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Hotel Ort, em Campos do Jordão: uma história reescrita no maior capricho

Adquirido em leilão por um publicitário, totalmente reformado e rebatizado como Ort, hotel lendário de Campos do Jordão volta a ser um destino de luxo com experiências relaxantes e gastronomia eleita a melhor da cidade

Crédito: Carolina Lacaz

A construção de 1943 após a reforma e o fireplace no jardim: novas atrações sem perder o charme do passado (Crédito: Carolina Lacaz)

Por Celso Masson

Imagine o mundo no início da década de 1940. Uma guerra iniciada pela Alemanha ganhava proporções transcontinentais. Viajar para a Europa, nem pensar. Embora tomasse parte no conflito, o Brasil permanecia relativamente seguro por sua posição geográfica. E foi nesse contexto que alguns empresários se uniram para criar no interior de São  Paulo um destino turístico capaz de atrair a elite brasileira e até estrangeiros. O lugar escolhido: Campos do Jordão, estrategicamente situado na Serra da Mantiqueira, a uma distância relativamente próxima da capital paulista, do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte. Com altitude acima de 1620 metros, a cidade mais alta do Brasil passou a receber investimentos na infraestrutura hoteleira para acolher o turista de alto poder aquisitivo. Entre os empreendimentos que pretendiam fazer de Campos do Jordão a Suíça brasileira estava o Orotour, inaugurado em 1943. Agora avance no tempo até 2020, ano em que teve início a pandemia de Covid-19. Abandonado, o hotel foi a leilão.

O martelo foi batido em maio no lance dado pelo publicitário Fabio Burg, dono da agência Rái, uma das três maiores do Brasil entre as independentes, com 200 colaboradores. “Eu sempre quis trabalhar com hotelaria, mas não teria condições de comprar de outra forma”, afirmou à DINHEIRO.

Segundo ele, o Orotour estava inabitável, com cortina de plástico nos banheiros e roupas de cama tão gastas que alguns hóspedes preferiam levar de casa. “Falei para minha família: ‘se nada der certo, ficaremos com uma casa bem grande em Campos’.”

Deu tão certo que ele agora pretende abrir novos hotéis — ainda que não revele onde e nem quando.

(Divulgação)
Interior de uma Berg Haus, nome dado aos chalés que chegam ter 180 m² de área construída, e a piscina coberta que também foi ampliada. O lazer se tornou um dos atrativos do hotel (Crédito:Divulgação )

Sob a gestão de Burg, inteiramente reformado e com o nome Ort, o hotel se tornou um enorme sucesso, com taxas de ocupação
acima da média da cidade nos fins de semana e lotação completa em feriados e na alta temporada.

• A área original, de 21 mil m², mais que dobrou após o novo proprietário adquirir terrenos vizinhos.
• A arquitetura em estilo bávaro da construção original foi mantida, mas todos os detalhes da decoração foram atualizados, da piscina coberta ao spa, passando pelo bar e os dois restaurantes.
• Ganhou novas acomodações, com chalés para famílias inteiras (chamados Berg Haus, com até 180 m²) e uma estrutura completa de lazer, com spa, academia e um espaço externo chamado Natur, com uma convidativa piscina climatizada ao ar livre onde é vedado o acesso de crianças.
• Os pequenos têm muita coisa para interagir, de um “brinquedão” à fazendinha com animais.
• Para os aventureiros, há arvorismo e tirolesa.
Até uma sala de cinema foi montada para entreter os hóspedes.

“O antigo proprietário tinha um modus operandi que era deixar as pessoas curtirem a cidade e não o hotel. Até a parte da recreação da garotada era terceirizada. Nós invertemos essa lógica. O Ort agora é um destino”, afirmou.

RESTAURANTES PREMIADOS

A proposta é ser “um paraíso de descanso, lazer e gastronomia”. Burg tem investido bastante para que isso ocorra — e alguns resultados já apareceram.

Os dois restaurantes do Ort, o Küche e o ÔPA, foram eleitos pela plataforma Tripadvisor respectivamente o primeiro e o quarto colocado na preferência dos turistas de Campos do Jordão.

Para chegar a esse resultado, Burg contratou profissionais tarimbados que passaram por alguns dos estabelecimentos que ele mais admira, caso dos concierges do Four Seasons São Paulo (que fechou na pandemia) e do Hyatt.

O mâitre trabalhou com Claude Troisgros e no Palácio Tangará. O atual chef de cozinha, Edmar Mendonça, passou pelo Botanique, referência de luxo na vizinha Santo Antônio do Pinhal (SP). “Eu pago bem para atrair os melhores talentos que queiram morar em Campos do Jordão”.

Recentemente, o Ort convidou quatro participantes do programa Master Chef para dividir a cozinha com o titular, em menus preparados a quatro mãos. Grande pedida para iniciar ou encerrar a noite, o Bar Muzik tem uma carta de drinques autorais que podem ser bebidos ali mesmo, na sala da lareira ou no fireplace do lado de fora.

Sobremesa servida no restaurante Küche, eleito o melhor da cidade pelo Tripadvisor, e o Bar Muzik, com ótima carta de drinques (Crédito:Divulgação )
(Divulgação)

A gastronomia é um forte apelo do Ort, mas não o único. Em meio à Área de Proteção Ambiental (APA) Campos do Jordão, onde é possível caminhar por trilhas, o terreno ganhou dois vinhedos, com mudas de uvas viníferas importadas da Itália e que futuramente darão a matéria-prima para vinhos próprios.

Azeite o hotel já produz, por enquanto extraído de abacate e não de oliva. “Plantei 270 oliveiras e construí uma fábrica para processar o óleo”, disse Burg.

Embora seja uma atração para os hóspedes, o lugar será em breve convertido em pizzaria, para atender também ao público externo. “Como o movimento dos nossos restaurantes é intenso, o espaço de circulação às vezes fica exíguo”, disse Burg. Um problema que muitos donos de hotel adorariam ter.