De olho na liderança, Hyundai eleva investimentos no Brasil

Por Angelo Verotti

As montadoras de automóveis enfrentaram períodos turbulentos no Brasil após o advento da pandemia, em 2020. Mas o pesadelo por causa da paralisação das atividades e da falta de componentes parece ter ficado para trás diante dos investimentos anunciados pelas principais fabricantes no País nos últimos meses. Com os R$ 5,44 bilhões prometidos pelos sul-coreanos da Hyundai ao presidente Lula na semana passada, o montante programado até 2032 ultrapassa os R$ 41 bilhões. O movimento do setor acompanha o crescimento dos emplacamentos no mercado nacional. Foram 2,1 milhões no ano passado, contra 1,9 milhão de 2022.

O investimento da Hyundai foi anunciado diretamente ao presidente Lula pelo CEO global Euisun Chung, que, no entanto, não detalhou como aplicará os recursos. Segundo ele, os planos da bandeira asiática convergem com o programa Mover, Mobilidade Verde e Inovação, anunciado pelo governo federal no fim do ano passado e que incentiva a fabricação de veículos híbridos e elétricos.

Já o Palácio do Planalto afirmou, em comunicado, que o montante será destinado ao desenvolvimento de novas tecnologias, em especial para a criação de híbridos, elétricos e até de modelos por célula de combustível a hidrogênio. Já, de acordo com Lula, o país estável e com futuro recebe mais investimentos. “Mais uma grande empresa crescendo em nosso país”, disse.

A estratégia não chega a ser uma novidade nos projetos da empresa para o País. A Hyundai possui linhas elétricas no mercado brasileiro, em parceria com a Caoa, que resultou na comercialização de veículos como Kona, Kona EV e Ioniq. Diante dos últimos resultados anuais, HB20, HB20S e Creta, os modelos mais vendidos da montadora no Brasil, podem fazer parte do plano de eletrificação.

A Hyundai é a quarta maior montadora em número de emplacamentos no Brasil. Essa condição foi conquistada tanto no acumulado de 2023, quando a empresa respondeu por 10,81% dos negócios – atrás da líder Volkswagen (16,87%), da vice-líder Fiat (16,11%) e da GM (15,79%), em terceiro –, quanto em 2024.

Em janeiro, o HB20 foi o modelo mais vendido entre os veículos de passeio no Brasil, com 7,4 mil unidades. No ano passado, o hatchback somou 88,9 mil vendas, perdendo para o Onix, em segundo (102 mil), e para o Polo, da Volkswagen, em primeiro lugar (111,2 mil).

Já o Creta foi o líder entre os SUVs no mês passado, com 4,9 mil unidades emplacadas. “Começamos muito bem o ano, com nossos dois principais modelos entre os cinco mais vendidos”, afirmou Angel Martinez, vice-presidente de Vendas da Hyundai Brasil. “O consumidor brasileiro cada vez mais reconhece a qualidade e valoriza o pacote de segurança, conectividade e conforto que esses modelos trazem.”

CONCORRÊNCIA

A Hyundai é a terceira fabricante automotiva a anunciar pacote bilionário de investimentos no Brasil só neste ano, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

• Anteriormente, a GM, dona da marca Chevrolet, anunciou plano de investimento de R$ 7 bilhões, que serão aplicados entre 2024 e 2028. O montante será utilizado na atualização de suas plantas, o lançamento de seis veículos ainda em 2024 e a renovação de todo o portfólio até o fim do ciclo. A marca também afirmou que modelos eletrificados, sem cravar se híbrido ou elétrico, fazem parte dos planos.

• A Volkswagen prometeu R$ 9 bilhões até 2028. A empresa lançará 16 novos veículos de passeio até 2028, incluindo modelos híbridos, 100% elétricos e total flex. No primeiro momento, o novo aporte contempla o desenvolvimento e a produção de projetos com foco em descarbonização para as quatro fábricas da Volkswagen do Brasil: São Bernardo do Campo, Taubaté e São Carlos, em São Paulo, além de São José dos Pinhais, no Paraná. Outros R$ 7 bilhões já são aplicados desde 2022 com prazo até 2026.

• Os demais investimentos programados até 2032 foram anunciados por GWM (R$ 4 bilhões entre 2022 e 2025 e R$ 6 bilhões de 2026 a 2032); Renault (R$ 5,1 bilhões de 2021 a 2027); Caoa Chery (R$ 4,5 bilhões entre 2021 e 2028); BYD (R$ 3 bilhões de 2024 e 2030) e Nissan (R$ 2,8 bilhões de 2023 a 2025).

• A Stellantis deve anunciar em março o maior investimento de sua história no Brasil e na América do Sul. O planejamento da detentora das marcas Fiat, Jeep, Citroën e Peugeot deve incluir a produção não apenas de veículos híbridos flex, mas também do primeiro modelo elétrico da fabricante no País.