Sustentabilidade e equidade: desafios e oportunidades para o desenvolvimento

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Raphael Vicente: "A adoção de práticas empresariais que priorizem a diversidade e a sustentabilidade pode atrair investimentos internacionais, interessados em atuar em mercados que valorizem a responsabilidade socioambiental" (Crédito: Divulgação)

Por Raphael Vicente

O Brasil enfrenta o desafio de alinhar crescimento e sustentabilidade, especialmente sob a ótica dos critérios Ambientais e Sociais (ESG). A integração destes critérios não só propõe uma nova trajetória para o desenvolvimento sustentável, mas também ressalta a necessidade urgente de abordar questões sociais profundas, como a discriminação racial, que ainda persistem fortemente no país.

A discriminação racial no Brasil é um dos grandes desafios da nossa sociedade, a qual manifesta-se tanto no acesso desigual às oportunidades econômicas quanto em disparidades sociais. Os negros ocupam menos espaço no mercado de trabalho formal e, quando empregados, recebem salários significativamente menores que seus colegas não negros. Esta desigualdade compromete o potencial econômico do país, pois limita a contribuição de uma grande parte da população ao desenvolvimento nacional.

Além disso, não existe ESG sem o cuidado com as pessoas em situações de vulnerabilidade, uma vez que os problemas ambientais se manifestam de maneiras que afetam desproporcionalmente as populações mais vulneráveis. A poluição do ar é um grave problema urbano, exacerbado pelo intenso tráfego de veículos e pela atividade industrial. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, várias metrópoles brasileiras frequentemente excedem os limites recomendados para partículas poluentes no ar.

Adicionalmente, a falta de áreas verdes e espaços públicos nessas regiões agrava a qualidade do ar e limita as oportunidades de lazer e atividade física, essenciais para a saúde pública.

Em muitas áreas urbanas, a coleta e processamento de lixo são ineficientes, o que leva à acumulação de resíduos em áreas públicas e corpos d’água. Isso não só contribui para a proliferação de doenças transmitidas por vetores, como mosquitos e roedores, mas também impacta diretamente a qualidade de vida das comunidades vulneráveis.

Frequentemente, essas comunidades estão situadas em locais susceptíveis a inundações, que podem ser exacerbadas pelo entupimento de canais e drenagens com lixo acumulado. A exposição a essas condições ambientais adversas perpetua ciclos de pobreza e marginalização, limitando as oportunidades de desenvolvimento econômico e social para esses grupos vulneráveis, que em regra são compostos em sua maioria por pessoas negras.

Portanto, é crucial que o Brasil implemente políticas que enfrentem tanto as desigualdades sociais quanto os desafios ambientais de maneira integrada. Medidas de inclusão racial, programas de empoderamento econômico para comunidades marginalizadas, e investimentos em infraestrutura verde, como a ampliação de áreas verdes urbanas e sistemas de transporte público eficientes, podem mitigar esses impactos ambientais e sociais simultaneamente.

Os benefícios dessas ações são diversos, incluindo a redução da vulnerabilidade ambiental, o fortalecimento da economia pela integração justa e sustentável de mais pessoas ao mercado de trabalho e a promoção de uma sociedade mais equitativa. A participação efetiva de todos os segmentos da população no desenvolvimento econômico não apenas é um imperativo moral, mas também uma estratégia eficaz para o crescimento sustentável.

Além disso, a adoção de práticas empresariais que priorizem a diversidade e a sustentabilidade pode atrair investimentos internacionais, interessados em atuar em mercados que valorizem a responsabilidade socioambiental. Essa abordagem pode colocar o Brasil em uma posição de liderança na América Latina, transformando desafios em oportunidades de desenvolvimento e inovação.

Assim, enquanto a integração dos critérios ESG no cenário econômico brasileiro apresenta desafios, também oferece uma oportunidade única para reformular o desenvolvimento nacional de forma inclusiva e sustentável. A chave para este progresso reside na criação de políticas que não somente atendam às necessidades econômicas imediatas, mas que também promovam a justiça social e a preservação ambiental a longo prazo, garantindo um futuro próspero para todos os brasileiros. Assim, sustentabilidade e equidade devem caminhar juntas, como pilares para um Brasil mais justo.

Raphael Vicente é Diretor Geral da Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial, pós-doutorando em Administração Pública e Governo pela FGV, professor e Diretor Geral da Universidade Zumbi dos Palmares