Por condução da Selic, Roberto Campos, do BC, brilha no G20
Boa condução da política monetária coloca o país na vanguarda do controle de preços pós-pandemia, e abre o caminho para atrair o capital estrangeiro
Por Paula Cristina
A liderança do Brasil no grupo das 20 maiores economias do mundo caiu muito bem para a persona que o presidente Lula tem perseguido em sua terceira gestão. Influência mundial, líder popular e mediador de conflitos. No entanto, na primeira reunião do grupo em solo brasileiro, o protagonista não era ninguém ligado ao PT, muito pelo contrário. Foi o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ele ganhou ares de guru entre os representantes das áreas de política monetária de todo o mundo, tudo pelo sucesso da condução da Selic em direção ao controle da inflação brasileira. À DINHEIRO, o chefe do BC afirmou que não há caminho para redução da desigualdade sem controle inflacionário. “A estabilidade monetária é fundamental para alcançarmos níveis de desemprego, renda e sustentabilidade financeira capazes de reduzir as diferenças sociais”, afirmou.
Os apontamentos de Campos Neto foram endossados por outros nomes relevantes da economia mundial. Um deles, o do presidente do Banco Mundial, Ajay Bang, que vê uma situação similar ao redor do globo. “A verdade é que, após a pandemia, as grandes nações se endividaram demais, pressionaram a inflação local e isso levou a um efeito em cascata de alta dos preços ao redor do mundo”.
Na visão do Bang, estabilizar os preços administrados precisa ser a prioridade zero das nações desenvolvidas porque disso depende o crescimento dos emergentes, dos menos desenvolvidos e do andamento do comércio global.
Campos Neto, em seu discurso de abertura da reunião do G20, em São Paulo, afirmou que sua missão primeira, como presidente do Banco Central, era equilibrar a moeda desde o começo da pandemia, o que também permitiu a redução dos juros mais cedo. “A inflação atinge de forma desproporcional os pobres e os ricos. Sabíamos que o período pandêmico seria delicado, mas estou certo que agimos no tempo ideal para que os impactos fossem os mínimos na inflação”, afirmou.
POLÍTICA ECONÔMICA
A política monetária brasileira não foi a única a ser usada como um exemplo positivo na estabilização de uma moeda em tempos de crise. As decisões econômicas, encabeçadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também receberam louros.
A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, chamou de histórica a aprovação da Reforma Tributária, e disse haver grande potencial de negócios com o Brasil, que atrairá cada vez mais atenção do capital estrangeiro. “As soluções para a questão climática, o investimento verde, o controle da inflação e a tributação simplificada fazem do Brasil mais do que uma promessa”, afirmou.
Com a intenção de tentar capitalizar essa imagem positiva, Haddad tem tentado vender um Brasil mais verde. Para isso foi lançado o Eco Invest, em uma parceria com a Fazenda e o Meio Ambiente, iniciativa que já nasce com US$ 5,4 bilhões do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e US$ 1 bilhão do Banco Mundial.
À DINHEIRO, o presidente do BID, Ilan Goldfajn, detalhou o projeto. O Banco capta no exterior o swap cambial com risco reduzido, “tornando o custo desse produto financeiro baixo”. Com isso, o dinheiro é passado para o Banco Central do Brasil, que repassa para os bancos públicos e eles oferecem o produto às empresas que querem investir. Para esse produto, o BID pode investir US$ 3,4 bilhões.
O outro crédito a ser oferecido é o uma espécie de empréstimo de liquidez para as empresas em momentos de muita oscilação de curto prazo. Para este mecanismo, serão destinados outros US$ 2 bilhões do BID, e US$ 1 bilhão do Banco Mundial. “Se der certo no Brasil, isso explode no mundo todo”, disse Goldfajn.
Para Fernando Haddad, a iniciativa inaugura uma nova fase na captação de dinheiro estrangeiro, e ainda estão sendo discutidas novas formas de incluir os bancos privados no que ele chamou de onda verde. “Queremos diminuir o custo do dinheiro no Brasil, e isso envolve dar aos bancos melhores condições de negociar também”, disse o ministro.
O presidente do BC também falou sobre a novidade, e garantiu que nada será usado das reservas cambiais. Todo o dinheiro é originário das organizações multilaterais, que vêm de bancos internacionais para bancos brasileiros para os clientes passando pelo Banco Central. E assim a trilha começa a tomar forma.