Um BBB corporativo
Ao monitorar a atividade dos colaboradores, ferramentas digitais ajudam a mapear o fluxo de trabalho nas empresas, detectar gargalos e identificar lideranças ocultas nos times
Os gestores das empresas sempre conviveram com uma dificuldade de tirar o sono: identificar, nas equipes que chefiavam, quem eram os jovens talentos que deveriam ser retidos antes que a concorrência os descobrisse. E, por outro lado, quem eram os gargalos da produtividade, aqueles que atrapalhavam o fluxo de trabalho e prejudicavam a performance do time? O ambiente corporativo evoluiu muito nas últimas décadas, mas as ferramentas para medir a performance dos funcionários durante muito tempo permaneceram as mesmas.
Agora, com a transformação digital e os novos estudos de administração de empresas, essas dúvidas cruéis parecem prestes a acabar. Os especialistas, com ajuda da tecnologia, já conseguem mapear as empresas e identificar os motores e os freios das equipes. É um Big Brother corporativo, no melhor sentido possível.
Nos últimos anos, os especialistas em administração avançaram na metodologia ONA (sigla em inglês para Análise de Redes Organizacionais), que estuda o relacionamento entre os funcionários como se fossem pontos de uma rede, mapeando por onde a informação e o fluxo de trabalho são transmitidos, e entendendo melhor as dinâmicas entre as diversas áreas. A teoria, desenvolvida por especialistas como Rob Cross, do Babson College, logo foi incorporada por consultorias em suas análises. Mais recentemente, esses levantamentos passaram a ter a ajuda de softwares.
TRANSFORMAÇÃO
Há poucos meses chegou ao Brasil a primeira metodologia digital desse tipo. O Connect_in foi desenvolvido pela iN, uma consultoria paulista especializada em cultura corporativa e cultura de marca. “A partir da ferramenta, os executivos e gestores de RH podem entender melhor as dinâmicas das equipes, escalar times mais eficazes e estruturas mais ágeis, além de ativar as pessoas com maior potencial para liderar processos de transformação”, afirmou Vinicius Buso, diretor de estratégia da iN.
Segundo ele, tudo isso gera resultados, como aumento de sinergias, desbloqueio de relações e processos internos. E, no final, um desempenho melhor. Até agora, duas empresas já utilizaram a ferramenta da consultoria em processos de reorganização interna.
À medida que a análise das redes das empresas vai se difundindo, suas aplicações vão aumentando. Em São Francisco (EUA), a startup Confirm anunciou que passaria a usar a ferramenta de análise para fazer a avaliação de performance e a definição dos bônus de seus funcionários e executivos. “Acreditamos em quebrar os sistemas arcaicos de avaliação e trazer a ciência para a gestão das equipes”, disse Josh Merrill, CEO da empresa.
Em um mundo onde há cada vez mais trabalho remoto ou colaborativo, e projetos multidisciplinares que envolvem com frequência pessoas em departamentos e cidades diferentes, saber em tempo real o que cada um faz no expediente parece ser o caminho para extrair o melhor das equipes.