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Xiaomi cresce e assusta Apple e Motorola

Fabricante chinesa ultrapassa 15% de market share no Brasil. Plano de expansão inclui o lançamento da linha Redmi Note 13 e dobrar as atuais 29 lojas

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Novos celulares Xiaomi: operação no Brasil é feita por canais oficiais e não oficiais, gerando bônus e ônus à empresa chinesa (Crédito: Divulgação )

Por Beto Silva, de Bogotá (COL)

Na mitologia grega, Apolo e Dionísio são filhos de Zeus. Apolo é considerado o deus da razão e do raciocínio lógico. Enquanto Dionísio é caracterizado pelo cão, com apelo das emoções e instintos. Apesar das diferenças, não eram considerados opostos ou rivais. Muitas vezes, inclusive, os atributos de cada um eram analisados como complementares. A dicotomia desse conceito filosófico se encaixa na atuação no Brasil da fabricante chinesa de smartphones Xiaomi.

De um lado, a companhia empreende com a razão, com as vendas de celulares por canais oficiais, a partir da parceria com a DL, importadora e distribuidora de produtos do portfólio Xiaomi no território nacional.
Do outro, tem uma espécie de caos com o chamado ‘mercado cinza’, em que os produtos da marca são comercializados em canais não oficiais, com preços mais baixos, pois entram no País sem os devidos impostos. Nele, não há garantia para quem compra, nem obrigação da fabricante de oferecer assistência técnica. Nesse caso, gera ainda imagem negativa para a produtora.

O fato é que as vendas pelos dois canais acarretam em ônus e bônus para a Xiaomi em alguma medida, além de serem complementares – assim como Apolo e Dionísio – porque ambos contribuem com seu faturamento global, que fechou 2022 em US$ 38,9 bilhões.

A companhia está atenta às consequências dessas oposições. Uma das maneiras de resolver e pender pelo lado mais racional do mito grego seria abrir uma fábrica em solo brasileiro. Isso vai ocorrer. Mas ainda não se sabe quando. O Custo Brasil, principalmente o peso dos impostos, impede o avanço do projeto da fabricante chinesa.

“A parte tributária do Brasil é complexa. Estudamos há anos abrir uma fábrica, mas ainda existem muitas barreiras”, disse à DINHEIRO Charlie Guo, general manager da Xiaomi na América Latina, em evento de lançamento da linha Redmi Note 13 realizado em Bogotá, na Colômbia, no fim de março.

Ao contrário da Argentina, que concedeu inventivos fiscais para a empresa se instalar por lá. Na terra dos hermanos, os chineses também encontraram um parceiro de negócios para produzir e distribuir os produtos.

Nova linha do smartphone Redmi Note 13 e de outros 500 produtos está disponível no site e nos 29 pontos de vendas físicos, entre lojas e quiosques. Meta é dobrar o número neste ano (Crédito:Divulgação )

Na avaliação de Guo, uma planta no Brasil faria os preços dos celulares Xiaomi serem mais competitivos e, com isso, ganharia mercado. “Alguns de nossos concorrentes têm custos 30% mais baixos por produzirem no Brasil”, disse o executivo, ao referir-se a Samsung e Motorola.

Os aparelhos da Apple comercializados por aqui continuam sendo fabricados fora, inclusive na China. A estratégia da Xiaomi tem sido entregar configurações robustas e não aumentar os preços – os três modelos Redmi Note 13 que chegaram ao Brasil (4G, 5G e Pro 5G) estão com valores praticamente iguais aos do lançamento da linha 12, do ano passado (a partir de R$ 1.839,99).

São smartphones intermediários, com algumas especificações de versões topo de linha, como a câmera com 200MP.

• Julio Monteiro, sócio da Megamatte e vice-presidente da ABF-Rio, avalia que um dos diferenciais da Xiaomi é justamente o custo-benefício. “Isso torna os produtos da Xiaomi particularmente atraentes para o consumidor brasileiro, que busca tecnologia avançada a preços acessíveis.”

• Fabiano Nagamatsu, CEO e fundador da Osten Moove, aceleradora venture studio capital, analisa que a comunidade de fãs da marca e o marketing bem feito também contribuem para a Xiaomi superar os obstáculos no Brasil. “Isso eleva cada vez mais a opinião sobre os produtos da empresa e, de certa forma, influencia as pessoas que querem trocar o celular a optarem por comprar um Xiaomi”, disse o especialista.

CRESCIMENTO

Mesmo sem uma fábrica verde-amarela para chamar de sua, a companhia chinesa ganha espaço no País.

Segundo dados da Statcounter, a participação da Xiaomi no mercado nacional de celulares era de 1,71% em 2019, ano em que retomou as vendas diretas no Brasil após um período de insucesso em 2015.

Cresceu ano a ano até alcançar 15,65% em janeiro de 2024. Está na quarta colocação, colada na Motorola, com 18,86%.

A Apple está na segunda posição, com 19,13%.

A líder Samsung tem 36,9%.

Em levantamento da Canalys, com dados do terceiro trimestre de 2023, a Xiaomi está na terceira posição no País, na casa de 20%. Esse dado é comemorado por Thiago Araripe, gerente de marketing da Xiaomi no Brasil. “Fechamos o ano passado com um crescimento anual de 34% em vendas. Ainda não podemos afirmar quando nos tornaremos a segunda colocada no mercado nacional, porém, os dados são otimistas para que continuemos crescendo em médias acima de 2023”, afirmou, ao observar que a expectativa é de aumento de 20% nas vendas da série Redmi Note 13, em relação à geração anterior.

Por aqui, a Xiaomi também comercializa outros 14 modelos, entre as linhas Redmi, Xiaomi Lite e POCO.

Os smartphones representam 50% do total da receita da empresa no Brasil.
A outra metade vem de produtos como tablets, smartwatches, fones de ouvido bluetooth, além de itens menos convencionais: fonte de água, ração para pets, robô aspirador, guarda-chuva inteligente e saca-rolhas elétrico.

Gianluca Di Mattina, especialista em investimentos da Hike Capital, destaca a ampla variedade de produtos da marca como diferencial. “Isso amplia seu alcance no mercado e atrai diferentes tipos de consumidores.”

São produtos vendidos no site oficial e muitos deles nos 29 pontos oficiais físicos, entre lojas e quiosques. A meta é dobrar esse número ainda em 2024, de acordo com Paulo Xu, presidente da DL importadora e distribuidora, que cuida dessa operação no Brasil. “Para este ano, planejamos um crescimento de 50% de faturamento. Já temos mais de 500 produtos diversos.”

Entusiastas de tecnologia, os consumidores brasileiros já estão de olho em lançamentos da Xiaomi, como o primeiro carro elétrico da marca, o SU7. Ele ficará restrito ao mercado chinês pelos próximos três anos, para depois ser distribuído — e fabricado — globalmente.

O cão-robô da empresa (Cyber Dog 2) também desperta o interesse dos brasileiros. Com câmeras e sensores de voz, acompanha o dono e tem “sentidos” de toque e audição para interação. É comercializado apenas na Ásia, por enquanto.

Há ainda o CyberOne, robô humanoide com capacidades de detecção de expressões humanas e aprendizado avançado. O protótipo atrai curiosidade por onde é apresentado. São equipamentos embarcados com alta tecnologia, para mostrar ao mundo a força e a capacidade da Xiaomi. Seja com o conceito filosófico de Apolo o de Dionísio.