Desequilíbrio previsível
Por Celso Masson
Melhoras na saúde e educação. Piora nas contas públicas. Esse é o resultado mais evidente da mudança de governo no Brasil após a eleição de Lula para seu terceiro mandato presidencial. Na comparação com o ano anterior, o País avançou em 66 indicadores, piorou em 20 e manteve-se estável em 13, segundo avaliação elaborada pelo jornal Folha de S. Paulo que levou em conta dados fornecidos por ministérios e por órgãos como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Banco Central.
Evidentemente, muito do que foi avaliado não se deve à atuação direta do governo federal. Parte do resultado depende de outros agentes públicos e privados — de gestores municipais e estaduais ao Congresso Nacional —, além de iniciativas empresariais e de conjunturas externas. O desempenho do agronegócio brasileiro, por exemplo, se deve a um conjunto de externalidades que afetam a produção e impactam nos preços dos alimentos que o Brasil exporta.
Apesar das variáveis que não permitem inferir erros ou acertos de políticas públicas, há uma comparação possível com o próprio governo anterior. Análise semelhante feita no início de 2020, antes da pandemia de Covid-19, resultou em um placar ruim para Jair Bolsonaro. Dos 104 indicadores levantados pela mesma Folha, 58 tiveram piora, 41 melhoraram e cinco ficaram estáveis. Previsivelmente, as áreas de retrocesso naquele ano foram saúde, educação e meio ambiente. Apenas na Amazônia o desmatamento cresceu 29,5% em 2019. As queimadas tiveram alta de 86% na comparação com o último ano do governo de Michel Temer.
Com Bolsonaro presidente e Paulo Guedes ministro da Economia, a dívida bruta do Brasil recuou pela primeira vez em seis anos. Com Lula, ela voltou a crescer, atingindo R$ 8,1 trilhões ou 74,3% do PIB em 2023. Em 2022, era 71,7% do PIB. Enganam-se, porém, os que atribuem o número a um aumento excessivo de gastos por parte do governo petista. Na conta entram despesas com vencimento em 2022 e cujo pagamento foi adiado por Bolsonaro.
Talvez o melhor dos indicadores de 2023 em relação ao ano anterior tenha sido no mercado de trabalho. O número de trabalhadores com carteira assinada no setor privado aumentou 5,8%, o que significa um total de 37,7 milhões de empregos. O resultado é o mais alto da série histórica, iniciada em 2012. E mesmo com mais gente empregada, o que ao menos em tese deveria significar aumento da renda média, a percepção dos brasileiros não é das melhores em relação a Lula.
Segundo pesquisa Quaest divulgada na quarta-feira (6), é de apenas um ponto percentual a diferença entre a avaliação positiva do atual governo (35%) e a negativa (34%). Em dezembro, de acordo com o mesmo instituto, a diferença era maior: 36% contra 29%. A pesquisa traz dois dados importantes. O primeiro é que os indicadores econômicos, mesmo quando favoráveis, não bastam para criar uma imagem positiva do presidente. O que ele diz, sim. E talvez Lula esteja errando mais no discurso que na prática. A segunda conclusão decorre da primeira: o País segue tão polarizado quanto estava na última eleição. Se os dados mostram que as coisas estão de fato melhorando, faltam argumentos para convencer o povo brasileiro.