Mulheres à frente da transição circular
Por Beatriz Luz
No Brasil e no mundo, as mulheres estão ocupando cada vez mais postos de liderança. Nas empresas, na indústria, em cargos públicos e na ciência: estamos presentes em espaços que vêm se tornando mais diversos e, com isso, vamos quebrando padrões existentes, estimulando hábitos diferentes e incentivando novos modelos de desenvolvimento e comportamento. É natural, portanto, ver as mulheres à frente da transição para a economia circular, provocando um olhar disruptivo com soluções que envolvem a união de vários elos da cadeia produtiva.
Foi em 2019, durante um evento da COP 25, na Espanha, que percebi, pela primeira vez, a quantidade de mulheres que estavam tomando para si a missão de questionar o modelo produtivo atual, trazendo novas ideias e habilidades para o debate, a fim de promover uma mudança de mentalidade coletiva.
O status quo atual foi estabelecido desde a Revolução Industrial por lideranças masculinas. O que vivemos agora é uma nova era, e não uma era de mudanças. Mudanças acontecem frequentemente ao longo da nossa evolução, mas uma mudança de era acontece quando alteramos consideravelmente a forma com que produzimos, consumimos e nos relacionamos. A era da conectividade requer um olhar transformador para pessoas, dados, recursos e processos. Diante das crises climáticas, da escassez de matéria-prima e dos rastros de poluição resultantes da atual lógica de exploração de recursos, produção, consumo e descartes, precisamos, urgentemente, avaliar as estruturas existentes e pensar em formas de adaptá-las.
As mulheres trazem uma perspectiva mais abrangente, integradora e cuidadosa para a tomada de decisões. A lógica feminina é mais equilibrada e colaborativa. Diante de demandas cada vez mais diversas e frequentes, as mulheres desenvolveram múltiplas habilidades e um olhar sistêmico, pontos fundamentais à transição circular. Para o fortalecimento das cadeias reversas e novos modelos de negócio — como compartilhamento, reparo e reuso —, é essencial unir os vários elos da cadeia produtiva e entender as necessidades de cada parte envolvida, para estimular novos formatos de negociações e promover soluções em escala.
Porém, mudar o status quo, por mais urgente que seja, não é fácil e requer constante aprendizado, flexibilidade e resiliência. Esta não é uma realidade só do Brasil e foi por isso que, após a COP25, informal e inconscientemente, uma rede de apoio e trocas foi estabelecida entre nós, mulheres, com o grupo das ‘Circular Sisters’.
No Brasil, a liderança das mulheres na economia circular já é reconhecida, inclusive, na esfera governamental. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) criou um grupo chamado “Elas na Economia Circular”, reunindo lideranças femininas de diversos setores para debater a elaboração da Estratégia Nacional de Economia Circular. O intuito é garantir que a estratégia reflita diferentes pontos de vista, necessidades atreladas à perspectiva de gênero e oportunidades de negócios que podem ser gerados sob um novo paradigma.
As mulheres trazem uma perspectiva mais abrangente, integradora e cuidadosa para a tomada de decisões. A lógica feminina é mais equilibrada e colaborativa. Diante de demandas diversas, as mulheres desenvolveram múltiplas habilidades
Isso não quer dizer que só as mulheres devem participar do processo. Pelo contrário, o objetivo é abrir as portas para a mudança e convidar a todos para sentarmos juntos, com mais diversidade, nos conselhos de administração e diretorias, em empresas e governos, considerando novas fronteiras de análise, relações e retornos de investimento.
A transição é desafiadora e requer disposição, força e união. Economia circular não se faz sozinho e, para quebrar o status quo, a força feminina é peça-chave. Seguiremos todos juntos.
Beatriz Luz é fundadora e diretora da Exchange 4 Change Brasil e do Hub de Economia Circular Brasil