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ESG, o novo etecetera nos currículos profissionais

Atraídos pela propaganda de cifras infladas, cerca de 330 milhões de pessoas consultaram o Google para saber “quanto ganha um profissional ESG”. Se você está nessa estatística, aqui vão cinco conselhos úteis

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Ricardo Voltolini: "Ninguém é obrigado a trabalhar numa empresa que desdenha a empatia e o cuidado, a diversidade e a inclusão, o respeito ao outro e ao planeta" (Crédito: Divulgação)

Por Ricardo Voltolini

Uma amiga referência na área costuma dizer que ESG tornou-se o novo etecetera em muitos currículos profissionais. Quem há de discordar? Basta uma olhada no LinkedIn para concluir que, usada sem o devido critério, a sigla (originária do inglês para Ambiental, Social e Governança) transformou-se numa espécie de competência-chave para esses tempos de emergência climática, um sinal do desejo ou compromisso de trabalhar em empresas mais éticas, transparentes, cuidadosas em relação às pessoas e ao meio ambiente.

Na origem do explosivo interesse pelo tema, há razões geracionais e mercadológicas: campo de múltiplas possibilidades para quem quer conciliar carreira com propósito, ESG é uma justa aspiração das novas gerações de profissionais (Millennials e Z). Além disso, representa um vistoso mercado de oportunidades, para profissionais novos e experientes, o que explica a recente profusão de especialistas vindos das mais diversas áreas corporativas. O Google me informa que 550 milhões de pessoas pesquisaram sobre “como entrar no mercado de ESG” em todo o mundo. Cerca de 330 milhões quiseram saber “quanto ganha um profissional ESG”, atraídos pela propaganda de cifras infladas que criam uma realidade quase paralela. Isso significa uma consulta a cada 0,27 segundo.

Se você está entre os milhões de interessados na área, deixo aqui cinco recomendações sinceras que provavelmente nenhum mentor vai se lembrar de fazer na íntegra.

1.Reconheça o que não sabe, seja polímata

Antes de mais nada, deixe muito claro no currículo os pedaços do ESG que você domina. E em relação aos que não domina, estude e se aprofunde. Há diferentes oportunidades para desenvolvimento no tema. Lembre-se: ESG é multidisciplinar, complexo e sistêmico. Não se presta a respostas simplistas. Aceite o desafio de ser um polímata, isto é, alguém que aprende muito em diferentes áreas de conhecimento.

2. Pratique valores e atitudes ESG

Aproprie-se da sua consciência. Bote os seus valores pessoais para jogo. Ninguém é obrigado a trabalhar numa empresa que desdenha a empatia e o cuidado, a diversidade e a inclusão, o respeito ao outro e ao planeta. Lição aprendida: o que define a potência ESG de uma empresa não é a sua capacidade de responder questionários de ratings mas quanto os valores ESG estão incorporados à cultura, impactam positivamente os stakeholders e mudam, de verdade, a maneira de pensar e fazer negócios.

3. Atue com e para empresas orientadas por valores

Desconfie de empresas que mais preocupadas em obter reconhecimento externo do que com o fortalecimento da cultura de valores ESG. Duvide das que não desenvolvem líderes e colaboradores, não valorizam a intersecção entre os propósitos pessoais e o propósito corporativo, e não conectam planos de ação com a agenda 2030 da ONU.

4. Questione o walk the talk

Não subscreva, sem crítica, as famosas contradições entre o discurso e a prática. O walk the talk (fazer o que se diz) é um preceito de ESG. É seu papel profissional questionar sempre que perceber incoerências desconfortáveis, ou notar que as conveniências do negócio estão sendo colocadas acima de/ou contra os interesses da sociedade e do meio ambiente.

5. Exercite a escuta ativa

Como escreveu Shakespeare, a verdade está sempre no meio. Ouvir com disciplina e interesse genuínos ajuda a compreender melhor e incorporar expectativas de todos os públicos de interesse. Fortalece materialidade. Contribui para a prevenção. Reduz riscos de incompreensões que costumam gerar graves crises corporativas.