Securitização pode render aos cofres públicos R$ 180 bilhões “pra ontem”
Venda de dívidas de entes federados pode ser alternativa de arrecadação sem precisar aumentar ou criar impostos
Por Paula Cristina
Alternativa bastante usada no mercado de capitais, a venda de dívidas, crédito tributários e não tributários é uma solução eficiente para empresas que precisam de grandes volumes de dinheiro de modo célere. Agora, a Câmara dos Deputados estuda uma solução similar para aumentar a arrecadação de estados e municípios sem precisar onerar o governo federal ou elevar impostos. O Projeto de Lei Complementar (PLP) 459/2017, já aprovado no Senado, pode render R$ 180 bilhões aos cofres públicos no curto prazo.
A estimativa feita pela UnB a pedido ex-senador José Serra, considera, em valores correntes, dívida passível de venda na ordem dos R$ 360 bilhões (ou 10% do total devido pela União, estados e municípios em janeiro de 2024).
Pelas estimativas da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, as dívidas poderão ser vendidas por até 50% do valor integral, quando o inadimplente tem histórico de bom pagador. Para vender, o ente federado cederá os créditos tributários ou criará uma Sociedade de Propósito Específico (SPE) como se dá com empresas privadas.
Tramitando em regime de urgência na Câmara, o assunto está sob relatoria do deputado Alex Manente (Cidadania-SP), que diz já ter recebido apoio à proposta por parte do governo. “É uma proposta bastante relevante e que aumenta a arrecadação de estados e municípios sem precisar elevar impostos”, disse.
Segundo o deputado, um dos termos do PL é que todo valor obtido por meio da venda das dívidas seja dividido da seguinte forma: 50% para investimento direto e 50% para a Previdência Social.
O parlamentar afirmou que tem trabalhado para que as discussões sobre o texto sejam finalizadas ainda em abril, de modo que a aprovação e sanção do projeto ocorram ainda neste semestre.
Encabeçando essa jornada está o governador do Estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que tem falado diretamente com o deputados do estado. “É um texto que agrada grande parte dos parlamentares por ser benéfico para o ente público e interessante para o privado”, disse Manente.
Mesmo com o otimismo de Manente, no mercado ainda há mais dúvidas que certezas sobre o tema. Questões como métrica de validação de bons pagadores, e riscos de comprar dívidas de estados e municípios menores podem tornar menos apetitoso o assunto para quem investe. O consultor tributário Sérgio Lessa, por exemplo, cita ser, nesse momento, mais interessante investir em precatório, por se tratar de uma dívida já com o trânsito em julgado.
BATALHAS VENCIDAS
O tema da securitização da dívida ganhou força em meio a uma batalha envolvendo prefeitos e governo federal, desde que o presidente Lula, em outubro passado, sancionou a Medida Provisória da reoneração da folha de pagamento dos municípios e causou uma celeuma nas prefeituras.
Pelas novas regras, o benefício tributário deixaria de ser para 5,3 mil municípios e valeria para 2,5 mil cidades. Segundo o Ministério da Fazenda, as isenções chegam a custar R$ 10 bilhões ao ano. Não demorou para que os prefeitos iniciassem uma pressão direta ao Congresso Nacional, para que eles não votassem a MP, deixando que ela perdesse a validade, como aconteceu noa segunda-feira (1º de abril).
A contragosto do governo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, após a matéria caducar, voltou a reforçar a necessidade do Legislativo ser parte das soluções para as contas públicas. “O trabalho que nós estamos fazendo junto ao Congresso é no sentido de convencer os parlamentares de que precisamos encontrar fonte de financiamento das despesas criadas”, disse.
A Confederação Nacional dos Municípios (CNM), que liderou a pressão pela queda da MP, já mira a próxima batalha. Segundo Paulo Ziulkoski, presidente da CNM, o governo federal ainda estuda formas de renorar a folha. Por isso, disse ele, a Confederação organiza uma mobilização nacional de prefeitos em Brasília.
Uma caminhada longa, que até pode começar na capital federal, mas que deve correr todos os rincões do Brasil.