O perigo do social washing

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Jorge Sant’Anna: "Quantos de nós ainda acreditam que a inclusão dos vulneráveis é uma responsabilidade exclusiva do governo?" (Crédito: Divulgação)

Por Jorge Sant’Anna

No último dia 10 de abril, tivemos em São Paulo o evento de premiação do GPTW (Great Place To Work®) Diversidade 2023. Foi impressionante ver a energia e o brilho nos olhos das centenas de participantes, motivados pelo tema da Diversidade e Inclusão. A vitalidade e empenho demonstrados pelas empresas e executivos presentes revelam a tração que o tema vem conquistando no meio empresarial no Brasil.

Está cada vez mais evidente que a diversidade não é mais apenas uma questão de opção para as empresas e sim uma condição de sobrevivência. Importante ter em mente que a diversidade em si não é capaz de impulsionar a inovação ou mesmo produtividade se não estiver acompanhada da real inclusão. Podemos por uma simples decisão ampliar a diversidade em nossas empresas. No entanto, incluir é outra história, muito mais complexa.

A inclusão depende da inteligência cultural individual e corporativa. Inteligência cultural é exatamente a nossa capacidade de respeitar e se adaptar às interações com pessoas de culturas diferentes (diferenças explícitas ou não) e usar essas distinções a favor da construção de relações positivas.

Portanto, elevarmos o índice de inteligência cultural em todos os níveis é fundamental. Para isso, temos de desmontar nossos vieses cognitivos, aquelas armadilhas inerentes ao nosso processo decisório, que nos impõe certos desvios e simplificações nos princípios de racionalidade (heurísticas), levando-nos às avaliações erradas. David Livermore, no livro Driven by Difference: How Great Companies Fuel Innovation Through Diversity, endereça o tema com muita profundidade, deixando claro as dificuldades do processo, que vão muito além das vitorias e conquistas iniciais.

D&I e ESG estão intimamente relacionados. D&I ganham um enorme impulso com a expansão das práticas de ESG no mundo todo.

No que diz respeito à Governança Corporativa, o Brasil tem obtido avanços bastante consistentes. Diferentemente de diversas outras jurisdições, como resultante do arcabouço regulatório, os membros do conselho de administração podem inclusive ser responsabilizados penalmente por atos ilícitos cometidos no exercício de suas funções. Cada vez mais a governança se consolida como uma prática moderna e fundamental.

Também no vetor sustentabilidade a evolução é visível, práticas sustentáveis estão se tornando condição básica para o financiamento, sobretudo internacional. A discussão aqui é muito ampla e vem ganhando muita maturidade no meio empresarial e na sociedade como todo.

Para criarmos uma sociedade diferente no longo prazo, nós, líderes, temos de mergulhar no assunto de verdade, colocando-nos a serviço de forma prática e não retórica. Quantas vezes discutimos as questões sociais que nos cercam e que cercam as nossas empresas, de maneira real e prática, em nossas reuniões de conselho e de diretoria? Quantos de nós ainda acreditam que a inclusão dos vulneráveis é uma responsabilidade exclusiva do governo? Quantos ainda preferem não enxergar o óbvio?

Ser líder empresarial vai muito além das fronteiras de sua empresa, sobretudo em uma sociedade tão desigual com a nossa.

Eu ficaria extremante feliz e realizado se na próxima edição do GPTW pudéssemos ver também o ranking das empresas que mais investem em ações sociais verdadeiras, ações de inclusão e desenvolvimento de vulneráveis. Na prática. Com certeza o poder de indução do GPTW traria muita tração também para essa realidade tão aviltada no Brasil. Como meu pai sempre dizia: “Não existe despertador silencioso. Quanto maior seu sono, mais barulho ele tem de fazer para te despertar”. Meus caros líderes, é tempo de despertar.

Jorge Sant’Anna é diretor-presidente e cofundador da BMG Seguros e membro do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Bancos