Agrion inicia projeto inovador em usina de cana
Empresa vai desenvolver in loco fertilizantes organominerais a partir do biogás gerado pela parceira. Investimento chega a R$ 30 milhões, financiado via emissão de Certificado de Recebíveis do Agronegócio
Por Angelo Verotti
A Agrion Fertilizantes é uma empresa dedicada à pesquisa e ao desenvolvimento de fertilizantes organominerais e biológicos produzidos a partir de resíduos da cana-de-açúcar. E, desde novembro, está com projeto inovador em Minas Gerais. A companhia inaugurou a sua primeira fábrica de fertilizantes organominerais, com capacidade de produzir até 60 mil toneladas por ano. A iniciativa é resultado de investimento de R$ 30 milhões, assumidos integralmente pela Agrion e financiados com a emissão de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs).
O volume irá permitir adubar mais de 100 mil hectares de terras. “Somos a única empresa do mundo que faz isso dentro de uma empresa de cana-de-açúcar. Vamos usar a energia e o biogás gerados pela usina, a vinhaça, a torta de filtro e a água”, disse à RURAL Ernani Judice, CEO da Agrion. “É uma economia circular, uma sinergia muito grande.”
O projeto da Agrion é fruto de uma parceria firmada com a companhia Bioenergética da Aroeira, situada no município mineiro de Tupaciguara. A fábrica será instalada ao lado da usina Aroeira, parceira no fornecimento de insumos orgânicos, residuais do processo industrial (torta de filtro, vinhaça e energia).
Com a matéria-prima, a Agrion adiciona o trio de fertilizantes NPK e cria mais de 400 formulações, divididas em cinco linhas de produtos. “Temos um contrato de dez anos com a Aroeira, renováveis por mais dez. Assim, conseguimos acesso aos insumos e a usina tem prioridade no fertilizante, na formulação mais adequada”, afirmou o executivo.
“Somos a única empresa do mundo que faz isso dentro de uma fábrica de cana-de-açúcar.”
Ernani Judice, CEO da Agrion
Segundo Judice, a usina tem 40 mil hectares plantados com cana. O fertilizante não consumido pela usina será comercializado com fornecedores da unidade e outros produtores dentro de um raio de 200 quilômetros, de onde virá a maior parte dos recursos para monetizar o projeto.
O modelo de negócio da Agrion, de acordo com o CEO, segue uma lógica:
• a Agrion busca parceiros que ancorem a instalação da fábrica e forneçam os insumos básicos;
• na outra ponta, o parceiro vê seus custos logísticos e de aquisição de fertilizantes serem reduzidos.
A Agrion fica responsável por todo o investimento no projeto. As usinas parceiros não precisam fazer aporte algum. “Ela só assina esse contrato, que é um lastro para mim”, disse o CEO. “Faço o investimento, coloco de pé, opero, comercializo o fertilizante, e a usina é remunerada com a venda. Ela ganha dinheiro com a minha operação.”
Dos R$ 30 milhões aplicados inicialmente, o investimento direto foi de R$ 23 milhões, além de R$ 7 milhões captados para despesas pré-operacionais, treinamento pessoal, contratação, e capital de giro.
• O carro-chefe na nova fábrica será o fertilizante pellet, de liberação gradual, feito a partir de matéria orgânica proveniente da filtragem do caldo de cana – a chamada torta de filtro -, que será responsável pela produção de cerca de 30 mil toneladas por ano.
• Outros tipos de adubos serão produzidos no local, totalizando as 60 mil toneladas: o fertilizante em farelo; o líquido (feito a partir da vinhaça, outro subproduto da cana); os insumos biológicos; e o fertilizante mineral tradicional conhecido como NPK, único que não virá da usina Aroeira.
• Toda a produção atenderá a usina, fornecedores e mercados locais. “Em um futuro próximo eu vou entrar com fertilizantes foliares.”
Judice revelou que a proposta é replicar o modelo mineiro para ao menos 20 novas plantas nos próximos dez anos. A ideia parte da constatação de que o Brasil tem atualmente mais de 400 usinas de cana-de-açúcar. Pernambuco e São Paulo estão no foco, mas a Agrion pretende atuar principalmente nos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, além do Nordeste.
“Já temos 15 memorandos de entendimento assinados para fazer fábricas”, disse. A proposta é desenvolver dois projetos por ano, de preferência com usinas que moem anualmente, no mínimo, 1,5 milhão de toneladas de cana. “Tenho resíduos suficientes e normalmente sobra também para a usina.”
A estimativa, de acordo com o executivo, é que cada fábrica fature de R$ 150 milhões a R$ 200 milhões por ano, mas com um ramp-up de três anos para que a operação atinja plena capacidade. Cada operação tem em média 35 colaboradores e fica ativa no ano seguinte ao início da implantação da fábrica.