Fórmula E: sustentabilidade a mil
Com carros elétricos, a Fórmula E tem a missão de ampliar o debate sobre a necessidade da descarbonização e de trazer novas tecnologias ao mercado
Por Sérgio Vieira
A velocidade dos carros é bem parecida, causa impacto, mas o som dos motores é bem diferente. Nessa comparação, há um item em que a Fórmula E vence com tranquilidade a Fórmula 1: a sustentabilidade na competição. O tradicional sambódromo do Anhembi, em São Paulo, foi transformado em autódromo, no sábado (16), para receber a etapa brasileira da categoria de carros elétricos. Considerado o esporte mais sustentável do mundo, a Fórmula E já cumpre a meta de ser carbono neutro nas provas e trabalha para reduzir as emissões levando-se em conta todo o evento. “Somos o primeiro esporte a alinhar nossos alvos de descarbonização. Queremos, até 2030, ter reduzido em 50% as emissões de CO² em tudo que envolve o campeonato e não só apenas a corrida”, disse Julia Pallé, diretora global de sustentabilidade da Fórmula E.
Os carros são ‘abastecidos’ por meio de carregadores especiais fornecidos pela gigante suíça ABB, patrocinadora da modalidade, que garante 100% de energia para o veículo em apenas 15 minutos. A prova de São Paulo, por exemplo, teve duração de uma hora. Os carros até fazem uma espécie de pit stop, que resulta uma carga extra, mas com o objetivo principal de garantir também mais emoções à modalidade. “A ABB tem disponibilizado equipamento ultrarrápidos, que carregam os veículos em uma velocidade muito maior que o convencional. E esses equipamentos já começam a ser usados em grandes centros urbanos do mundo”, afirmou Luciano Nassif, presidente da ABB Brasil.
Uma das missões da categoria é ampliar o debate sobre a eletrificação da frota nas cidades, os benefícios ligados à descarbonização e ajudar na popularização da eletromobilidade. “A concepção da Fórmula E, quando foi criada, há 10 anos, sempre foi de também trazer essas tecnologias para que depois possam ser aplicadas no mercado. Essa é a grande conexão da categoria com a sociedade”, disse Nassif. “O propósito é de contribuir nesse conceito de cidades inteligentes.”
Levantamento do portal Neocharge, com base nos dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), mostra que o Brasil alcançou, no fim de 2023, a marca de 222.198 carros elétricos em circulação, com 60% de híbridos.
O estado de São Paulo lidera o ranking, com 32,6% do total (72.562), seguido pelo Rio de Janeiro, com 7% (15.543). Nos últimos 12 meses, o crescimento registrado no País chegou a 84%.
“Queremos, até 2030, ter reduzido em 50% emissões CO2 em tudo que envolve o campeonato e não apenas a corrida de Fórmula E.”
Julia Pallé, diretora global de Sustentabilidade da Fórmula E
O gargalo, no caso do Brasil, ainda está ampliação do serviço de infraestrutura elétrica, para suprir a necessidade do aumento significativo da frota deste tipo de veículo nas ruas e estradas do País. Isso inclui também o avanço do serviço de fornecimento de energia.
E justamente para ampliar o acesso para motoristas que já possuem carros elétricos, a ABB anunciou também a venda de 40 carregadores para a rede Graal, de conveniências em postos de combustível em estradas de São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Minas Gerais, que devem estar instalados ainda neste ano. “Esse tem sido o nosso grande desafio. E os grandes anúncios de investimentos de montadoras em carros elétricos mostra o avanço desse conceito de sustentabilidade na mobilidade urbana”, disse o executivo da ABB.
“A concepção da categoria sempre foi de trazer essa tecnologia para depois ser aplicada no mercado. Essa é a grande conexão da Fórmula E com a sociedade.”
Luciano Nassif, presidente da ABB Brasil
Ainda que movida a eletricidade e sem aquele barulho ensurdecedor de um carro a combustível fóssil, a emoção de assistir uma prova de Fórmula E e ver a disputa por posições lembra muito os tempos áureos da Fórmula 1.
A vitória na etapa brasileira da categoria foi do britânico Sam Bird, que ultrapassou o neozelandês Mitch Evans na última curva e cruzou a linha de chegada em primeiro. O brasileiro Lucas Di Grassi, que tem sido um embaixador da categoria no País, chegou em 13º. Uma vitória do piloto da equipe McLaren a mais de 300 km/hora. E sem poluir o meio ambiente.