Gigante do setor de saúde, Dasa luta pela diversidade racial; confira
Com 50 mil funcionários e 23 milhões de atendimentos ao ano, rede de laboratórios e hospitais lança guia de atenção à saúde da população negra e aumenta presença de pretos e pardos em cargos de liderança
Por Sérgio Vieira
Tente imaginar essa cena repugnante: uma mulher branca chega a um laboratório de análises clínicas para coletar amostra de sangue. E, ao se deparar com um funcionário negro, se recusa a realizar o procedimento. Ela ainda pergunta se não teria alguém de pele clara para fazer o trabalho. Pois foi exatamente isso que aconteceu em uma unidade da rede de saúde Dasa, em São Paulo, no ano passado. A falta de noção da cidadã era tão grande que ela própria chamou a Polícia Militar. Resultado: saiu de lá algemada. “Isso é inaceitável. A gente não garante apenas a questão jurídica, mas todo o acolhimento psicológico. Cuidamos do ser humano”, disse à DINHEIRO Nelcina Tropardi, diretora-geral de jurídico, relações governamentais, ESG, auditoria interna e compliance da Dasa.
Esse cuidado inclui, na agenda da companhia, ações para a garantia da equidade racial, além do respeito e empatia. Tanto para os colaboradores quanto para os próprios pacientes.
• A Dasa hoje conta com cerca de 50 mil trabalhadores distribuídos nos mais de 900 laboratórios e 15 unidades hospitalares no Brasil, com mais de 3,5 mil leitos.
• Da mão de obra, a empresa conta hoje com 37% de negros com cargos de liderança gerencial (supervisores e gerentes). A meta é alcançar a marca de 50% desses postos em toda a rede ocupados pela população preta e parda até 2030.
“Tudo que foi feito em termos de saúde sempre teve como foco a população branca, que está longe de ser a maioria no País.”
Nelcina Tropardi, diretora-geral de Jurídico, Compliance e ESG da Dasa
Os trabalhadores da empresa são treinados para saber lidar com situações de estresse ligados à discriminação racial, seja qual for o lado do balcão. A
inda com um olhar mais cuidadoso, a Dasa criou o guia de atenção à saúde da população negra, voltado para profissionais do setor.
“Tudo que, de uma forma geral, foi feito em termos de saúde, sempre teve como foco a população branca, mas esse segmento está longe de ser maioria no País”, afirmou a executiva. Ela tem razão. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 56% da população brasileira se declara negra, sendo 10,6% de pretos e 45,3% de pardos.
O material produzido pela Dasa traz dados sobre o conceito de racismo estrutural, além do impacto que ele teve na saúde das pessoas pretas e pardas. Também trata das doenças que mais acometem esta parcela da sociedade. “Nossa intenção foi lançar um material trazendo as especificidades voltadas a este público, para que a comunidade científica possa ter esse olhar mais claro”, disse Nelcina.
A Dasa, que integra o Índice de Diversidade da B3 (IDIVERSA), implantou o programa Acolhe Trans, justamente para incluir e dar todo o respaldo para o funcionário trans. “A gente oferece avaliação, que inclui passar por consultas médicas, eventualmente cirurgias, o nome social. É importante lidar com isso de uma forma humanizada.”
Segundo o relatório de sustentabilidade 2023 da companhia, foram contratados no último ano 144 profissionais trans, 134 lideranças negras e 302 pessoas com deficiência.
A questão de gênero é outra pauta tratada com atenção pela Dasa. As mulheres respondem por 43,8% na posição de liderança da companhia. Do mesmo modo, a meta é chegar à metade do quadro dessas funções em seis anos. O compromisso foi assumido a partir da adesão dos movimentos Elas Lideram 2030 e Raça é Prioridade, do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU).
CENÁRIOS DIVERSOS
A complexidade está em conseguir levar essa equação às quase 1 mil unidades da Dasa espalhadas pelo Brasil, em cenários dos mais diversos. “Esse cenário é diferente de muitos negócios, já que nossa presença é muito grande nos municípios.” Outro foco está no cuidado com a saúde da mulher, principalmente as que apresentam condições de vulnerabilidade social.
Um exemplo foi a implementação do projeto Rede Mondó, idealizado pela Associação Nacional das Universidades Particulares (Anup), e realizado em Breves, município localizado no Arquipélago de Marajó (PA). Durante o auge da pandemia, foram capacitados 400 educadores para garantir o retorno às aulas, e treinamento de emergência para 180 profissionais de saúde e educadores.
Em projetos sociais, a Dasa investiu no ano passado R$ 4,8 milhões. Nesse movimento está incluído aporte em projeto de sequenciamento genético da população brasileira. “Queremos mapear o DNA do brasileiro. Há muita referência europeia, mas qual é de fato essa referência? É muito diverso e nosso trabalho é chegar a esse resultado”, disse. O resultado completo deve ficar pronto em três anos.
Para Nelcina, ações de acolhimento estão no pilar das iniciativas da Dasa, especialmente pelo fato de ser uma empresa de saúde e de atender 23 milhões de pessoas ao ano. “A sustentabilidade está muito ligada à saúde. Essa preocupação de respeito à diversidade é fundamental. As pessoas querem um atendimento humanizado, principalmente no momento em que elas estão mais fragilizadas”, afirmou. “A gente não quer que ninguém seja discriminado, seja paciente ou funcionário, pela cor da sua pele ou por qualquer outra questão.”
Outro foco da Dasa na agenda ESG tem sido trabalhar na redução das emissões de CO2 e no aumento do uso de energias renováveis em sua operação. “Temos dois fortes emissores, que são o ar-condicionado e os gases anestésicos. Tem sido um grande desafio buscar alternativas. E acredito que esse assunto vai ganhar mais corpo neste ano, a partir da aprovação do projeto do mercado de carbono”, afirmou.
Recentemente, a Dasa contratou, via consórcio, nove usinas solares de projetos de geração de energia, que atendem 193 unidades da companhia em Minas Gerais, Bahia, Paraná, São Paulo, Ceará, Rio de Janeiro, Goiás e Maranhão.
Além dessas, em São Paulo e no Rio há três usinas solares em fase avançada e uma em estágio inicial de construção. “A gente espera contar, até o fim de 2024, com 13 usinas solares, o que vai nos garantir o atendimento de energia para 339 unidades da Dasa”, disse a diretora-geral.
No ano passado, 110 unidades da companhia, incluindo os 15 hospitais, migraram para o mercado livre de energia, também com geração proveniente de fontes renováveis. “Esse é o nosso compromisso de redução na emissão dos gases de efeito estufa. E vamos mapear outras formas para minimizar esse impacto.”