Clima esquenta no retorno do Congresso e bastidores pegam fogo
Por Paula Cristina e Edson Rossi
Dizem que todo mundo, quando volta de férias, está de bom humor. Essa não parece uma realidade para quem trabalha no Congresso Nacional. No retorno do recesso (de quase dois meses, diga-se de passagem) Arthur Lira, presidente da Câmara, já voltou atirando. Frustrado com os vetos do governo ao Orçamento de 2024 (leia-se derrubada das emendas parlamentares), com a MP da reoneração e com as falas do presidente Lula sobre o papel do Legislativo na busca pelo déficit zero, o alagoano falou, em seu discurso de retorno na segunda-feira (5) que “o Orçamento da União pertence a todos e todas e não apenas ao Executivo. Se assim fosse, a Constituição não determinaria a necessária participação do poder Legislativo em sua confecção e final aprovação”.
A fala de Lira estremeceu a relação entre o Legislativo e o Executivo, relação que nunca foi excelente, mas era mediada, principalmente, por Rui Costa, ministro-chefe da Casa Civil, e por Rodrigo Pacheco, presidente do Senado. O primeiro reflexo já foi sentido no dia seguinte, quando o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, cancelou seu encontro com líderes da Câmara. A reunião dele com os líderes do Senado, no entanto, foi mantida. Ao término dela, o ministro afirmou que a agenda na Câmara foi cancelada a pedido do deputado José Guimarães (PT-CE). Sobre as falas de Lira, disse que “está tudo bem, vai dar tudo bem”.
Mas não é exatamente esse o clima em Brasília. Deputados da base do governo dizem que a tensão com Lira foi ainda maior nos bastidores. A aliados, o deputado que se tornou senhor do dinheiro da nação teria dito que jamais deixaria que alguém o escanteasse para a função de “carimbador”. Uma postura que aumentou a temperatura na já quente Brasília e lembra muito o comportamento de outro político, também alagoano, que já foi presidente do Congresso e era definido pelos colegas como “bombeiro ou piromaníaco, a depender do próprio interesse”. Alguém arriscaria o nome? Dica: é o maior inimigo de Lira.
Contas públicas 1
Números de dentro
A dívida do setor público consolidado registrou alta de 2,7 pontos percentuais do PIB em 2023, atingindo 74,3% do Produto Interno Bruto (PIB), o equivalente a R$ 8,07 trilhões, segundo dados do Banco Central. No fechamento de 2022, a dívida bruta do setor público estava em 71,7% do PIB, ou R$ 7,22 trilhões.Esse foi o primeiro aumento da dívida brasileira desde 2020, ano da pandemia da Covid-19. A alta está relacionada com a piora das contas públicas em 2023 — quando foi registrado um déficit de R$ 249 bilhões, ou 2,29% do PIB, o terceiro pior resultado da história em relação ao PIB. A alta também está relacionado com as despesas com juros, que totalizaram R$ 718 bilhões em 2023, ou 6,6% do PIB, contra R$ 586 bilhões (5,8% do PIB de 2022). Mais uma bomba para Haddad desarmar.
Contas públicas 2
Números de fora
As transações correntes do balanço de pagamentos em 2023 foram deficitárias em US$ 28,6 bilhões (1,32% do PIB), ante US$ 48,3 bilhões (2,47% do PIB) em 2022. A redução de US$ 19,6 bilhões no déficit deveu-se à ampliação de US$ 36,4 bilhões no superávit da balança comercial e à redução de US$ 2 bilhões no déficit de serviços. No ano de 2023, o déficit em renda primária totalizou US$ 72,4 bilhões, 28,1% acima do déficit de US$ 56,5 bilhões ocorrido em 2022. As despesas líquidas de lucros e dividendos de investimento direto e em carteira somaram US$ 45 bilhões em 2023, 21,5% acima dos US$ 37,1 bilhões observados em 2022.
US$ 28,6 bi
déficit 2023 no balanço de pagamentos
Tecnologia
Uber tem primeiro lucro desde IPO
Desde que se tornou uma empresa de capital aberto, em 2019, a Uber não havia lucrado. O ano passado, no entanto, parece ter virado a página. “Para a Uber, 2023 foi um ponto de inflexão, provando que podemos continuar a gerar um crescimento forte e lucrativo em escala”, disse Dara Khosrowshahi, CEO da companhia. “Nosso público está maior e mais engajado do que nunca, com nossa plataforma gerando uma média de quase 26 milhões de viagens diárias no ano passado.” A receita cresceu 15% em relação a 2022, para US$ 9,936 bilhões, e o lucro líquido chegou a US$ 1,9 bilhão, contra prejuízo de US$ 9,1 bilhões de 2022. O número de viagens também disparou, totalizando 9,4 bilhões, alta anual de 24%.
Selic
Novas quedas à frente
O Banco Central (BC) avaliou na terça-feira (6), na ata sobre a última reunião do Copom, que há elementos na economia brasileira que apontam que “a inflação ao consumidor segue a trajetória esperada de desinflação”. Segundo o documento, “os indicadores que agregam os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária estão mais próximos da meta para a inflação que nas divulgações anteriores”. Esses movimentos, segundo o BC, permitem espaços para que as quedas na Selic continuem. No mais recente Relatório Focus, divulgado segunda-feira (5), as projeções para o IPCA em dezembro apontam para um índice de 3,81% e a Selic recuando dos 11,25% atuais para 9%.
Internacional
Sai China, entra México
Pela primeira vez em mais de duas décadas, o México ultrapassou a China e se tornou o principal fornecedor de produtos para o mercado dos Estados Unidos. Os números foram divulgados quarta-feira (7) pelo Departamento de Comércio dos EUA — as exportações mexicanas subiram quase 5% entre 2022 e 2023, para US$ 475 bilhões, enquanto as vendas chinesas aos americanos recuaram 20%, chegando a US$ 427 bilhões. A última vez em que o México exportou aos americanos mais que Pequim foi em 2002.
Balança bate recorde
Indústria da transformação carrega os números
Na quarta-feira (7), o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços anunciou o resultado da balança comercial brasileira de janeiro: superávit de US$ 6,5 bilhões. O número é recorde para o mês desde o início da série histórica, em 1997 e ficou 18,4% acima de janeiro de 2023, quando o superávit foi de US$ 2,3 bilhões.
As exportações somaram quase US$ 27 bilhões.
Todos os setores cresceram:
• Agropecuária (+21%, totalizando US$ 4,3 bilhões),
• Indústria Extrativa (+53,3%, com US$ 8,2 bilhões),
•Indústria de Transformação (+4,6%, com US$ 14,5 bilhões).
Pelo lado das importações, o resultado não oscilou em relação a janeiro de 2023: US$ 20,5 bilhões em janeiro de 2024.
Por categoria econômica,
• Bens de Capital teve alta de 12,3% (totalizando US$ 2,6 bilhões),
• Bens de Consumo cresceu 26,2% (total de US$ 3,2 bilhões),
• Bens Intermediários apresentou retração de 5,2% (somando US$ 12,3 bilhões),
• e Combustíveis teve queda de 11,2% (somando US$ 2,4 bilhões).