O ativista que chacoalha os alicerces do Clube do Mickey
Por Norberto Zaiet
Nelson Peltz é um investidor ativista raiz. Com estilo agressivo, o fundador da Trian Fund Management é conhecido por identificar empresas que, apesar de estarem temporariamente performando abaixo dos pares e da indústria, são capazes de produzir resultados significativamente maiores por meio de mudanças profundas na gestão operacional e estratégica.
Capitanear mudanças em empresas estabelecidas de grande porte não é um trabalho simples. Em geral, são companhias com controle pulverizado e cuja estratégia funcionou por muito tempo até que, pouco a pouco, seu dia a dia toma vida própria e fica mais importante do que a criação de valor para o acionista e para o cliente. São empresas criadas há muitos anos, que possuem posição dominante ou extremamente relevante em seus mercados. Elas acabam sendo engolidas pelo pensamento de grupo, onde as decisões são tomadas de determinada maneira pela simples razão de que, no passado, era dessa maneira que atuavam e foi assim que se tornaram dominantes. Aí, a realidade acaba se transformando e a companhia deixa de estar na vanguarda – passa, então, a ser reativa. Nesse processo é comum que troquem os pés pelas mãos: aquisições a preços muito acima da capacidade de retorno do investimento, estratégias atabalhoadas no lançamento de novos produtos, maior corporativismo e variações desses temas.
Em muitos casos, a quebra desse processo somente acontece quando agentes externos conseguem influenciar as decisões. Para que isso aconteça, o tal agente externo precisa ter muito dinheiro para brigar, e apetite para a briga. Eis que entra em cena Nelson Peltz.
Com histórico extremamente positivo em empresas gigantes e dominantes como
Procter & Gamble, Wendy’s e GE, Nelson Peltz se associou a acionistas influentes e relevantes da Disney que, sozinhos, não tiveram a força necessária para implementar mudanças na gestão
Com histórico extremamente positivo em empresas gigantes e dominantes como Procter & Gamble, Wendy’s e GE, no caso da Disney Peltz se associou a acionistas influentes e relevantes, mas que, sozinhos, não tiveram a força necessária para implementar mudanças na gestão. A volta de Bob Iger como CEO da companhia há cerca de um ano reforçou, nesses acionistas, a sensação de que a diretoria está sem rumo. Pior que isso, acreditam que não há solução em vista. Entendem que Iger não terá condições de desmontar uma estratégia que ele mesmo ajudou a colocar de pé durante seus muitos anos no comando da empresa.
Como acionista, acho que Iger, e somente ele, tem domínio suficiente sobre o monstro que criou. Só ele pode desmontá-lo a fim de torná-lo mais leve, simples de conduzir e, ao final, maximizar a geração de caixa. No entanto, vejo com bons olhos a entrada de um ativista, ou mais de um, no conselho: gente de fora provoca, cutuca, cria senso de urgência e bate de frente com o corporativismo. Acredito que Iger no comando e alguém como Peltz incomodando no dia a dia é a receita para a falta de performance atual. Esse foi o meu voto.
Mesmo sem nenhum ativista ainda no conselho, a empresa acusou o golpe. A “proxy fight” que está em curso tem sido violenta. A briga tem chegado ao corpo a corpo com investidores de todo tamanho: cada voto vale, mesmo que o acionista tenha uma única ação da companhia. Múltiplas ligações telefônicas, e-mails e pressão total no jogo do convencimento.
Quando este artigo for publicado, já saberemos o resultado. Seja quem for o vencedor, uma coisa está clara: do jeito que está, não vai ficar. A pressão por performance é grande, e mudanças vão acontecer no trimestre a trimestre. Ganha o acionista, ganha o cliente, ganha a gestão e perde o corporativismo do clube do Mickey. Que assim seja.
Norberto Zaiet é economista, ex-CEO do Banco Pine e fundador da Picea Value Investors, em Nova York