Os caminhos da neoindustrialização
Por Carlos José Marques
O governo Lula usou de bandas e fanfarras para anunciar midiaticamente a sua nova política industrial. Muita gente, da produção inclusive, tachou o programa de retrocesso, reeditando o que entendem como velhos vícios, repetindo erros do passado, recorrendo ao cacoete do protecionismo. Outros louvaram o programa pela turbina de recursos que pode resgatar a indústria. Serão nada menos que R$ 300 bilhões em financiamento e subsídios, geridos e liberados pelo BNDES, disponibilizados até 2026 para um amplo leque de setores — que abrange desde a agroindústria até os investimentos em saneamento, moradia e o que mais for preciso. O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, rechaça e nega a ideia da volta da famigerada política dos campeões nacionais que no governo Dilma serviu mais para atender a empresas de amigos do que qualquer outra coisa, desconsiderando eficiência e produtividade. A Confederação Nacional da Indústria (CNI), que representa parcela robusta do PIB, fala em neoindustrialização com políticas públicas típicas de nações modernas traçando escolhas para o desenvolvimento sustentável, que incrementa exportação, inovação, emprego e renda. De um modo ou de outro, será decerto um passo adiante após a pasmaceira e palidez de medidas tomadas pela gestão anterior para resgatar a economia. Na toada de incentivos estão contempladas também obras e compras públicas, dentro do contexto do PAC (o Programa de Aceleração do Crescimento), e até mesmo o apoio ao conteúdo local. Não é muito diferente do que potências globais como China e EUA estão fazendo no mesmo sentido. O BNDES será detentor de R$ 250 bilhões do total mobilizado. A atuação estatal no campo da injeção de recursos é defendida com unhas e dentes tanto por Lula como por Mercadante, sob a alegação de que o Estado indutor — no modo deles verem — foi o único eficaz para a viabilização de uma estabilidade estrutural. Analistas apontam que, de fato, retomar a chamada “territorialidade” da produção , da tecnologia e da mão de obra é primordial e o programa federal aponta nesse rumo. Décadas de inércia e de atrasos na competitividade quase sucatearam de vez o parque fabril nacional. É preciso agora tirá-lo do estado torpe em que se encontrava. Não há outra forma de enfrentar a concorrência global nesses novos tempos de avassalador avanço especialmente dos asiáticos. Batizado de Nova Indústria Brasil, o programa chega na verdade com algum atraso ante a quase falência industrial. O socorro estatal promovido e estimulado diretamente pelo presidente Lula teve na sua tessitura o trabalho conjunto dos ministérios do Planejamento e da Fazenda e promete resultados rápidos. A transição energética prometida no escopo das propostas está entre os seus pontos altos, bem como a transformação digital. O controle da torneira nas mãos do BNDES gera algum receio e até desconforto dado problemas pretéritos nos critérios deste banco de fomento, mas nada que não possa ser contornado com uma gestão transparente e efetiva, prometida pela atual direção de Mercadante. O que é importante: o Brasil volta de fato a se mexer nessa seara após longo e tenebroso inverno e isso já é, por si só, excelente notícia.