana, cerca de 80%. Os outros 20% são de saúde animal. Há ainda uma divisão de biofarma, de contratos específicos para desenvolver desde culturas de células de mamíferos a fermentações microbianas e de leveduras, até a indústria farmacêutica e de biotecnologia — esse vertente, porém, não está amadurecida no mercado brasileiro.
“No Brasil, Tivemos um crescimento sustentável nos últimos anos e é um dos mercados que mais se desenvolve na empresa.”
Xavier Andivia, presidente da divisão de Saúde Animal no Brasil
Apesar da relevância em números totais, é nos produtos para animais que está o maior potencial de desenvolvimento dos negócios do Brasil.
Em quase dois anos no cargo, para o qual foi escolhido também por sua experiência em mercados emergentes, como o México, quando atuou pela Nestlé, Andivia tem colhido bons resultados.
• No último trimestre de 2023, a Boehringer cresceu três vezes mais que o mercado geral no setor de saúde animal, segundo dados da empresa.
• Foi a companhia do setor que mais ganhou participação em market share, com um aumento de 2 pontos percentuais no acumulado do ano até setembro e registrou um aumento 2,8 pontos percentuais no terceiro trimestre de 2023.
• No segmento de pets, uma das áreas que mais cresce no Brasil, conquistou 2,3 p.p. de participação de mercado com o Nexgard Spectra, alcançando 47% de share em endectocidas orais. Globalmente, NexGard gera receita de 1 bilhão de euros anuais. Outro líder de vendas, o Frontline (para tratamento e controle de infestações por pulgas e carrapatos, em cães e gatos a partir de dois dias de vida) alcança 401 milhões de euros.
Segundo Andivia, a perspectiva de crescimento para os próximos períodos continua no mercado nacional. “Nossa expectativa para o Brasil é bem otimista. Tivemos um crescimento sustentável nos últimos anos e é um dos mercados que mais se desenvolve na companhia”, disse o executivo.
A projeção leva em consideração dois cenários principais.
• O primeiro é a continuidade do Brasil na liderança de produção de proteína animal, já que a Boehringer tem clientes gigantes no setor — como a BRF — para o fornecimento de medicamentos e vacinas, para aves, suínos e ruminantes. Além disso, a companhia alemã oferece ao mercado agropecuário treinamento para aplicação adequada dos produtos. “Trabalhamos em parceria com nossos clientes para melhor desempenho dos negócios”, afirmou Andivia.
• O segundo panorama é a cultura dos cuidados com pets pelos brasileiros. A empresa tem investido em marketing para que informações sobre prevenção cheguem com mais facilidade ao público. E, assim, os donos de gatos e cachorros possam investir em produtos com maior frequência antes que os bichinhos fiquem doentes.
O público-alvo é enorme. O Brasil tem a segunda maior população de pets do mundo, segundo estudo do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Saúde Animal (Sindan). São 84 milhões de animais de estimação, atrás apenas dos Estados Unidos, com 135 milhões. “Temos trabalhado junto aos veterinários e com campanhas educativas. É importante manter os animais saudáveis, para que a família se mantenha saudável”, disse Andivia.
ESTRUTURA
Mais de 18 mil quilômetros separam São Paulo e Tóquio, onde Xavier Andivia tocou aquela caixinha de remédio fabricada em Paulínia. A distância dá a dimensão da importância da fábrica brasileira para a empresa alemã, a maior do mundo do grupo fundado em 1885 e que está no Brasil desde 1956.
A planta foi adquirida em 2017, da Merial. Daqui, os itens da Boehringer saem para 130 países. Da produção, 80% são para exportação e 20% abastecem o mercado interno.
A planta está em constante ampliação e modernização. A companhia aplica cerca de 20% de sua receita em pesquisa & desenvolvimento de medicamentos — 4,8 bilhões de euros anuais —, que resultam em atualização das linhas produtivas. O que gera outro fato inusitado nas visitas do presidente da divisão animal. “Cada vez que eu vou até lá, ela está diferente.”
Além da fábrica, a Boehringer possui no País um centro de distribuição em Cajamar (SP), um laboratório de controle de qualidade e um escritório, ambos na capital paulista. São 150 colaboradores em funções técnicas e administrativas e 800 na fábrica. Sem contar os empregos indiretos dos parceiros logísticos que transportam os produtos — alguns em câmeras resfriadas — pelo País e pelo mundo. Uma operação preparada para gerar um crescimento animal da empresa no Brasil.