Escorado no BNDES, Lula acena para o agro
Com fomento financeiro e obras de infraestrutura, presidente tenta, pouco a pouco, se aproximar do elo mais bolsonarista da cadeia produtiva
Por Paula Cristina
Quando a jornada de Lula III no comando do País começou, poucas coisas eram tão certas quanto as tensões com os empresários do agronegócio. Havia forte resistência ao PT por parte de lideranças do setor, conhecido por ser majoritariamente bolsonarista. De início, Lula não foi nada conciliador, manifestando animosidade com o campo. Depois, passou a trabalhar na aproximação, com um plano safra recorde e incentivos indiretos por meio de obras de infraestrutura e reparação climática, e essa tensão tem arrefecido. Agora, com uma atenção especial do BNDES e a promessa de atender empresários de todos os portes, essa relação parece ter avançado. Para o bem.
No evento para divulgar a montante de R$ 6 bilhões a serem disponibilizados em crédito para o agro por meio do banco público de fomento, a participação e engajamento dos empresários foi bastante positiva — e bem diferente da vista em algumas feiras do agronegócio no ano passado.
“A relação está muito melhor. Isso porque, uma hora ou outra, o empresariado percebe que nosso objetivo não é político ou ideológico, é um projeto de País que, dando certo, melhora a vida de todos”, afirmou à DINHEIRO o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Carlos Fávaro.
São várias as ações apresentadas pela Pasta.
• Ampliação da linha de financiamento dolarizada e com taxa fixa, destinada para quem tem receitas ou contratos em dólar. Serão R$ 4 bilhões para financiar produtores rurais e cooperativas de produção, beneficiando principalmente agroexportadores. No total, desde o início da criação da Taxa Fixa do BNDES em Dólar (TFBD), em abril de 2023, só foram disponibilizados R$ 8 milhões, mesmo à taxa de juros de 7,59% ao ano.
• Incremento no programa BNDES Procapcred. Para reforçar seu alcance, foi aprovada a nova dotação orçamentária de R$ 2 bilhões, que segundo o presidente do banco, Aloízio Mercadante, tem poder de potencializar até R$ 18 bilhões em negócios de cooperativas. A vigência foi estendida até o fim de 2025 e o rol de clientes, ampliado. O limite de financiamento passou de R$ 30 mil para R$ 100 mil por cliente, a cada dois anos. Segundo Mercadante, hoje o Brasil tem 20,5 milhões de pessoas organizadas em cooperativas com o faturamento de R$ 655 bilhões.
• O BNDES também concluiu uma captação de R$ 808 milhões em Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) por meio de oferta privada no mercado doméstico. A captação contribui para compor o funding do banco destinado ao financiamento de investimentos na atividade agropecuária.
• Há ainda um exercício coordenado entre alguns ministérios para fortalecer o agronegócio como parte das soluções climáticas que o Brasil precisa apresentar ao mundo. Recentemente, o ministro Fernando Haddad confirmou que estava trabalhando junto a Faváro, Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), Marina Silva (Meio Ambiente), Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Simone Tebet (Planejamento) para formar um cordão em direções a melhores práticas no campo.
GUARDA-CHUVA
A ideia é que uma formação conjunta ajude na eventual aprovação do acordo comercial com a União Europeia, facilite o caminho para novos mercados externos e, de quebra, solucione alguns problemas que o Brasil deve enfrentar com os impactos climáticos previstos para este ano.
Segundo Fávaro, as políticas públicas de fomento, quando aliadas a um projeto de reparação e cuidado com o clima, têm potencial para ser formidável. “Tenho certeza de que os desafios dessa nova safra, que está em curso, e na qual tivemos intempéries climáticas e preços de commodities achatados, serão superados.” E Lula segue à espera de colheita positiva, depois de um período semeando (e adubando) boas relações.