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“Tecnologia e IA podem ajudar, mas não substituem o valor da Educação”, diz Mauricio Soares, da Delos Bureau

Responsável pelo Fronteiras do Pensamento, executivo tem a missão de promover debates “sem partidos” e realizar a transformação digital da plataforma de conteúdo

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Mauricio Soares, responsável pelo Fronteiras do Pensamento e CEO da Delos Bureau (Crédito: Divulgação)

Por Letícia Franco

A rápida disseminação da inteligência artificial tem chamado a atenção de governos, empresas e usuários. Exemplo disso é o Parlamento Europeu, que aprovou em março a primeira legislação para regulamentar o seu uso. Neste cenário, a série de conferências Fronteiras do Pensamento promove, a partir deste mês, um debate fundamentado na pergunta-chave: “Quem está no controle?” Mauricio Soares, responsável pelo Fronteiras e CEO da Delos Bureau, empresa integrante da DC Set Group, disse que, além da busca pela resposta a essa indagação, outro assunto a ser discutido é a IA como ferramenta de auxílio para a população e a importância do investimento em Educação. Recém-chegado à marca, que está há 18 anos no mercado, o executivo tem a missão de promover debates “sem partidos” e realizar a transformação digital da plataforma de conteúdo.

Como o Fronteiras do Pensamento evoluiu no cenário cultural e intelectual durante esses 18 anos?
Construímos um projeto de credibilidade por meio de uma curadoria orientada pela combinação entre assuntos atemporais e aqueles que se tornam relevantes em determinado espaço de tempo. Nosso papel é, e sempre foi, o de ampliar a disseminação de conhecimento. E, com a evolução da tecnologia e a chegada da pandemia, expandimos para o on-line e atendemos a necessidade de transformar a audiência em uma comunidade com interações e trocas constantes.

Quais os principais temas abordados nas edições e como eles refletem os desafios contemporâneos?
Muitos assuntos permeiam as conferências, desde literatura e filosofia até temáticas mais latentes, como tecnologia e economia. Essa é a grande química do Fronteiras: promover o debate a partir da combinação entre temas atemporais e o contexto atual. Já tivemos mais de 300 conferencistas, como Thomas Piketty, autor do livro O capital do século XXI; Manuel Castells, da obra A Sociedade em Rede; e Graça Machel, ativista e viúva de Nelson Mandela.

Como o Fronteiras se posiciona no cenário atual, marcado pela polarização?
O mundo está polarizado por muitos motivos, como a política, e nós temos um olhar atento às diferentes linhas de pensamento, que de certa forma influenciam e ajudam a explicar o mundo e o país em que vivemos. Não somos uma torcida e sim um agente que traz à mesa um debate construtivo, saudável e sem partidos, com intenção de construir novas ideias, sempre valorizando a diversidade.

“Quem está no controle?” é o mote da edição deste ano. Como isso se relaciona com as discussões sobre inteligência artificial?
Atualmente, um ponto crucial da IA são as implicações éticas de um desenvolvimento tão acelerado dessa tecnologia. Isso traz preocupações sobre o quanto estamos controlando esse processo e o quanto somos passageiros nele. Além disso, a inteligência artificial geral, que passa a ser autônoma em uma série de aspectos, baseia-se em dados produzidos e publicados por humanos. Sendo assim, pode reproduzir vieses problemáticos, como a reprodução de estereótipos. É importante gerar uma discussão em torno dessas preocupações e pensar como construir um padrão saudável de desenvolvimento, incluindo os dilemas da regulamentação.

Como a IA pode ser utilizada para resolver problemas globais?
IA é uma ferramenta que pode servir ao intelecto humano para que possamos chegar a lugares maiores. Nós mesmos ainda não temos respostas. Então, não podemos pensar que, agora, a IA assume um papel central. É fato que pode ajudar com volumes informações que a mente humana não consegue realizar com a mesma eficiência, como grandes cálculos e interpretações. Porém, existe uma série de pessoas para direcionar seu uso, até para que se implemente padrões éticos. Devemos utilizá-la como uma ferramenta de impulsionamento para a resolução de problemas.

Em que contexto está a tecnologia para a Educação?
A tecnologia é muito importante para a Educação, mas não substitui seu valor. O caminho para alcançarmos um futuro melhor, sem desigualdades, é o investimento e valorização de toda a jornada de Educação, especialmente o nível de Educação Básica em um país no qual muitas pessoas ainda não têm acesso à Educação e sofrem as consequências disso. Por meio da Educação, podemos estimular transformações, inclusive digitais, de maneira sólida e consistente, visando resultados a médio e longo prazos. Nesse sentido, estamos desenvolvendo o Fronteiras Educação, um material digital que reúne nossos conteúdos e que deve ser distribuído em escolas do ensinos fundamental e médio.

Qual a expectativa da plataforma Fronteiras+, lançada recentemente e que faz parte da transformação digital da marca?
O Fronteiras+ foi lançado em outubro do ano passado a partir da necessidade de cada vez mais trabalhar o senso de comunidade na nossa marca. É um serviço que oferece acesso aos conteúdos do acervo histórico e também programas inéditos, como o Mundo Livro, um clube de leitura mensal. Com essa plataforma, nosso objetivo é democratizar mais essa proposta de disseminação de conhecimento por meio do digital. Além de criar uma dinâmica de troca, deixando de ser uma palestra de “um para muitos” e promover uma experiência mais fluida e interativa para toda e qualquer pessoa interessada em ampliar suas fronteiras de conhecimento e formação de pensamento crítico.

Considerando o boom da IA, como você avalia o papel do projeto para criar um debate amplo e acessível sobre os impactos dessa tecnologia?
A inteligência artificial é um tema onipresente e diante de tantas transformações, é fundamental disseminar cada vez mais o conceito dessa tecnologia e seus impactos na sociedade. Sendo assim, buscamos ampliar o conhecimento por meio de três frentes: conferências presenciais, plataforma de conteúdo on-line e parcerias com instituições de ensino para disponibilizar nossos conteúdos.

A frente da marca desde fevereiro deste ano, quais são as estratégias para o projeto e a plataforma Fronteiras+?
O principal desafio é honrar a história construída até aqui, sem deixar de pensar em transformações e atualizar a proposta de valor e DNA. Não é porque chegamos aos 18 anos de uma maneira positiva que os próximos anos serão assim. A relevância do projeto depende da construção de uma ponte entre passado e futuro no presente, valorizando a intelectualidade, a curiosidade e a inquietação para evoluir continuamente. Tenho a missão de consolidar a transformação digital e trazer novos públicos, principalmente os mais jovens. A máxima é não pregar apenas para os convertidos, mas evangelizar novos segmentos de público.

O que deve orientar os debates da sociedade nos próximos anos, e consequentemente, do Fronteiras?
Apesar de ser um tema presente, acredito que a tecnologia de uma maneira geral deve seguir em alta, especialmente a inteligência artificial, que diferentemente do metaverso se mostrou uma ferramenta muito mais estrutural e estruturante. Também aposto que as questões ambientais serão ainda mais uma prioridade da sociedade. Vejo que estamos numa linha tênue entre abordá-la de forma pragmática e romantizada ao mesmo tempo. É necessário entender que precisamos buscar prosperidade da humanidade e que temos necessidade. Porém, a natureza vem mostrando, cada vez mais, seus limites.